Depois de uma sucessão de pequenos escândalos, alguns dos quais envolvendo a sua vida amorosa, Juan Carlos, abdica em 2014 em favor do filho. Agora, seis anos depois, deixa Espanha, sem ninguém saber ao certo se está no exílio ou simplesmente a gozar a sua reforma dourada algures no mundo…
Nasceu na Itália durante o exílio do seu avô, o rei Afonso XIII de Espanha, sendo filho do infante Juan, Conde de Barcelona e sua esposa a princesa María de las Mercedes de Borbón-Dos Sicilias. Afonso XIII havia reinado em Espanha até 1931, quando foi deposto e a Segunda República Espanhola foi instaurada.
Em 1969, Francisco Franco nomeou Juan Carlos como futuro rei, após Espanha já ter extinto a monarquia. Após a morte de Franco, conseguiu fazer a transição pacífica do regime franquista para a democracia parlamentar, gerando o consenso entre os diversos partidos políticos, incluindo regionais, e, segundo sondagens de opinião, uma grande popularidade entre os espanhóis.
Contudo, alguns incidentes, principalmente durante os últimos anos de seu reinado, levaram o rei a perder parte da popularidade e fazer com que a monarquia fosse questionada.
A 2 de junho de 2014, o primeiro-ministro Mariano Rajoy recebeu do monarca a sua carta de abdicação. Sucedeu-lhe o seu filho, Filipe VI. Em 11 de junho de 2014, o parlamento espanhol aprovou sua abdicação, com 299 votos a favor, 19 contra e 23 abstenções.
Por desejo expresso de seu pai, sua educação fundamental foi desenvolvida em Espanha, onde chegou pela primeira vez aos dez anos, de Portugal, onde os Condes de Barcelona residiam desde 1946, no Estoril.
Iniciou os seus estudos no Instituto San Sebastián e em 1954 terminou o bacharelato no Instituto San Isidro, em Madrid. Desde 1955 estudou nas Academias e Escolas Militares dos três Exércitos, onde adquiriu o grau de Oficial. Nesta etapa realizou a sua viagem de práticas como guarda-marinha no navio escola “Juan Sebastián Elcano”, e obteve o seu título de piloto militar.
Casamento com Sofia da Grécia
Juan Carlos casou-se em Atenas, na Igreja de São Dinis, no dia 14 de maio de 1962, com a Princesa Sofia da Grécia, filha do rei Paulo I da Grécia. Sofia era cristã ortodoxa, mas se converteu ao catolicismo para se tornar rainha de Espanha. Do casamento nasceram duas filhas, a infanta Elena e a infanta Cristina, e o atual rei, Felipe.
Nas bodas de prata do casamento Juan Carlos e Sofia tiraram uma fotografia oficial no Palácio da Zarzuela e organizaram uma recepção para casais também unidos a 14 de maio de 1962.
Em 2012, não existiram comemorações dos 50 anos de casamento, pois Juan Carlos manteve um relacionamento amoroso com Corina Larsen, uma divorciada nascida a 28 de janeiro de 1964 (56 anos)) que mantém o título e apelido do segundo marido, o príncipe Casimir zu Sayn-Wittgenstein entre 2006 e 2013.[12][13]
Tanto Juan Carlos como a esposa são fluentes em várias línguas. Eles falam espanhol, catalão, francês e inglês. Diferente da rainha, no entanto, Juan Carlos não fala alemão, nem a língua nativa desta, o grego, um fato que ele lamenta. Além das referidas línguas, o rei fala fluentemente italiano e português.
Juan Carlos também é membro da Organização Mundial do Movimento Escoteiro.
Durante os períodos em que Franco esteve incapaz, temporariamente, em 1974 e 1975, Juan Carlos foi agindo como Chefe de Estado. Perto da morte, em 30 de outubro de 1975, Franco deu o controle total a Juan Carlos. Em 22 de novembro, após o falecimento de Franco, as Cortes Gerais proclamaram Juan Carlos como rei da Espanha e, em 27 de novembro, ascendeu ao trono espanhol numa cerimónia chamada de Unção do Espírito Santo, uma missa que foi o equivalente a uma coroação, na Igreja dos Jerónimos, em Madrid.
Depois da morte do anterior Chefe de Estado, Francisco Franco, Juan Carlos foi proclamado rei a 22 de novembro de 1975, e pronunciou nas Cortes a sua primeira mensagem à nação, na qual expressou as ideias básicas do seu reinado: restabelecer a democracia e ser rei de todos os espanhóis, sem exceção.
A função de estadista
Juan Carlos impulsionou um novo estilo nas relações ibero-americanas, sobressaindo as marcas de identidade próprias de uma comunidade cultural que se baseia em duas línguas principais (português e espanhol) e assinalando a necessidade de elaborar iniciativas conjuntas e participar em fórmulas adequadas de cooperação.
Juan Carlos recordou sempre a vocação europeia de Espanha ao longo da sua história e elaborou o seu processo de incorporação às Comunidades Europeias. A importância da União Europeia no mundo contemporâneo e em particular nas áreas em que são afins, incluindo a Ibero-américa, tem sido presente nas numerosas mensagens do Rei.
