Os Templários nasceram em França por volta de 1120 na região de Champagne. Desde logo a Ordem Militar do Templo viria a tornar-se uma das mais importantes da Europa Cristã medieval. Criada para proteger os peregrinos aos lugares santos, não foi de todo inocente a sua ação, que ultrapassou muito este objetivo para se fixar também numa certa “vontade ofensiva” de conquista de alguns desses lugares.
Os Templários nasceram na dependência dos Cónegos do Santo Sepulcro, vindo rapidamente a autonomizar-se com a liderança do seu primeiro Grão Mestre, Huges de Payns.
Os Templários, Freires de Cristo ou Freires do Templo de Salomão como também eram designados, associaram à sua consagração religiosa a profissão dos conselhos evangélicos de Pobreza, Castidade e Obediência, o compromisso de entregar a sua vida em favor da proteção dos peregrinos e da defesa da Cristandade contra a ameaça do poder islâmico que afrontava os cristãos.
A Ordem do Templo, tal como muitas outras ordens militares como a de Santiago, a de Calatrava, a do Hospital e a de Avis, cooperava com os exércitos dos reis e senhores cristãos nas cruzadas contra o chamado “Infiel” tanto no Médio Oriente e como na Península Ibérica, procurando reconquistar os territórios de antigo domínio cristão, entretanto conquistados pelos muçulmanos. Em Portugal foi decisiva a sua ação no cerco de Santarém e de Lisboa, assim como na reconquista do Reino dos Algarves
Estas ordens militares funcionavam como uma espécie de tropa de elite bem treinada e altamente motivada, cuja participação nas batalhas decidia muitas vezes o sentido da vitória.
Claro que estes serviços não eram de todo desinteressados, pese embora os votos iniciais da Ordem. Foram largamente recompensados com a atribuição de bens, nomeadamente terras, castelos e outras regalias, que tornariam essas ordens poderosas e influentes. Em Portugal, além do papel fundamental desempenhado pela Ordem do Templo, na reconquista cristã e, por consequência, na formação de Portugal, teve um papel relevante no povoamento e controlo do território conquistado aos Mouros. E assim foi, ao longo de duzentos anos em que a Ordem se foi tornando cada vez mais poderosa
De tal maneira assim foi que o constante acumular de riquezas e poder como contrapartida dos seus serviços, tonou a Ordem poderosa e influente, muito para além do que pretendia o Rei, como representante do poder instituido na época.
A Ordem do Templo acabou por ser submetida a uma perseguição trágica que conduziria à sua extinção, semelhante com o que viria acontecer, mais tarde, com a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal pela mão do Marquês de Pombal, e noutras monarquias europeias no século XVIII, acabando com a sua extinção universal em 1773 pelo papa Clemente XIV.
O processo antitemplário foi liderado pelo Rei de França, Filipe, o Belo, que conseguiu a conivência do Papa de então, Clemente V, para considerar a Ordem do Templo culpada de desvios e faltas graves. De tal modo que o monarca francês logrou, embora hoje sem sabermos com certeza se com provas justas, obter do Papa a extinção desta Ordem e até a condenação das suas mais importantes lideranças, culminando com a morte na fogueira do seu último Grão-Mestre, Jacques de Molay, em 1314.
O processo tinha começado em 1308 com uma bula papal enviada aos príncipes cristãos para clarificar a situação dos Templários e declarar a necessidade da sua extinção, seguida de outra bula, emitida em 1309, a ordenar a prisão dos Freires de Cristo e, finalmente, da bula “Ad Providum”, de março de 1312, a decretar a anexação dos significativos bens desta Ordem e a transferi-los para a posse da Ordem do Hospital.
Portugal: uma situação
diferente
No entanto, D. Dinis, que então reinava em Portugal, resistiu a aceitar a diretiva papal que mandava extinguir a Ordem do Templo, consciente do relevantíssimo serviço que tinha prestado e continuava a prestar na defesa e povoamento do território português. Mas não era só essa a razão,
Por isso os Templários não podia ser extintos e foi por isso que com uma ação diplomática de grande visão e alcance, D. Dinis conseguiu obter do Papa uma solução para acatar a extinção, mas sem extinguir de facto esta Ordem de elite, cuja dispensa não convinha à estratégia política do Reino de Portugal, consciente dos conhecimentos e segredos que os Templários possuíam e que ajudavam de forma decisiva os seus planos.
a brilhante jogada
diplomática de d. dinis
A solução passou apenas pela mudança do nome. Mantiveram-se os mesmos efetivos, os bens e a estrutura organizativa, mas mudou-se o nome da Ordem que passaria a ser “Ordem de Cristo” . Com esta brilhante jogada de diplomacia, D. Dinis salvou os Templários que passaram a ser integrados na Ordem de Cristo, no fundo, o nome novo da Ordem do Tempo ou dos Cavaleiros de Cristo.
Sabemos hoje quão importante e decisivo foi este empenho político de D. Dinis em evitar a extinção dos Templários em Portugal. Mais tarde, a “herdeira” Ordem de Cristo liderará a promoção de uma das empresas mais importantes e significativas de toda a História de Portugal: as viagens marítimas de descobrimento. Através da liderança de um dos mais famosos Grão Mestres da Ordem de Cristo, o Infante D. Henrique, Portugal ficou na história universal como o primeiro império global da humanidade e o pioneiro da construção da globalização e foi a Ordem de Cristo que tutelou, no século XV, todo o longo e complicado processo das descobertas.