O espaço arqueológico daquela que foi descrita pelo escritor dinamarquês Hans Christian Andersen como a ‘Pompeia de Setúbal’, foi reaberto. As ruínas romanas de Troia, no concelho de Grândola, levam a uma viagem no tempo até àquele que foi o maior centro de produção de salgas de peixe do Império Romano.
As ruínas romanas de Troia reabrira aos visitantes e além do espólio arqueológico oferecem também a segurança do selo ‘Clean & Safe’ atribuído pelo Turismo de Portugal e Ministério da Cultura para os museus, palácios, monumentos e sítios arqueológicos.
O selo reconhece que aquele sítio arqueológico garante a quem o visita o cumprimento das normas da Direção-Geral da Saúde.
Abertas ao público, as ruínas romanas de Troia estão situadas na margem do rio Sado, na face nordeste da península de Troia, implantadas no intervalo da praia, do Troia Golf e da Troia Marina.
A poucos minutos da zona central de Troia, na outrora presumível Ilha de Ácala e que hoje se insere na Rede Natura 2000, os visitantes são convidados a viajar no tempo até às ruínas do que foi do maior centro de produção de salgas de peixe do Império Romano.
As visitas pelas ruínas da ‘Pompeia de Setúbal’, conforme foi descrita pele escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, dão a conhecer um monumento nacional que sobreviveu mais de dois mil anos, com casas, fábricas, termas, mausoléu e necrópole, que identificam a cidadania romana.Na época romana este terá sido um dos maiores e mais interessantes complexos fabris de conservas de peixe do Império Romano e do Mediterrâneo Ocidental, com uma extensão de quase dois quilómetros.
Da instalação industrial faziam parte oficinas e tanques de peixe e marisco que se destinavam à produção do ‘garum’, um condimento muito apreciado pelo povo romano.
Aquele que foi o maior centro industrial de salgas de peixe do Império Romano, esteve ocupado até ao século VI. Incluía pelas fábricas, casas, túmulos e banhos quentes e frios.
Todos os anos são descobertos vestígios, que pode conhecer nas exposições arqueológicas, visitas guiadas e eventos temáticos.
Produtos eram exportados para todo o império
O sítio arqueológico de Tróia localiza-se numa restinga de areia que separa o estuário do rio Sado do Oceano Atlântico. Os romanos escolheram aquela localização pela riqueza de recursos marinhos e fluviais ali existentes. A paisagem sofreu profundas alterações ao longo do tempo sendo provável que, durante o período romano, aquele território possuísse um carácter insular e fosse, realmente, uma ilha.
O sítio arqueológico conserva ainda as estruturas do aglomerado urbano com uma ocupação que se estende desde o século I ao VI d.C, com áreas residenciais destinadas certamente aos trabalhadores e proprietários da fábrica.
As ruínas identificadas, entre as mais relevantes existentes em Portugal, referem-se a um aglomerado urbano-industrial, integrando um grande complexo de produção de preparados de peixe distribuído por diferentes núcleos de oficinas.
Até ao momento foram referenciadas 25 com os seus tanques de salga (‘cetárias’) num total de 182, bem como as respetivas estruturas hidráulicas associadas.
Estas oficinas destinavam-se a produzir diferentes preparados de peixe – entre os quais o célebre ‘garum’ – produtos que depois eram exportados para todo o Império Romano no interior de ânforas especialmente concebidas para esse efeito. Uma destas oficinas, a oficina 1, é considerada uma das maiores existentes em todo o mundo.
Perto da oficina 2 foi construído um mausoléu datado dos finais do século II, inícios do século III d.C. (depois de Cristo) com uma planta quase quadrangular de 7,40 metros por 7 metros. Nas paredes deste edifício é visível o ‘columbarium’, conjunto de nichos destinados a albergar as urnas com as cinzas dos defuntos.
Mas ao nível do solo foram descobertas já sepulturas de inumação, uma prática introduzida em Tróia no século II d.C. Também no exterior do mausoléu, por vezes mesmo sobre tanques de salga, subsistem sepulturas tardias já com uma orientação cristã (com a cabeça para noroeste) que deverão datar da segunda metade do século V d.C.
Ruínas foram conhecidas no século XVI
“Do complexo arqueológico faz ainda parte uma basílica paleocristã dos finais do século IV, inícios do V, correspondendo a um edifício de grandes dimensões (21,7 x 11,5 metros) construído sobre uma oficina abandonada” e cujas paredes “são pintadas a fresco com motivos vegetalistas e geométricos”. “Um relevo em mármore dedicado ao Deus Mitra descoberto neste espaço, parece indicar que este culto terá precedido o cristão”, lê-se numa descrição das ruínas divulgada pela Direção Geral do Património Cultural (DGPC).
Junto à oficina de maiores dimensões existiu um núcleo termal com as suas diferentes áreas de utilização.
Dentro do conjunto de materiais arqueológicos identificados, destacam-se os recipientes de armazenamento (‘dolium’ e ânforas) assim como as cerâmicas finas (‘terra sigillata’).
Os vestígios arqueológicos de Tróia são conhecidos pelo menos desde o séc. XVI, mas a primeira intervenção arqueológica foi realizado somente no século XVIII, ordenada pela futura rainha D. Maria I. Nos anos quarenta do século XIX, a investigação do sítio esteve a cargo da Sociedade Arqueológica Lusitana e nas décadas de quarenta até aos anos 90 do século XX pelo Museu Nacional de Arqueologia e pelo IPPAR respetivamente.
Os trabalhos arqueológicos mais recentes integram um projeto de valorização das ruínas promovido pela empresa Troia Resort, sob a responsabilidade científica da arqueóloga Inês Vaz Pinto que conta ainda com uma equipa em permanência no terreno.
O espólio encontrado em Troia ao longo dos séculos é imenso e só uma pequena parte pode ser visto em museus nacionais, como o Museu Nacional de Arqueologia.
Ruínas Romanas de Troia (Troia, concelho de Grândola)
Visitas
– De março a outubro:
de segunda-feira a
domingo, entre as 10h e
as 13h e das 14h30 às 18h
(entrada até 30 min antes
da hora do fecho)
Visitas Guiadas
– Março a maio e em outubro: 1º sábado do mês, às 15h
– Junho e setembro: sábados às 15h
– Julho e agosto: quartas e sextas às 10h30
Preçário
– Bilhete normal: 6 euros
– Estudantes, maiores de 65 anos, caminhantes, ciclista e grupos: 5 euros
– Visita Guiada: bilhete normal, 7,50 euros; estudantes, maiores de 65 anos, caminhantes, ciclista e grupos, 6 euros
– Até aos 12 anos a entrada é gratuita
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