É considerado um dos mais importantes trabalhos inspirados na expedição que resultou na descoberta do Brasil. A exposição ‘Aquarelas do Descobrimento’, do artista brasileiro Carybé, com obras baseadas na Carta de Pero Vaz de Caminha, saiu pela primeira vez do Brasil e pode ser vista em Lisboa, no Palácio da Independência.
Inaugurada a 9 de março, ao Palácio da Independência, no Rossio, a exposição ‘Aquarelas do Descobrimento’, foi agora prolongada até junho, devido ao sucesso de público.
As 52 obras inspiradas na Carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei Dom Manuel I informando sobre “o achamento desta vossa terra nova”, o Brasil, recebeu mais de 1.500 visitantes.
“É a primeira vez que esta exposição sai do Brasil. Foi em Lisboa que nossa história comum começou e foi no porto da capital portuguesa que a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral, que levava o escrivão Pero Vaz de Caminha, saiu”, lembrou Solange Bernabó, curadora da mostra e filha de Carybé, aquando da inauguração da exposição.
O sucesso de público levou a Embaixada do Brasil em Portugal a prolongar até 1 de junho a mostra renomado artista plástico brasileiro, prevista para encerrar a 4 de maio.
“Tínhamos a expectativa que o ineditismo da exposição em Portugal, somado à qualidade e ao sentido histórico das obras, atraísse grande público ao longo do período da mostra. Mas ultrapassar 1.500 visitantes logo nos primeiros dias foi uma feliz surpresa e, diante dessa demanda, decidimos pela prorrogação da exposição”, afirmou o Embaixador do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo Machado.
Aquarelas sobre o ‘nascimento’ do Brasil
As 52 obras em formato 50x40cm emolduradas com vidro e passe-partout são versões aguareladas sobre o registo mais antigo da existência do Brasil: a Carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei D. Manuel I, poucos dias depois do “achamento” do Brasil.
“Em cores vivas e traços leves, Carybé deu vida aos momentos mais marcantes da narrativa portuguesa sobre o Brasil: a navegação da esquadra; o avistar das terras; o primeiro contato entre portugueses e índios; a troca de culturas; a primeira missa”, destaca uma nota de divulgação da exposição, enviada ao ‘Mundo Português’
Originalmente, os desenhos foram feitos em tinta nanquim e publicados em preto e branco no livro ‘Carta a El Rey Dom Manuel’, uma releitura do documento histórico idealizada em 1968 pelo escritor Rubem Braga, por altura dos 500 anos de nascimento de Pedro Álvares Cabral.
Rubem Braga, amigo e compadre do pintor, descreve na introdução do livro: “esta edição, pela sua natureza, não comporta notas nem glossário. A novidade verdadeira que ela traz, e que a justifica, são os 52 desenhos que a ilustram, do cidadão baiano Carybé” .
Solange Bernabó recorda que o seu pai “foi um exímio desenhista e aquarelista, arte aparentemente simples, mas que exige maestria técnica e não permite correções”.
“Partindo do relato escrito por Caminha, usou sua imaginação e conhecimento, para transformá-lo em imagens, dando-nos a sensação de termos testemunhado os acontecimentos que há mais de cinco séculos deram origem ao Brasil”, afirma ainda sobre o trabalho de Carybé.
Relação com o Brasil é central nas obras de Carybé
Hector Julio Páride Bernabó, conhecido como Carybé, nasceu em Lanús, Argentina, em 1911. Passou a infância e a adolescência no Rio de Janeiro. Viajou depois pelo mundo até regressar ao Brasil em 1949. Naturalizou-se brasileiro oito anos depois e viveu em Salvador até a sua morte, em 1997.
As suas obras retrataram sempre a relação do artista com o Brasil, como o mapa do Brasil personalizado que decorava os aviões Electra II, da Varig, nos anos 60, e os murais em fachadas de prédios comerciais de vários estados brasileiros.
Fora do Brasil, tem obras em vários países, como os dois painéis que retratam a diversidade cultural do continente americano e a conquista do oeste que adornam o Aeroporto Internacional de Miami, nos EUA.
Ou ainda o quadro ‘São Sebastião’, no acervo dos Museus do Vaticano e uma pintura no Castelo de Balmoral, residência de férias da Rainha Elizabeth II, em Escócia.
Carybé também ilustrou livros de autores como Gabriel García Márquez, Pierre Verger e do seu grande amigo, Jorge Amado.
Carybé – Aquarelas do Descobrimento em Lisboa
Palácio da Independência
Largo de São Domingos, 11, Rossio (Ao pé do Teatro Nacional Dona Maria II)
De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; sábado, das 11h às 21h
Entrada gratuita