São 28 os trabalhadores luso-venezuelanos que António Silvestre Ferreira, proprietário da Herdade Vale da Rosa, foi buscar à Ilha da Madeira, e que chegaram a Portugal fugidos da violência e da falta de tudo no seu país.
Ao português falado pelos trabalhadores nacionais e ao inglês dos trabalhadores estrangeiros, maioritariamente de países asiáticos, ouve-se há cerca de quatro meses uma outra língua na Herdade Vale da Rosa, em Ferreira do Alentejo. É o espanhol dos 28 trabalhadores luso-venezuelanos que António Silvestre Ferreira, proprietário da empresa, foi buscar à Ilha da Madeira, e que chegaram a Portugal fugidos da violência e da falta de tudo no seu país. Foi a “eficiência e a garra” que atribui a emigrantes portugueses e aos seus descendentes que o fez não ter dúvidas quando decidiu “ir buscar os nossos”, como os chama, para a sua empresa. “Primeiro porque são muito competentes, e tenho que pensar na eficiência do Vale da Rosa; e depois porque o faço com todo o agrado”, assegura.
Michel Fernandes tem 28 anos. Os avós portugueses que regressaram há anos à Ilha da Madeira. Em julho de 2017 também este luso-descendente de 28 anos aterrou no arquipélago. Para trás, diga-se a Venezuela, ficaram os pais e o irmão. E a insegurança, a falta de perpetivas e uma crise que parece não ter fim. Michel vivia em Ocumare del Tuy, cidade do estado de Miranda.Trabalhou com o pai, dono de três farmácias na Venezuela, mas voltar ao seu país natal, apenas de férias, para visitar familiares e amigos.
Desde 17 de julho deste ano, Michel Fernandes é um dos 28 luso-venezuelanos contratados por António Silvestre Ferreira, proprietário da Herdade Vale da Rosa, que trabalham naquela empresa agrícola produtora e uvas de mesa gourmet. Faz parte do primeiro grupo que o próprio António Silvestre Ferreira foi selecionar na Ilha da Madeira. É lá que esá a grande parte dos portugueses e lusodescendentes oriundos da Venezuela que fugiram à crise naquele país. Segundo o governo madeirense, no primeiro semestre deste ano, eram já 4151 pessoas.
Michel Fernandes era um deles. Diz que veio de férias, e ficou. “Consegui um trabalho na Madeira e depois apareceu a oportunidade do Vale da Rosa e vim para cá”. Não se arrepende de ter agarrado a oportunidade. “Tenho que agradecer ao Vale da Rosa, gosto muito de trabalhar aqui. Tanto pelos responsáveis da empresa, quanto pelos colegas de trabalho, fui muito bem acolhido”. Diz que ajuda muito ter outros venezuelanos como colegas. “Falamos a mesma língua, temos uma cultura comum e damo-nos bem”, assume, mas, logo de seguida faz questão de dizer que “há muito boa vontade” da parte dos portugueses para com eles.
Agora, espera ver o contrato renovado e continuar assim a “grande aventura” que Portugal tem sido para este lusodescendente. “É uma aventura maravilhosa”, acrescenta.
Uma aventura que agradece a António Silvestre Ferreira. O proprietário da Herdade Vale da Rosa sabe o que é ter que começar ‘do zero’ noutro país que não o seu. O grande responsável pelas portas abertas na sua empresa aos luso-venezuelanos, foi também ele, emigrante: viveu mais de 20 anos no Brasil.
Foi a “eficiência e a garra” que atribui a emigrantes portugueses e aos seus descendentes que o fez não ter dúvidas quando decidiu “ir buscar os nossos”, para a sua empresa. “Primeiro porque são muito competentes, e tenho que pensar na eficiência do Vale da Rosa; e depois porque o faço com todo o agrado”, assegura.
