Começa hoje a Feira de S. Martinho, hoje feira do Cavalo que durante os 11 dias da Feira do Cavalo, a vila da Golegã, com os seus 4 mil habitantes, acolhe meio milhão de visitantes. É pelo menos essa a expectativa do presidente da Câmara, José Veiga Maltez, que os principais destaques da feira deste ano, a decorrer de 1 a 11 de novembro.
De ano para ano, a Câmara Municipal da Golegã e a Comissão da Feira procuram que a feira seja “ melhorada” com o objetivo de “tentar cativar as pessoas a virem”.
Presente na Feira vai estar uma delegação do Instituto Ferial de Badajoz, que organiza vários eventos relacionados com cavalos naquela cidade espanhola, nos quais a vila ribatejana tem-se feito representar numa lógica de parceria e intercâmbio. À feira da Golegã trazem este ano a apresentação equestre “Ibéria”.
Do programa da feira, o presidente Veiga Maltez destaca o dia 7, dedicado aos criadores, mas que junta também os Cavaleiros Tauromáquicos. A ideia começou no ano passado e este ano repete-se com o desfile de Cavaleiros pelas 19 horas, com homenagem ao cavaleiro Joaquim Bastinhas que morreu em dezembro de 2018, com 62 anos.
O último dia da feira, 11 de novembro, coincide com o dia de São Martinho, em que habitualmente se realiza o cortejo e bênção dos Romeiros, com a participação de centenas de cavaleiros. “Vamos esperar que são Martinho se dê bem com São Pedro”, deseja Veiga Maltez, numa referência meteorológica a uma época em que normalmente chove.
Não se pode falar da Feira do Cavalo sem referir a sua importância económica até porque o certame assume-se como o principal entreposto comercial de cavalos e dos produtos a eles associados.
São Martinho
O lugar de Golegã outrora pertença da Vila de Santarém, foi elevado à categoria de Vila por carta de D. João III, datada de 3 de Novembro de 1534. Segundo vários autores, a Vila da Golegã teve origem no tempo de D. Afonso Henriques ou de D. Sancho I, quando uma mulher natural da Galiza e que residia em Santarém veio estabelecer-se com uma estalagem neste local. Que a Golegã já existia no século XV, parece não haver dúvidas, bem como depois de se haver estabelecido nela a dita Galega, ter passado a denominar-se Venda da Galega, Póvoa da Galega, Vila da Galega e mais tarde por corrupção de linguagem, “Golegã”.
A par da importância do lugar em que se situa, a região da Golegã detinha uma das maiores riquezas: um solo fértil: A fama das suas terras chamou muito povo a si, como grandes agricultores e criadores de cavalos. Dos tempos mais remotos vêm alusões à região, à Quinta da Cardiga que em 1169 foi dada por D. Afonso I à ordem do Templo para arroteamento e cultivo.De século para século foi a mesma sendo doada a outras ordens e, a partir do século XIX, comprada por diversos grandes agricultores.
Já no século XVIII, e com o apoio dado pelo Marquês de Pombal, a feira começou a tomar um importante cariz competitivo, realizando-se concursos hípicos e diversas competições de raças. Os melhores criadores de cavalos concentravam-se então na Golegã. No século XIX, com base na valorização agrária da região, a Golegã voltou a ter grande importância para o que muito contribuíram as figuras de dois grandes agricultores e estadistas: Carlos Relvas, fidalgo da Casa Real, grande amigo do Rei, comendador, lavrador, artista, proprietário de diversos estabelecimentos agrícolas e de dois palácios (onde por várias vezes hospedou a família real), e José Relvas, seu filho, imensamente ligado à causa republicana, ministro das finanças e também um grande artista.
Em meados do século XVIII, teve o seu começo a Feira da Golegã, chamada até 1972 Feira de S. Martinho, data a partir da qual passou a denominar-se Feira Nacional do Cavalo. É a Feira Nacional do Cavalo a mais importante e mais castiça de todas as feiras que no seu género se realizam em Portugal e no mundo. Aqui se apresentam todos os criadores, com os seus belos exemplares, razão pela qual, se transaccionam na Golegã, os melhores puro-sangue, criados no País, que são vendidos para vários pontos do globo.
