Já é costume: todos os dias de Natal, o Peter Café Sport abre as portas para brindar com amigos e clientes. Costuma ser de manhã, mas este ano a festa começou às 17.30 (uma hora mais em Portugal Continental), com um bolo de grandes dimensões, vinho quente, o gin que se tornou referência na Horta, rodeados de amigos, clientes e gente do Faial. Comemorou o seu centenário 100 anos e foi mesmo num dia de Natal que tudo começou. Nem o atual proprietário e terceiro membro da família – José Henrique Azevedo sabe porquê.
José Henrique é a terceira geração de Azevedos à frente do Peter, mas a quarta geração de comerciantes nesta rua. O bisavô era dono da Casa Açoreana, uma loja de artesanato que ainda no século XIX se mudou para a atual rua para estar mais perto do porto. Já vendiam bebidas alcoólicas, mas em 1918, Henrique Azevedo abriu Café Sport na porta ao lado.
Foi o amor ao desporto que levou Henrique a batizar a casa com este nome. “Gostava muito de desporto – futebol, ténis, pólo aquático”. Hábitos que traziam os seus primeiros clientes – os ingleses, alemães, italianos e outros estrangeiros trabalhavam na montagem de cabos submarinos. “As companhias estrangeiras influenciaram muito a ilha culturalmente, e no desporto também. A Horta foi a cidade onde as mulheres começaram a praticar desporto”, diz José Henrique Azevedo. Com eles nasceu também o hábito do gin, muito antes da bebida ter entrado
O negócio acabaria por ficar nas mãos do seu pai, José Azevedo, conhecido como Peter, o nome que lhe foi dado por um inglês para quem trabalhou antes de tomar as rédeas do negócio familiar e de acrescentar o nome ao Café Sport. Depois da II Guerra Mundial, José ‘Peter’ Azevedo ganhou fama, por mais do que o gin servido aos expatriados. Era a sua hospitalidade que deixava marca, conta José Henrique, seu filho. “Os barcos chegavam e as pessoas não podiam sair porque era preciso um médico. Faziam-nos esperar, o meu pai apresentava-se, perguntava como tinha corrido a viagem. Pedia os passaportes, dizia que ia procurar um médico amigo, conseguia os carimbos, eles podiam sair. Havia uma festa de receção no Peter e no dia seguinte ajudava a comprar o que precisavam e com o que fosse preciso arranjar no barco”.
“Claro que não era como hoje, não havia casa de banho, vinham barbudos, descalços, malcheirosos, mas eram sempre bem recebidos. O meu pai percebeu que eram cultos, educados, com dinheiro”, diz José Henrique Azevedo. “Indicava-lhes os banhos públicos e passado uma hora já estava tudo bem”, relata.
Se o Café Sport já tinha fama, mais granjeou. As cartas começaram a ser enviadas para o estabelecimento. “Se os correios recebiam dez, nós recebíamos 100, porque quem chegava à sexta-feira à tarde, podia logo ler o que lhe escreviam, sem ter de esperar por segunda-feira. E é muito melhor receber logo as cartas e com uma cerveja fresca à frente”, explica José Henrique Azevedo, 58 anos, ao telefone com o DN. Trabalha aqui desde os 18, mas desde os oito, que, rezam as fotos da época, trabalha no Peter. Nessa época, limpava o pó das mesas e recebia chocolates em troca. Era, também, a sua maneira de ver o pai.
A Horta é um porto abrigado e o que recebe mais iates em toda a Europa, faz questão de explicar José Henrique. “Há portos maiores, mas com menos barcos”, diz. “É um sítio onde quem trabalha na vela se sente livre”. Nas Caraíbas ou na Europa estão com os patrões ou com os clientes, aqui é onde estão completamente livres, com outros colegas da mesma profissão”. E o Peter é, diz o seu proprietário, “uma referência para quem viaja de barco.
Em 2009, num concurso destinado a avaliar bares náuticos ficaram em primeiro lugar. “Somos um bar muito conhecido”, constata José Henrique Azevedo “.