Quase dois meses passados, desde que o primeiro-ministro António Costa esteve em Monchique, para ver in loco como é feita a prevenção e sensibilização da população contra incêndios, a Serra arde há cinco dias e há a registar perdas de casas. Por esta hora, o fogo obrigou a assistir 79 pessoas, tendo sido registados até ao momento 29 feridos ligeiros e um grave. No terreno continuam a combater as chamas 1203 operacionais, apoiados por 19 meios aéreos.
Desta vez ainda não houve vítimas mortais, mas, segundo o jornal Público, a descoordenação entre forças de segurança e agentes de proteção civil repetiu-se. O fogo, que lavra desde sexta-feira na serra de Monchique estava, na noite de ontem, incontrolável.
A ação de comunicação e propaganda do Governo
Quando o primeiro-ministro visitou Monchique, o tema já não era novo e o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) até já tinha sido apresentado na semana anterior, durante a Feira Internacional de Proteção Civil e Socorro (Algarsafe), com Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, a assistir.
Mas desta vez foi António Costa, primeiro-ministro, que decidiu deslocar-se a Monchique para ver as três etapas que envolvem a prevenção e o combate a incêndios. Começou por isso por ver em ação uma equipa de sapadores a limpar o terreno, tendo depois subido à Fóia para visitar um posto de vigia (no sítio da Madrinha) e terminou a visita com a exposição de meios, veículos e equipas, que integram o DECIR no Algarve este ano.
«Foi propositadamente que escolhemos Monchique, porque é um dos concelhos do Algarve que não tem praia, mas tem uma riqueza enorme, que é esta serra. Esta permite-nos ter uma boa produção de madeira e um conjunto de atividades associadas à exploração florestal, desde a criação do porco preto, à apicultura, ao medronho», argumentou.
Na lógica do primeiro-ministro, para ter uma região coesa há que apostar na excelência do turismo de sol e praia, mas também valorizar o que o outro Algarve tem para oferecer, como é o caso do turismo de natureza ou termal. E não só, pois é necessário também, na perspetiva de António Costa, valorizar as atividades que funcionam para lá do turismo, que não dependem da sazonalidade, porque só é possível fixar populações, se estas tiverem uma fonte de rendimento, se tiverem emprego. Neste caso, a serra é o principal ganha-pão. Daí a prevenção de incêndios assumir um papel central, pois a serra pode perder mais-valias se houver situações catastróficas como as vividas no passado, afirmou.
O alerta já estava sinalizado
Nesta altura, já Monchique era apontado como o concelho, a nível nacional, em primeiro no top 20 de risco de incêndio, num estudo elaborado e divulgado poucas semanas antes da visita de António Costa. Apesar das críticas de Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique, acerca destes dados, «que só contribuem para pôr o enfoque numa situação que todos conhecem», o primeiro-ministro deitou um pouco de água na fervura. «Ter a noção do risco de incêndio não serve para meter medo, mas para termos todos consciência de que o fogo é uma ameaça real, para a qual temos que nos preparar», contrapôs.
E foi esta preparação que António Costa foi ‘ver’ em Monchique. «Esta tarde pudemos ver três fases muito importantes da preparação que, em todo o país, está a ser feita para podermos viver este verão de 2018 com maior tranquilidade e maior confiança. Vimos em primeiro lugar o trabalho extraordinário que o município está a fazer em conjunto com os proprietários para a construção das faixas de proteção à volta dos aglomerados, para construir as faixas de gestão dos combustíveis», descreveu o governante.
Também na vigilância Monchique é apontado como um bom exemplo, porque conseguiu mobilizar a Associação de Produtores Florestais e a Associação de Caçadores para participar neste esforço, além dos proprietários para a limpeza dos terrenos.
Há, porém, um momento em que já nada há a fazer a nível de prevenção. É nessa altura que entra a terceira fase, a do combate ao incêndio e foi também os meios e recursos disponíveis do DECIR no Algarve que António Costa teve oportunidade de ver, na zona do Centro de Meios Aéreos de Monchique. São diversas as entidades envolvidas, desde os Bombeiros, elementos do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, até à Guarda Nacional Republicana. «É o conjunto destas entidades que está mobilizada para intervir se a prevenção falhar, se a vigilância não for suficiente, se houver comportamentos de risco e se houver incêndio», argumentou. A verdade é que se for necessário intervir, o ataque tem que ser rápido para evitar um incêndio de grande escala.
Infelizmente a verdade é que foi necessário intervir, e o ataque rápido ou como foi possível, não evitou um incêndio de grande escala.
Prevenção é tema recorrente, referiu edil de Monchique
Apesar de Monchique estar no topo do risco de incêndio, o presidente da Câmara Municipal. Rui André aproveitou a deslocação de António Costa naquela altura para mostrar que há meios e capacidade de resposta para enfrentar a época que se avizinhava.
«Temos sido um exemplo na preparação para um cenário de risco que todos conhecemos. Nunca colocamos isso em risco também, porque sabemos qual é a realidade do concelho, sabemos que temos uma situação periclitante e que devemos estar atentos a toda a hora, não só no verão, mas ao longo do ano. E a prova disso é que a Câmara de Monchique tem feito aquilo que o país está agora a fazer», resumiu o edil.
O Portugal ‘real’
O ponto de situação do incêndio que continua a lavrar em Monchique foi comunicado pelo Comandante Distrital de Faro, Vitor Vaz Pinto, esta manhã.
No total, foram registadas 108 ocorrências, tendo sido assistidas 79 pessoas e registados 29 feridos ligeiros e um grave.
No terreno encontram-se 1.203 homens, apoiados por 375 veículos e 19 meios aéreos — 1 helicóptero bombardeiro pesado, cinco helicópteros bombardeiros ligeiros, 6 aviões bombardeiros médios, 5 aviões bombardeiros pesados e 2 aviões de avaliação e coordenação para apoio à decisão.
A previsão meteorológica permanece desfavorável a quem combate os incêndios, com ventos moderados com rajadas fortes e temperatura a rondar os 35 graus. Todavia, uma nota positiva: a humidade relativa vai aumentar para 35% a 40%.
Vitor Vaz Pinto apelou às populações para que cumpram “escrupulosamente” as indicações das autoridades.
O incêndio lavra desde sexta-feira em Monchique.
António Costa reagiu no Twitter
Com o agravamento da situação do incêndio em Monchique, o primeiro-ministro António Costa usou a rede social Twitter para comunicar que está a seguir com atenção os incêndios em Portugal. A mensagem está acompanhada por três imagens do chefe de Governo no seu gabinete, ao telemóvel e a seguir a evolução dos fogos através do computador.
No texto deixado no twiter, Costa afirma que está “em contacto permanente” com o ministro da Administração interna, o autarca e a secretária-geral da Presidência do Conselho de Ministros para atualizações, “análise da situação e orientações”. “Deixo uma palavra de apoio a todos os agentes de proteção civil nas operações e de solidariedade às populações afetadas”, lê-se na mensagem oficial do primeiro-ministro.
Estou em contacto permanente com o Ministro da @ainterna_pt, os autarcas e a AGIF, para atualizações sobre os #incêndios, análise da situação e orientações. Deixo uma palavra de apoio a todos os agentes de proteção civil nas operações e de solidariedade às populações afetadas. pic.twitter.com/BY5lIsvlcT
— António Costa (@antoniocostapm) August 6, 2018