O Governo português vai “sensibilizar” o executivo francês para as vantagens de manter o português como prova específica de acesso ao ensino superior, disse à Lusa fonte governamental portuguesa.
“Entendemos a política francesa de dar relevância às línguas que comunicam em termos de fronteira com a França – estritamente podemos dizer que o português também comunica, já que a Guiana Francesa faz fronteira com o Brasil – mas há uma realidade de uma comunidade portuguesa extremamente numerosa, bem integrada e que tem dado muito à França. Iremos sensibilizar o Governo francês de que o esforço que pode ser feito, será compensado pelos portugueses e lusodescendentes em França”, disse João Sobrinho Teixeira, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
O governante, que esteve em Paris para promover as universidades portuguesas junto dos lusodescendentes, foi interpelado por membros da comunidade portuguesa sobre o facto de a reforma do ensino em França ter retirado o português como língua que serve de prova específica do acesso à universidade, dando à língua portuguesa o estatuto de língua rara, e mantendo apenas o inglês, alemão, espanhol e italiano.
Para o embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, trata-se de um “passo atrás” para a comunidade portuguesa. Segundo Jorge Torres Pereira, caberá ao Estado francês responsabilizar-se pela normalização do ensino de português em França, não só para os portugueses e lusodescendentes, mas também para os franceses, já que representa uma mais-valia para todos.
Recentemente, a Associação para o Desenvolvimento dos Estudos Portugueses, Brasileiros, Africanos e Asiáticos Lusófonos (ADEPBA) lançou uma petição na Internet para tentar reverter este aspeto da reforma do ensino francês, falando mesmo numa discriminação em relação à língua de Camões, dado que apenas vão passar a contar como provas finais de línguas vivas o inglês, alemão, espanhol e italiano.
“É uma discriminação sem razão nenhuma. Porque é que só escolheram quatro línguas para a especialidade e o português não está lá?”, questionou António Oliveira, professor de português no liceu internacional de Noisy-le-Grand e secretário.geral da ADEPBA, em declarações à agência Lusa.
O docente adiantou que “o português acaba só por contar para avaliação contínua e não conta para a especialidade e muitos alunos podem acabar por desistir de aprender a língua”.
A reforma do liceu em França arranca em setembro próximo e abrange os alunos que vão entrar para o equivalente português dos 10.º e 11.º anos de escolaridade, tendo impacto nos exames nacionais de 2021.
Governante promove universidades
Durante a deslocação a França, João Sobrinho Teixeira lembrou à comunidade portuguesa naquele país que há 7% de vagas no ensino superior português para emigrantes e lusodescendentes.
“Queremos que eles sintam que fazem parte de uma comunidade abrangente e que o país dos pais e dos avós continua a olhar para eles como fazendo parte dessa comunidade”, disse à Lusa o governante que esteve em Paris para promover, no Consulado Geral de Portugal, o programa ‘Estudar e Investigar em Portugal’.
Bárbara Carvalho, portuguesa de 17 anos que vive em França há sete anos, ouviu atentamente as explicações de João Sobrinho Teixeira. Prestes a acabar o liceu em França, a jovem, que estuda na secção portuguesa do Liceu Internacional de Saint-Germain-en-Laye, está determinada a ir para a faculdade em Portugal. “Sou portuguesa e acho que o ensino em Portugal é bom. Ainda não sei o curso, mas estou entre Letras e Direito, na Universidade do Porto”, disse Bárbara Carvalho à Agência Lusa.
Para comprovar a qualidade do ensino português, Erwan Chadli-Gomes, nascido em França de mãe portuguesa e pai francês, contou à plateia a sua experiência. O jovem tirou partido da quota destinada a lusodescendentes e licenciou-se em Relações Internacionais pela Universidade do Porto, estando atualmente a frequentar um mestrado em Bruxelas. A qualidade do ensino, o custo de vida mais baixo e a possibilidade de desenvolver a língua portuguesa atraíram Erwan Chadli-Gomes.
O secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior está a promover uma “operação em massa” para aumentar o ingresso dos lusodescendentes nas universidades portuguesas, com uma primeira paragem no Luxemburgo, passando agora por Paris e havendo sessões de esclarecimento agendadas também para as regiões francesas de Bordéus e Toulouse e para Joanesburgo e Pretória, na África do Sul; Hamburgo, na Alemanha; Bruxelas, Bélgica; Genebra, Suíça; e ainda Estados Unidos.
Relacionadas
- O presidente do Instituto Camões, Luís Faro Ramos, considerou que o número de alunos inscritos em aulas de português no ensino básico e secundário da Califórnia, Estados Unidos, 2.200, "não tem correspondência" com a dimensão da comunidade. O responsável do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que esta semana faz a sua primeira visita à Costa Oeste, referiu que se trata de um número "relativamente modesto" e que…