Portugal continua a apresentar das mais elevadas taxas de novos diagnósticos de infeção por VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) e de incidência de SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS, sigla original em inglês) registadas na União Europeia, revela um relatório da DGS. Hoje assinala-se o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA.
Dados recolhidos pela Direção-geral da Saúde (DGS) a 30 de junho deste ano, revelavam que, em 2017, ocorreram 1.068 novos diagnósticos de infeção por VIH. Este número, corresponde uma taxa de 10,4 novos casos por 105 habitantes.
A Área Metropolitana de Lisboa foi a que registou a maior taxa de novos casos: 17,4 por 105 habitantes, acumulando 46,4% dos novos diagnósticos de infeção por VIH em 2017. Portugal foi o país de naturalidade referido em 67% dos casos em que se dispunha dessa informação, revela o relatório ‘Infeção VIH e SIDA’ relativo a 2017.
Seis municípios da Área Metropolitana de Lisboa estão entre os 10 concelhos do país com taxas mais elevadas de diagnóstico de infeção por VIH nos últimos cinco anos (de 2013 2017), informa o relatório da DGS, onde se incluem também o Porto e Portimão.
A quase totalidade dos diagnósticos (99,6%) ocorreu em indivíduos com 15 ou mais anos de idade, com predomínio de casos do sexo masculino. A idade média das pessoas diagosticadas foi de 39 anos, mas 28% dos novos casos foram diagnosticados em indivíduos com idades iguais ou superiores a 50 anos.
A taxa mais elevada de novos diagnósticos observou-se, entretanto, no grupo etário dos 25 aos 29 anos (24,8 dos casos por 105 habitantes), taxa que nos homens das idades referidas atinge o valor de 38,9 casos por 105 habitantes, revela o relatório da DGS.
Da autoria de Helena Cortes Marins, do Departamento de Doenças Infeciosas (INSA) do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge em colaboração com Isabel Aldir, do Programa Nacional para a Infeção VIH e SIDA da Direção-geral da Saúde, o relatório mostra que a Área Metropolitana de Lisboa registou uma taxa de 17,4 novos casos por 105 habitantes, acumulando 46,4% dos novos diagnósticos de infeção por VIH em 2017. A maioria dos diagnosticados, mais de 60%, é natural de Portugal.
Taxas elevadas de infeção por VIH…
Portugal continua a apresentar das mais elevadas taxas de novos diagnósticos de infeção por VIH e de incidência de SIDA registadas na União Europeia (UE ), destaca o relatório, indicando, porém que essas taxas “apresentam tendência decrescente que, em análise comparativa do número de casos com diagnóstico nos anos 2007 e 2016, foi de 40% nos casos de infeção por VIH e de 60% em novos casos de SIDA”.
Os dados obtidos para os mesmos anos mostraram que o número de casos de transmissão heterossexual e em UDI (utilizadores de drogas injetáveis) sofreu uma redução de, respetivamente, 45% e 90%.
Em sentido inverso, houve um aumento de 29% no número de casos em HSH (homens que tiveram relações sexuais com homens), “que desde 2015 são em número mais elevado que os registados de homens heterossexuais”, lê-se no documento.
Em acréscimo, constatou-se que nos novos casos com diagnóstico entre 2013 e 2017, em homens de idades entre 15 e 29 anos, 79,8% eram HSH, enquanto, no mesmo período, 82,2% dos casos em indivíduos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 50 anos referiam transmissão por contacto heterossexual.
A forma de transmissão predominante foi o contacto sexual e os casos de transmissão heterossexual e em HSH representaram, respetivamente, 59,9% e 38,3% dos novos casos com informação disponível. Os casos em utilizadores de drogas injetadas constituíram 1,8% do total de novos casos com informação, considerado “um mínimo histórico”.
Outra questão em que Portugal perde em relação à União Europeia em geral é no diagnóstico da doença. Por cá, “a percentagem de diagnósticos tardios mantém-se superior à observada na UE, com particular relevância nos casos em heterossexuais”, alerta o relatório.
… e incidência de SIDA
Em 2017, 64,7% dos diagnósticos de SIDA ocorreram em casos de transmissão heterossexual e a doença definidora de SIDA mais frequentemente referida, nos casos relativos às principais formas de transmissão, foi a pneumonia.
Nos novos casos de SIDA diagnosticados em 2017, em indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, a idade mediana foi de 47 anos, observando-se no grupo etário 40 a 49 anos a incidência mais elevada de SIDA: 4,2 casos de SIDA por 105 habitantes.
Foram também notificados 261 óbitos em 2017 em pessoas com infeção por VIH, das quais 134 em estádio SIDA.
O aumento do número de casos em HSH de idades jovens e a elevada percentagem de diagnósticos tardios, em particular em heterossexuais foram, nos anos mais recentes, as situações a precisar de intervenção mais premente.
“O conhecimento das características da epidemia ao nível municipal possibilitará uma melhor adequação das estratégias de mitigação e controlo da epidemia às particularidades de cada cidade, de modo a contribuírem eficazmente para o atingimento dos objetivos ONUSIDA 90-90-90 em cada uma dessas áreas geográficas, complementando a estratégia nacional”, alerta o relatório ‘Infeção VIH e SIDA’.
Ana Grácio Pinto