Portugal não está a fazer recolha de produtos germinais de cães de raças autóctones, admitindo a Direção-Geral de Veterinária a ausência deste material do Banco Português de Germoplasma Animal.
A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) afirma que a situação se deve “exclusivamente ao facto de o gestor dos livros das raças não efetuar doações”.
Contudo, a presidente do Clube Português de Canicultura (CPC), associação que gere os livros das raças (registos oficiais), sublinha que esta não é detentora nem possui animais, “pelo que não pode fazer doações do que não tem”.
Sendo “somente a entidade que regista no Livro de Origens as raças caninas de raça pura pertença de criadores ou detentores de canídeos”, o CPC “pode, tão só, proceder à sensibilização daqueles titulares de canídeos para facultarem voluntariamente o material genético”, declarou Carla Molinari.
Para a presidente do CPC, cabe à “entidade a quem compete essa recolha” indicar “quem, como e onde deverá ocorrer a mesma”.
“Não foi solicitado pela DGAV até à presente data qualquer colaboração deste clube na obtenção ou recolha de material genético para o Banco Português de Germoplasma”, declarou.
O Banco Português de Germoplasma Animal existente no polo de Santarém do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) assegura, com a DGAV, “a recolha e manutenção de germoplasma – nomeadamente sémen, embriões, células somáticas e DNA – de todas as raças nacionais de animais domésticos”, como consta da página eletrónica da instituição.
Os cães não estão classificados como animais domésticos, mas sim como animais de companhia. A DGAV assegura que “não há qualquer restrição ao armazenamento de produtos germinais obtidos de cães de raças autóctones”, atribuindo essa ausência ao facto de não existirem doações.
A classificação como animais de companhia impediu ainda que as raças caninas nacionais fossem incluídas nas medidas do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020 para manutenção das raças autóctones em risco e para conservação e melhoramento de recursos genéticos animais.
Segundo a DGAV, “o apoio à manutenção de raças autóctones em risco visa contribuir para a melhoria da viabilidade económica das explorações pecuárias em zonas rurais com poucas alternativas, para a melhoria do ambiente e da paisagem rural, tendo em conta os sistemas extensivos a que estão associadas”.
Nesse sentido, afirma, consultou a Comissão Europeia para incluir os cães nestas medidas, já que “a maioria das raças autóctones de cães portuguesas é de cães pastores de guarda, independentemente de serem animais de companhia”.
“No entanto, a resposta foi negativa. Portugal voltará a tentar incluir estas raças no próximo Quadro”, salienta a DGAV.
Para o investigador do INIAV José Ribeiro, “falta diversidade genética” nas raças de cães portuguesas, existindo “elevada consanguinidade”.
“São necessários estudos que avaliem geneticamente cada raça, despistando anomalias e que permita a definição de diferentes linhas de sangue para que se possam estabelecer programas de gestão e seleção para garantir a continuidade”, disse.
O investigador defende a criação de apoios para a inventariação e identificação das raças, bem como o levantamento genético das raças portuguesas e a recolha de material genético de linhas que haja interesse em preservar.