“Somos nós, as pessoas, que fazemos as coisas. Se estiver estimulado para as realizar bem, o Homem faz coisas maravilhosas. No nosso caso, em que a mão-de-obra representa mais da metade de todos os nossos custos, se nós conseguirmos profissionalizar e empolgar o nosso pessoal, por forma a que façam o seu trabalho com o coração, nós teremos sucesso”, defende. Foi com esse objetivo em mente que se deslocou à Madeira, para tratar, pessoalmente, da vinda dos luso-venezuelados para a sua empresa. A “tragédia na Venezuela”, como se refere, não o deixou indiferente e já há três anos que tentava contratar luso-venezuelanos. Foi à procura “dos nossos”, até porque não foi o único da família a emigrar, por conta do 25 de Abril. “Eu fui para o Brasil, mas o meu irmão mais velho foi para a Venezuela”, revela.
“No fundo, somos uma família”
David é um dos mais novos do grupo de luso-venezuelanos no Vale da Rosa. Tem 23 anos, está em Portugal há pouco mais de um ano e não veio sozinho. David Duarte e Laura Casadiego, de 21 anos, são casados, vieram juntos e juntos estão num dos contentores transformados em habitação, neste caso o que dá acolhimento às mulheres (ver caixa na página 4).
Fugiram da violência de Valência, cidade a cerca de hora e meia de distância da capital venezuelana, e foram até à Ilha da Madeira, onde estiveram cerca de oito meses e trabalharam no que surgisse. Nada relacionado, porém, com as profissões que exerciam na Venezuela – ele designer gráfico, ela designer de moda.
Neto de uma madeirense e de um aveirense, David já conhecia Portugal, fruto das viagens de férias com os pais. Mas nunca imaginou que, um dia, o país dos avós passaria a ser também o seu. Na hora de vir tentar a vida em Portugal, a escolha foi a Ilha da Madeira, por lá ter a avó.
“A crise do país é muito grande, mas o problema principal foi a insegurança. Tinha medo de sair de casa, olhava para todos os lados”, conta o lusodescendente que trabalhava numa empresa de marketing e publicidade. “Trabalhávamos os dois nas nossas áreas, empregos muito bons, mas a insegurança era cada vez maior”, explica, acrescentando que também já começavam a sentir a falta de medicamentos e de capacidade para atendimento nos hospitais.
Mas foi mesmo a violência que ditou a ‘fuga’. David diz que se cansou de contar as vezes em que foi assaltado. “Na última vez, o rapaz que me assaltou mostrou a arma e eu ri. Não me ri dele, foi espontâneo porque pensei: ‘outro assalto, outra vez?”. E não tinha nada para lhe dar, nem telemóvel, nem dinheiro. Levou-me os óculos. E aí, cansei-me. Foi então que falei com a Laura, com a minha família e aqui estamos”.
Estão ambos no Vale da Rosa desde julho último, vieram também no primeiro grupo de luso-venezuelanos a chegar à herdade. Não se queixa, pelo contrário. E não importa que esta não seja a sua área de formação. “É um trabalho muito bom, gosto, e a verdade é que também gosto muito das pessoas, fomos bem recebidos”.
E quando chegam as saudades da família, de casa, do país, há sempre uma palavra amiga, em espanhol, dos colegas luso-venezuelanos, que sabem o que isso é. “Apoiamo-nos uns nos outros”, resume.
A família também está, aos poucos, a vir. O pai está em Aveiro e a irmã mais nova no Porto, a estudar. A mãe e a outra irmã estão mais reticentes quanto a deixar a Venezuela. A mãe porque “tem muito lá” e parte da família. A irmã porque “tem a casa e o trabalho”. Diz que “é difícil” ver a familia repartida mas não perder a esperança de os ver todos juntos, em Portugal. E a Venezuela? “Neste momento, e durante muito tempo, não. Vai ser complicado”.
Se David ainda tem por cá a avó, o pai e uma irmã, Laura só tem o David. Não é lusodescendente e toda a sua família ficou na Venezuela, onde trabalhava como designer de moda para a produtora que organizava, entre outros eventos, o concurso de Miss Venezuela. Mas apesar de trabalharem na área em que estudaram, faltava “qualidade de vida”. Traduzindo-se: insegurança e um alto custo de vida. “Falta muita coisa e a insegurança é muito grande. Na Venezuela é normal teres medo de sair à rua; depois de uma certa hora, tens que estar em casa. Há muita delinquência, é tudo muito complicado”, explica.
