Na tarde deste domingo, a procissão foi foi dos pontos altos da programação da festa. Cada andor, em média, pesando cerca de 500 quilos, mas a força dos homens superou o peso. Para além das pétalas, o recurso a sementes é uma constante para fazer os desenhos dos quadros que ornamentam os andores. Mas são as pétalas, coladas uma a uma através de uma cola feita de água e farinha, que chamam mais a atenção pelas cores e formatos que dão aos andores. Chamam-lhe a cola milagrosa que alimenta a pétalas de humidade e permite que as mesmas vivam alguns dias. A colagem das pétalas, a conjugação das cores, o brilhantismo de cada lugar que tenta fazer do seu o melhor andor, com muito bairrismo à mistura, são motivos que tornam esta festividade única.
Fernando Martins o presidente da Junta de Alvarães na sua mensagem, nesta edição da Festa das Cruzes, “saúda todos aqueles que de forma voluntária e espírito bairrista se entregaram com elevado empenho à realização da Festa e saúda a população, colectividades e paróquia pelo esforço de todos, que se traduz na mais elevada expressão de vontade, devoção e querer, prestigiando desta forma esta nossa muito nobre tradição”.
Em terras de emigração, não esquece a diáspora alvarenense e salienta “ a diáspora alvarenense vê assim reforçados os seus laços efectivos com as raízes, relembra a saudade de outros tempos, a identificação com os seus antepassados e o sentimento de pertença, espírito aprazível para quem cá está e para quem cá vêm visitar-nos” E nestes dias de festa os visitantes aomam largos milhares. De verdade por tradição e por brio, Alvarães apresenta na sua «Festa das Cruzes», as jóias de arte popular e de amor, que são os seus andores floridos. Trabalho minucioso, de arte de dedicação, em soma um trabalho único Os andores e as cruzes, confeccionados com delicadeza e beleza únicas, são peças únicas, autênticas manifestações de fé e bairrismo deste povo, revelação de arte, paciência e sacrifícios de quem trabalha por Deus e pela freguesia. Fazendo uma pesquisa, a denominação «Festa das Cruzes» deriva de antigo cerimonial, segundo o qual, durante a procissão que, no dia de Ascensão se dirigia da Igreja ao lugar do Calvário, havia uma paragem junto de cada uma das 14 cruzes da Via Sacra, adornadas com flores naturais, onde o clero entoava algumas estrofes, a que o povo respondia.
Este cerimonial era já citado em 1724, como «muito antigo e inveterado», conservando-se até aos dias de hoje, sendo que, a partir de 15 de Maio de 1947, lhe foi acrescentada uma segunda característica: os andores floridos que vieram trazer à festa um valor acrescentado muito importante.
Os andores floridos, executados somente com flores naturais, tiveram, praticamente, o seu início, na freguesia de Alvarães, no ano de 1946, aquando da Comemoração Nacional do Terceiro Centenário da Proclamação da imaculada Conceição, Padroeira de Portugal.
São onze os andores, distribuídos pelos diversos lugares da aldeia, onde impera uma competição a todos os títulos saudável, sendo a técnica de confecção guardada religiosamente por cada lugar e a sua apresentação feita somente ao fim da tarde do Sábado da Festa. E todos os anos, no terceiro fim de semana de maio, a comunidade une-se para criar andores únicos por serem feitos com a colagem de pétalas de flores naturais. Durante muitos dias e noites, as pessoas dos diferentes lugares da freguesia são as responsáveis por criar os 11 andores floridos que desfilaram nas Festas de Santa Cruz, uma das principais romarias de Viana do Castelo e que a seguir à Festa das Rosas de Vila Franca do Lima, abrem as romarias anuais deste Minho sempre em festa
Alvarães e sua localização
Alvarães, freguesia do concelho, distrito, diocese de Viana do Castelo, possui belas paisagens aliadas a um clima agradável que sofre as influências da brisa atlântica e que alberga dentro dos seus limites cerca de 5000 habitantes, com 3104 eleitores, 4264 inscritos.
Esta povoação dista 10 Km da sede do concelho, localiza-se na margem direita do rio Neiva, sendo os seus terrenos, de constituição argilosa, bastantes planos com leves ondulações, salientando-se neste aspecto, o Monte da Chasqueira com 74 m acima do nível do mar. Confina, pelo norte, com Vila Fria e Vila de Punhe; pelo nascente, com Vila de Punhe e Fragoso; pelo sul, com Fragoso, Forjães e rio Neiva e ainda, pelo poente, com S. Romão do Neiva e Chafé.
ÁREA E LUGARES
A área total da freguesia de Alvarães é de 10,52 Km2, sendo composta pelos seguintes lugares: Igreja, Chasqueira, Souto do Monte, Paço, Outeiro, Várzea, Mereiçô, Padrão, Sião, Pauso, Costeira, Xisto, Sardal, Calvário e Viso.
Sobre esta matéria é interessante reler na Monografia de Alvarães o seguinte trecho:
«Alvarãis, além de centro agrícola, é também importante pelas suas indústrias. Servida pelo caminho-de-ferro, que aqui passa desde 1875, e por uma excelente rede de estradas, que a ela fazem convergir as populações dos concelhos mais próximos, tornou-se um importante e florescente centro industrial.
A sua principal indústria é a de cerâmica, bem conhecida e estimada na província do Minho (…) saindo daqui alguma telha para o célebre Mosteiro da Batalha.
(…) Onde a indústria regional atinge a sua proeminência é na Sucursal das Fábricas Jerónimo Pereira Campos, construída no ano de 1921».
Só a título de curiosidade, a fábrica referida neste trecho continua hoje em dia em pleno funcionamento. Para além desta foram também referências nacionais as cerâmicas Ceral e Rosas, sendo que esta foi a primeira empresa a receber energia eléctrica no concelho de Viana do Castelo.
Como podemos verificar, desde tempos remotos que Alvarães é um centro cerâmico por excelência. De Valença a Braga, de Viana do Castelo a Caminha, toda a região do Minho recebeu telha de Alvarães. Primitivamente, as telheiras situaram-se no lugar da Chasqueira, numa zona chamada «Tintas». Daqui passaram para ocidente do lugar do Paço, para um local conhecido por «Vermelhas» e, por fim, para o Monte das Infias, onde se construíram vários fornos e se explorou o barro em grande escala.
Em Alvarães encontram-se óptimos jazigos de barro branco, o caulino, sendo considerado um dos melhores da Península Ibérica. É com este caulino que se fazem, na Meadela, as célebres peças de louça de Viana.
ANTÓNIO FREITAS COM TEXTO SITE JUNTA ( FOTOS – ANTÓNIO FREITAS)
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