A colisão entre o comboio Alfa Pendular e um camião, dia 23 de Abril, numa passagem de nível perto de Vale Santarém, que provocou a morte do condutor do veículo pesado depois de várias tentativas de desencarceramento, ocorreu no mesmo local, e em circunstâncias idênticas ao de há pouco mais de três anos, quando um camião pesado ficou preso dentro da passagem de nível e foi abalroado por um comboio, segundo publica o jornal PÚBLICO.
Nesse acidente, ocorrido a 8 de Novembro de 2016, o motorista e o seu ajudante, em vez de fugirem quando viram que as barreiras tinham baixado, procuraram levantá-las para tentar retirar o camião no que se revelou fatal para o ajudante de motorista.
A investigação do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF) revelou que, atendendo às características da estrada naquele local (com curvas apertadas no acesso à passagem de nível), um camião longo precisa de mais tempo para atravessar a via-férrea do que aquele que o comboio demora a chegar ao local. Ou seja, o camião demora mais tempo a passar do que o comboio a chegar.
O relatório do GPIAAF identifica até a discrepância, em termos de segundos, que haveria de corrigir. Depois de terem feito testes na passagem de nível com um camião com as mesmas características, os peritos concluíram que um veículo pesado “demora, no mínimo, 25 segundos a atravessar o canal ferroviário, pelo que, nas condições determinadas para o funcionamento da passagem de nível, a meia barreira do sentido oposto atingirá sempre o veículo desde que o atravessamento seja iniciado até nove segundos antes desta ser activada por um comboio em aproximação”.
O mesmo documento refere que “a passagem de nível foi automatizada [há cerca de 15 anos] sem estar previamente garantida que a configuração da via rodoviária onde aquela se insere não implicava constrangimentos ao cumprimento dos requisitos legais estipulados quanto ao tempo máximo do seu atravessamento”. Em alternativa, sugere, a estrada deveria ser interdita a veículos longos incompatíveis com os constrangimentos daquela passagem de nível.
Nessa altura, a Infraestruturas de Portugal informou o GPIAAF que aquela passagem de nível deveria ser suprimida (e substituída por uma ponte), “no âmbito do programa Ferrovia 2020, a executar caso se verifique a existência de verbas disponíveis”. O Ferrovia 2020, que tinha sido apresentado em Fevereiro daquele ano, previa executar a modernização da linha do Norte na zona de Santarém (com a total supressão de passagens de nível) entre 2019 e o primeiro trimestre de 2020. Mas ainda nem foi lançado o concurso público.
Há ainda uma recomendação à Câmara Municipal de Santarém para que, em articulação com a IP, “no mais curto espaço de tempo possível implemente na via rodoviária onde a passagem de nível se insere as alterações adequadas com vista a assegurar que as condições de atravessamento sejam compatíveis” com todo o tipo de veículos. Uma recomendação que obrigaria a suavizar as curvas da estrada municipal no acesso à passagem de nível, devendo-se intervir num talude junto à estrada.