Não perdeu a esperança de ver melhores dias para o seu país, o que a leva a ver Portugal ainda como um lugar de passagem. Mas lá vai dizendo que “se for a vontade de Deus que fique por cá”, gostaria então de ir para o Porto, onde há mais oportunidades de fazer cursos e trabalhar na área do desenho de moda.
Para já, os olhos estão postos na Herdade Vale da Rosa onde trabalha no controle de qualidade. E agradece a oportunidade e “a paciência que todos tiveram” para com eles, para utrapassarem as dificuldades da diferença linguística e do desconhecimento das funções que desempenham. “Aqui, no Vale da Rosa, olhamos uns pelos outros. No fundo, somos uma família”.
ANTÓNIO SILVESTRE FERREIRA Fui para o Brasil numa situação difícil, muito sofrida” António Silvestre Ferreira cresceu em Ferreira do Alentejo. O pai, natural de Torres Vedras, ia para aquela região negociar vinho (que levava para o Alentejo) e regressar com cereais. Construiu depois um armazém de vinhos e radicou-se no Alentejo. Dedicou-se à lavoura e teve muito sucesso: foi fazer regadios para uma região onde a água era um bem escasso. “Era muito arrojado, um jovem muito valente”, sublinha o filho. Quando se deu o 25 de Abril, as propriedades da família em Ferreira do Alentejo foram nacionalizadas e a António Silvestre, então um jovem médico veterinário, restou ir para o Brasil. |
“Faltavam medicamentos”
Orácio Gonçalvez tem 34 anos e também é natural de Valência. Está há pouco tempo Portugal: chegou à Madeira a 16 de abril deste ano. Filhos de madeirenses naturais da freguesia de Campanário, deixou na Venezuela os pais, os cinco irmãos e um trabalho em marketing, a sua área de formação.
A motivação de Orácio destoa das outras pessoas com quem o ‘Mundo Português’ falou. Não foi a insegurança que o levou até à Madeira e depois até Ferreira do Alentejo. Foi a doença da mãe, que sofre de uma insuficiência cardíaca grave. Um problema que se agravou, quando os medicamentos começaram a escassear na Venezuela.
“Não sabia como conseguir os medicamentos que minha mãe tinha que tomar diariamente. Mesmo tendo dinheiro para os comprar, não conseguia encontrá-los em nenhuma farmácia. Vim então para Portugal, para trabalhar e poder enviá-los, para que não morra”, revela. Já conseguiu o seu objetivo, mas, na altura em que contou esta sua história, ainda não sabia a mãe chegaria a receber a encomenda que lhe enviou, porque, pelo caminho, explica, há o risco de alguém “a abrir e ficar com ela”.
Está no Vale da Rosa há quase dois meses e agradece a oportunidade, porque na Madeira é difícil encontrar trabalho, “foram quatro meses a tentar”. Assegura que gosta do que faz na herdade, onde tem “uma equipa de trabalho muito boa” e sente-se um pouco como se estivesse na sua área. “O que faço tem um pouco de marketing, porque tem a ver com a escolha do produdo”. A tranquilidade de Portugal também conquistou este lusodescendente que quer mesmo ficar por cá. Voltar, só se “acontecer um milagre” e o seu país voltar a oferecer a segurança e a qualidade de vida que perdeu.
“Porque o problema não é só a violência. Não há médicos, não há hospitais a funcionar bem, não há medicamentos. Não há alimentos, há gente a morrer à fome e a delinquência, em muitos casos, é de pessoas que invadem casas para roubar comida e dar às suas famílias”, sublinha Orácio, que tem um único desejo. “Era preciso que o regime mudasse imediatamente e que os outros países se unissem e fizessem algo pela Venezuela, que noutros anos ajudou outros países e, agora, estão a deixar o país só”.
Na Herdade Vale da Rosa, Orácio e os restantes 27 lusodescendentes encontraram trabalho e ainda uma possibilidade de se integrarem definitivamente na empresa. A intenção de António Silvestre Ferreira é ficar com quase todos os atuais 28 trabalhadores luso-venezuelanos e integrá-los nos quadros. “Ainda outro dia, um operador de uma das nossas máquinas, muito complexa, quis sair. E seria complicado encontrar outro que já a soubesse operar. Entre os luso-venezuelanos há um engenheiro eletrotécnico e foi ele que assumiu a função”, conta.
