Têm origem em grandes explosões luminosas do espaço profundo e chegam até nós como curtíssimos sinais de rádio. Um investigador da Universidade de Aveiro desvendou a sua natureza que, de alienígena, não tem nada…
Entre os astrónomos, essas explosões luminosas do espaço profundo são conhecidas pelo termo ‘Impulsos Rápidos de Rádio’. Destes sinais que chegam à Terra sob a forma de curtíssimos sinais de rádio, se tem dito de tudo um pouco, desde que são emitidos por seres alienígenas até que são gerados por estrelas de neutrões.
Mas um investigador da Universidade de Aveiro terá desvendado o mistério. O físico João Rosa defende que, afinal, os sinais poderão ser gerados pela própria matéria escura sob a forma de axiões e buracos negros tão antigos como o próprio Universo, revela a Universidade de Aveiro numa nota de imprensa enviada ao ‘Mundo Português’.
O estudo do investigador João Rosa foi publicado este mês na prestigiada revista científica ‘Physical Review Letters’ com honras de “Editors’ Suggestion”, uma distinção atribuída a cerca de um em cada seis artigos divulgados nesta revista.
O artigo publicado foi feito em colaboração com o investigador americano Thomas Kephart, da Universidade Vanderbilt, dos EUA.
O trabalho do físico do Departamento de Física e do Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações da Universidade de Aveiro aponta uma possível nova solução para um mistério que dura desde 2007, ano em que o primeiro daqueles sinais de rádio foi detetado.
“Desse ano para cá, foram registados mais trinta explosões seguidas de outros tantos sinais de rádio, muitos deles emitidos há mais de mil milhões de anos antes em galáxias situadas a várias centenas de milhões de anos-luz da Terra”, lê-se na nota de imprensa.
João Rosa explica que “cerca de trinta explosões deste género (estes Impulsos Rápidos de Rádio são conhecidos na comunidade científica internacional como ‘Fast Radio Bursts’) foram observadas por telescópios na última década e, apesar das muitas teorias propostas para as explicar, a sua origem permanecia desconhecida”.
Explosão equivale à de mil milhões de sois
A explicação para o fenómeno dos FRB acabou por acontecer por acaso. João Rosa procurava mostrar que, ao contrário do postulado até hoje pela comunidade científica internacional, a instabilidade dos buracos negros em rotação leva à emissão de radiação electromagnética.
Mais, que essa instabilidade, que dá origem a uma nuvem de axiões numa curiosa forma de donut à volta do buraco negro, não só emite radiação como esta é das maiores de que há registo no Universo.
“É uma explosão de radiação eletromagnética equivalente à de mil milhões de sóis”, desvenda João Rosa.
De facto, aponta João Rosa, “a combinação de dois dos mais populares candidatos a explicar a misteriosa matéria escura que permeia o Universo, os axiões e os buracos negros primordiais, pode gerar algumas das mais luminosas explosões no Universo”.
Os buracos negros primordiais foram originalmente postulados por Stephen Hawking, em 1971, tendo-se formado pouco após o ‘Big Bang’ no seguimento do colapso gravitacional de regiões de densidade extremamente elevada.
“Estes buracos negros poderão ser bem mais pequenos e leves que os buracos negros conhecidos, com massa superior à do Sol. Se estes buracos negros forem produzidos em número suficientemente grande no Universo primordial, poderão também explicar uma fração significativa da matéria escura, ainda que provavelmente não a expliquem na sua totalidade”, descreve.
João Rosa mostrou neste trabalho que as nuvens de axiões formadas em torno de pequenos buracos negros primordiais poderão ser tão densas que bastará um pequeno número de fotões para estimular o decaimento de um número elevadíssimo de axiões, produzindo um laser extremamente potente e luminoso.
“Os nossos resultados sugerem assim que estas potentes explosões celestiais possam ter origem na própria matéria escura, sob a forma de axiões e buracos negros primordiais”, congratula-se João Rosa.
Isto poderá, desta forma, “constituir um novo laboratório astrofísico para testar a natureza da matéria escura, o seu papel na física de partículas elementares e também as condições extremas no Universo logo após o ‘Big Bang’”.
Ana Grácio Pinto
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