O norte de Moçambique vive, desde há dois anos, “num clima de medo e de insegurança”, face aos ataques que têm visado as populações, alertaram hoje as Irmãs de São José, congregação religiosa presente em Macímboa da Praia.
Segundo Katia Rejane Saci, uma freira da congregação que acompanhou em outubro a conselheira geral das Irmãs de São José, Maraelena Aceti, numa visita a Mocímboa da Praia, “poderes ocultos” querem “impor os seus próprios interesses, matando pessoas, incendiando aldeias e semeando destruição por toda [a] parte”.
“Pelo caminho até Mocímboa da Praia, [os] nossos olhos viram as marcas da destruição do ciclone Kenneth e dos ataques por grupos armados”, relatou a irmã Katia Saci, citada numa nota da Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre).
Para a fundação, o testemunho da religiosa, publicado na página da Internet da congregação, “elucida o grau de violência, destruição e medo que atingiu esta zona de Moçambique desde 2017, quando tiveram início os ataques armados que já provocaram cerca de 300 mortos, milhares de deslocados e um rasto impressionante de destruição com aldeias praticamente reduzidas a escombros”.
No dia 16 de novembro, “registou-se mais um desses ataques, desta vez em Miangalewa, no distrito de Muidumbe, na província de Cabo Delgado”, refere a nota da Fundação AIS.
“O balanço é, uma vez mais, trágico: três mortos, casas queimadas, destruição de alfaias agrícolas”, acrescenta.
Para esta instituição, “a situação na região está a deteriorar-se e as populações estão a abandonar as suas aldeias”, uma situação que levou já a um alerta do bispo de Pemba, Fernando Luís Lisboa.
O prelado, citado na mesma nota, avisa que “o inimigo não tem rosto” e, apesar da presença das forças de segurança, “os ataques continuam de forma violenta”.
A Fundação AIS adianta que, apesar de o bispo não identificar os atacantes, “há uma crescente convicção de que a região norte de Moçambique estará na mira de grupos ‘jihadistas’”.
A instituição, em setembro, dava conta de que o autoproclamado Estado Islâmico tinha reivindicado pela primeira vez um ataque ao que classificou como sendo “uma vila cristã”.
“As localidades de Mbau, Quitejaro e Cobre foram, entretanto, alvo de ataques reivindicados também pelos ‘jihadistas’”, salienta a fundação.