O empresário sabe que nem todos podem querer ficar. Vieram para a colheita e embalamento das uvas, num contrato de cinco meses. Depois, haverá os sete meses de trabalho no campo. “Precisamos de pessoas que também tenha disponibilidade para trabalhar no campo e nem todos terão essas características, mas penso que a maior parte vai querer ficar”, espera.
Onde moram os luso-venezuelanos Há pouco mais de quatro meses o Vale da Rosa construiu, num terreno da empresa cercado com um muro, um núcelo de contentores para acolher os trabalhadores luso-venezuelados. À primeira vista, a palavra contentor pode fazer duvidar da qualidade do alojamento, mas não é o que se trata. São estruturas grandes, com uma cozinha totalmente equipada, um pequeno espaço de sala, casa de banho e e quartos com beliches. A lavandaria é comum aos dois alojamentos e obriga a que façam turnos para utilizarem as máquinas de lavar roupa e os ferros de engomar. Nota-se o cuidado com a limpeza, apesar de no espaço das mulheres haver vasos de flores e quadros na parede. Homens e mulheres estão em contentores separados, mas foi aberta uma exceção a David e Laura, o único casal do grupo, que está a viver no alojamento feminino. Se no alojamento masculino há um cartaz a pedir “respeito mútuo”, no feminino há dois quadros na parede: num escreve-se “dedicação”, noutro “felicidade”, em português, espanhol e inglês. Há em ambos um fogão, um forno e um micro-ondas, mas todos se conseguem organizar na hora de preparar as refeições. Até porque, sublinham, há sempre presente o espírito de partilha… |
Mais cem trabalhadores
Mas o empresário está já a pensar na próxima produção e tem em mente contratar mais cem luso-venezuelanos, com o objetivo de fazer destes, “colaboradores durante todo o ano”. “Depois, na altura dos trabalhos ‘em verde’, na preparação da colheita e na própria colheita, que duram seis ou sete meses, vamos precisar de alguns centos de pessoas”, revela ainda.
Nos seus 250 hectares de vinha, a Herdade Vale da Rosa produz atualmente seis mil toneladas de uvas de mesa por ano, comercializadas em Portugal e exportadas para 12 países, mas com a possibilidade de produzir oito mil toneladas anuais, quando todas as vinhas estiverem em plena produção. Além disso, neste momento, a Herdade do Vale da Rosa está a duplicar a área de produção, com o objetivo de nos próximos cinco anos, chegar aos 500 hectares de vinha e a uma produção de 15 mil toneladas de uvas de mesa.
Com cerca de 800 trabalhadores, é o maior empregador da região. A contratação dos lusodescendentes veio ajudar a colmatar a falta de mão-de-obra no Alentejo. A empresa organiza anualmente um almoço antes de iniciar a colheita. Este ano, contou com 637 trabalhadores. “Perguntar-me-à o que farão mais de 600 pessoas nas vinhas antes da colheita. Eu respondo: fazem qualidade, porque como Vale da Rosa tem por objetivo criar um produto gourmet, os cachos de uvas têm que ser trabalhados na vinha durante o seu crescimento e, para tal, precisamos de muita gente”.
Dos 637 trabalhadores, mais de 200 são estrangeiros de vários países, principalmente asiáticos e o norte de África. Em comum têm o facto de não falarem português, o que dificulta a transmissão de ensinamento. Já os luso-venezuelanos, para além de falarem uma língua próxima do português, muitos reconhecem palavras em língua portuguesa. “Por isso, ter cá luso-venezuelanos que querem recomeçar as suas vidas, tão qualificados, com tanta vontade de trabalhar e mostrar o seu valor, é para nós um privilégio”, assume o comendador António Silvestre.
Para já, os 28 lusodescendentes que trabalham no Vale da Rosa, já alteraram a vida da pequena aldeia de Alfundão, onde estão alojados. Os comerciantes da terra viram aumentar o consumo e o supermercado local já alargou o horário de funcionamento para os atender.