Seu perfil europeísta e o seu papel no restabelecimento da democracia em Espanha foram reconhecidos através de numerosos Prêmios Internacionais.
Atento sempre ao mundo intelectual e a sua capacidade de inovação, Juan Carlos exerce o Alto Patronato das Reais Academias e mantém uma assídua relação com os âmbitos culturais e em particular com a Universidade. Foi investido Doutor Honoris Causa por uma trintena de prestigiosas universidades espanholas e estrangeiras.
A língua castelhana, património da comunidade de hispano-falantes, e seu prometedor futuro no mundo atual são os temas que merecem a sua especial atenção. Impulsionou a criação da Fundação Pro Real Academia que se constituiu com a participação de entidades públicas e privadas em 1994. É também o Presidente Honorário do Patronato do Instituto Cervantes, encarregado da difusão do espanhol no mundo. Todos os anos entrega o Prémio Cervantes, que distingue os melhores escritores da língua espanhola nos continentes Europa e América.
Através das diversas fundações de que é presidente, apoia pessoalmente a criação e o desenvolvimento de novas tecnologias em Espanha, e alimenta numerosas iniciativas nas áreas da economia e a empresa. A Constituição estabelece que o rei é o chefe supremo das Forças Armadas. No exercício da sua função, Juan Carlos reunia-se uma vez por ano com os três exércitos na festa da Páscoa Militar, presidia à entrega de despachos e diplomas nas Academias e Escolas Superiores Militares, visitava numerosas unidades e assistia às suas manobras e exercícios.
Relacionamentos extraconjugais
Durante muitos anos, a imprensa falou sobre diversos relacionamentos extraconjugais de Juan Carlos, inclusive reportando que o casamento com Sofia havia fracassado apenas alguns anos após as bodas. Vários nomes de possíveis amantes foram vinculados ao rei, sendo o mais notório deles o de uma empresária alemã, Corinna Larsen. Diversas pessoas do entorno de Juan Carlos confirmaram a relação depois de sua abdicação, quando o assunto estava mais que nunca repercutindo na imprensa espanhola. Álvaro de Orleans, um parente do rei, disse em julho de 2020 que a relação dos dois lhe dava “calafrios”. “Aquilo havia se transformado numa paixão muito forte. Havia se transformado em algo tóxico.
O romance com Corinna teria iniciado no ano de 2004 e terminado na época da abdicação de Juan Carlos. Naqueles tempos, segundo relatos, o rei estava a ponto de se divorciar de Sofia para se casar com Corinna. Há também relatos de que a alemã estaria pressionando o rei para se tornar rainha da Espanha. “Ele estava disposto a tudo para iniciar uma nova vida com ela”, escreveu o El País em agosto de 2020.
Corinna seria, a partir do fim da relação, uma detratora do rei, relatando diversos casos de corrupção nos quais o rei estava envolvido. Ela também revelou que desde então recebia ameaças de pessoas que trabalhavam para a monarquia espanhola, com o objetivo de amedrontá-la e calá-la.
O sofrimento de Sofia durante o casamento rendeu um livro, chamado ‘A Solidão da Rainha’, que afirma que “ela se casou com quem não a queria”.
Em abril de 2012 a imprensa divulgou que Juan Carlos participou de caça a elefantes no Botsuana, em África, e que as atividades de caça predatória eram bancadas com dinheiro do contribuinte espanhol. Na sequência do safari os sócios da organização filial espanhola do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês) afastaram o monarca do cargo de presidente honorário, que ocupava desde a fundação da organização em 1968.
Nas fotos aparecia com Corinna Larsen. Juan Carlos, num caso sem precedentes, teve que pedir desculpas publicamente aos espanhóis. De acordo com parte da imprensa, este escândalo em particular (junto com seus problemas de saúde e o envolvimento de sua filha Cristina e do marido desta num caso de corrupção, o Caso Nóos) foi um dos motivos por ter abdicado.
65 milhões de euros
Em março de 2020, a procuradoria anticorrupção de Espanha fez um pedido formal ao Ministério Público suíço para investigar uma doação de 65 milhões de euros a uma conta bancária na Suíça em nome de Corinna Larsen, amante de Juan Carlos de 2004 a 2014, e oriunda de uma fundação no Panamá. O pedido de informações surge na sequência de as autoridades judiciais terem realizado um pedido semelhante a Madrid.
Corinna Larsen afirmou que o dinheiro que recebeu do rei de Espanha em 2012 foi um presente por amor e por gratidão.
Espanhóis e suíços suspeitam que a fonte do dinheiro é a Arábia Saudita e está relacionado com um alegado crime de suborno na construção da linha ferroviária de alta velocidade que liga Meca a Medina.
A operação foi detetada pelos procuradores suíços, durante uma investigação a operações de branqueamento de capitais no país. O dinheiro saiu do Ministério das Finanças da Arábia Saudita e chegou às contas de uma fundação do Panamá, cujo último beneficiário era Juan Carlos.
Como rei emérito, Juan Carlos perdeu a imunidade. No entanto, continua a ter imunidade em relação aos anos do seu reinado.