Marcos Gonçalvez chegou à Ilha da Madeira a 13 de maio e está no Vale da Rosa desde julho. Na Venezuela ficaram a mulher e o filho de 16 anos. Na Madeira tem os pais, que regressaram há três anos, depois de quatro décadas na Venezuela. No seu país, este engenheiro de sistemas tinha uma empresa de informática e ainda um negócio de venda de câmeras da videovigilância.
Teve que fechar o negócio, pela dificuldade em importar os produtos e em conseguir dólares, a moeda de negociação, para pagar os artigos. Não viu outra saída a não ser emigrar para o país dos pais, e ali, recomeçar. Mesmo que não seja na sua área de formação e de trabalho. Isso, para Marcos, é o que menos importa. Até porque percebeu que terá dificuldades em conseguir cá o reconhecimento do diploma universitário venezuelano, porque a universidade onde estudou “deixou de existir”.
“Quero é trabalhar, não ando por aí a dizer que sou engenheiro informático, isso não me importa. Só quero trabalhar”, sublinha Marcos acrescentando que o objetivo está definido e passa por ficar a viver em Portugal com a família. Tem nacionalidade portuguesa, o que lhe está a facilitar todo o processo de documentação para trazer o filho e a mulher. Enquanto não os tem com ele, ajuda-o as amizades que já tem no Vale da Rosa e o trabalho que não falta. “A experiência está a ser bastante boa. E haver um grupo de venezuelanos faz com que a convivência seja melhor, ajudamo-nos uns aos outros quando lembrarmos que nos faz falta a família”.
Família a quem consegue enviar dinheiro através de amigos. Deposita o dinheiro cá e os amigos transferem os bolívares correspondentes para a sua conta na Venezuela. “Há que comer, há que pagar as contas”, num país onde “ir à farmácia é um luxo, com os medicamento a escassear” e onde a comida é também cara, onde é difícil encontrar carne e ovos. O dinheiro que envia é, assim, fundamental apesar da mulher, médica dentista, ainda trabalhar na sua profissão. E depois, há que juntar o máximo possível, para quando eles já cá estiverem.
Quanto a voltar, talvez um dia? Marcos diz que a segurança que sente em Portugal não tem preço e que na Venezuela, muito havia que mudar. “Os venezuelanos tinham, primeiro, que mudar de mentalidade e isso não vai acontecer da noite para o dia. Vai levar o seu tempo. Os venezuelanos têm que perceber que as coisas não são de graça. Há que que trabalhar para ganhar as coisas. Este regime teve muito a postura de dar e as pessoas acostumaram-se. Dessa maneira, um país não sobrevive, há que trabalhar para que haja crescimento”, sentencia.
Maria e Sandra Gouveia, de 29 e 38 anos, também sonham levar a família para Ferreira do Alentejo. Chegaram em março deste ano a Portugal e estão desde agosto no Vale da Rosa. Foram os tios, que vivem na Madeira, a pagar-lhes as passagens. Na Venezuela ficaram os pais, um irmão e uma irmã, mas não será por muito tempo. O primeiro e principal objetivo das irmãs já foi conseguido: sete meses depois de teram chegado, conseguiram juntar dinheiro suficiente para pagar a vinda dos pais e irmãos para Portugal. Chegam em dezembro, a tempo de passarem todos o Natal em família.
O reencontro está marcado para a ilha da Madeira, porque, como Maria acaba por revelar, o pai e o resto da família têm que se restabelecer. Principalmente o pai, que está doente. Questionada se a doença é grave, demora uns segundos a explicar. “Não, passou fome. Passaram todos, um bocado, porque onde vivemos há muita dificuldade em conseguir alimentos. Meu pai pesava mais de 90 quilos, agora pesa pouco mais de 70”.
Por isso, a prioridade é “ganharem peso e recuperar a saúde” na Ilha da Madeira. Depois, se as irmãs ainda estiverem a trabalhar no Vale da Rosa, esperam levar para lá pais e irmãos e conseguir-lhes trabalho na herdade, onde, destaca, “gostam muito de trabalhar”.
Ana Grácio Pinto (texto)
António Freitas (fotos)