A Golegã há muito que passou a ser a Capital do Cavalo. O dia de S. Martinho, de feira que foi, passou ao mais belo e único espectáculo equestre público que se realiza a nível gratuito entre nós. Ralies, Raids, Jogos Equestres, Campeonatos, Maratona de Carruagens, Exibições, são alguns dos mais belos espectáculos que na Golegã se realizam na sua apresentação do mais belo animal do mundo que é o cavalo. E para complemento da festa justificando o adágio popular que, “Pelo S. Martinho prova o Vinho”, não faltarão a água-pé e as sempre apetecidas castanhas assadas
Programa da Feira da Golegã 2019
Aqui poderá ver o Programa da Feira da Golegã, por ordem de acontecimentos.
01 de Novembro (Sexta-Feira)
08:00 Concurso Nacional Especial de Saltos de Obstáculos | (Provas de 1.00m a 1.30m) (Hippos Golegã / Centro de Alto Rendimento de Desportos Equestres)
09:00 XXII Open Golegã FNC |
15:30 Concurso de Atrelagem Nacional (CAN 2*) – Prova de Ensino |
17:00 Taça de Portugal de Equitação de Trabalho – Prova de Ensino |
18:00 Abertura da Exposição de Pintura “A Saudade da Emoção Lusitana”, de Sabine Marciniak |
19:00 Abertura da Exposição Pintura e Escultura de Beatrice Bulteau |
19:00 Abertura da Exposição de Aguarelas e Cerâmica, de Ana Dias e Francisco Dias |
02 de Novembro (Sábado)
09:00 Concurso Nacional Especial de Saltos de Obstáculos (Hippos Golegã / Centro de Alto Rendimento de Desportos Equestres)
09:00 XXII Open Golegã FNC
09:00 Taça de Portugal de TREC – POR – Prova de Orientação – Partida
14:00 Concurso de Atrelagem Nacional
15:00 Taça de Portugal de Equitação de Trabalho – Prova de Maneabilidade
18:00 Abertura da Exposição de Fotografia “Feira da Golegã”, de Marco Fernandes
21:30 Concurso de Saltos de Obstáculos – Prova de Eliminatórias Sucessivas – IV Troféu Pedro Faria 22:00 Lançamento do Álbum/CD “Da Golegã”, de Rui Souto Barreiros
03 de Novembro (Domingo)
09:00 XXII Open Golegã FNC
09:00 Concurso Nacional Especial de Saltos de Obstáculos 09:00 Taça de Portugal de TREC – MA (Medição de Andamentos)
11:00 Taça de Portugal de TREC – PTV (Percurso em terreno variado)
11:00 Concurso de Atrelagem Nacional (CAN 2*) – Prova de Cones
15:30 Taça de Portugal de Equitação de Trabalho – Prova de Velocidade
04 de Novembro (Segunda-Feira)
14:00 XXII Open Golegã FNC
16:00 XXII Open Golegã FNC
05 de Novembro (Terça-Feira)
10:00 Concurso de Dressage Especial – Níveis Nacionais e Internacionais
10:00 Campeonato Nacional Inter Escolar – Prova de
15:00 Concurso de Dressage Especial – Níveis Nacionais e Internacionais
21:00 Campeonato Nacional Inter Escolar – Prova de Volteio Artístico
06 de Novembro (Quarta-Feira)
10:00 Concurso de Dressage Especial
10:00 Campeonato Nacional Inter Escolar – Prova de Saltos de Obstáculos
15:00 Concurso de Dressage Nacional – Níveis Nacionais e Internacionais
14:30 Campeonato Nacional Inter Escolar
17:00 Prova de Equitação à Portuguesa – Prova Nível B e A
19:30 Campeonato Nacional Inter Escolar
21:30 Troféu Marquês de Marialva – Concurso de Dressage Nacional
07 de Novembro (Quinta-Feira) – Dia dos Criadores /
10:30 LX Concurso Nacional de Apresentação do Cavalo de Sela FNC e XXI Concurso Nacional de Apresentação do Cavalo de Sela da Feira Internacional do Cavalo Lusitano (Arneiro da Feira)
10:30 Poldros de 3 anos, apresentados à mão 14:30 Cavalos de 4 anos, apresentados montados 16:30 Cavalos de 5 anos ou mais, apresentados montados Entrega de prémios no final de cada Classe
19:00 Desfile de Cavaleiros Tauromáquicos 21:30 Recordar Dr. Filipe de Figueiredo (Graciosa) |
22:00 Espetáculo Equestre do Centro Equestre da Lezíria Grande, com a presença da Escola Portuguesa de Arte Equestre
08 de Novembro (Sexta-Feira)
10:00 Final do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho – Prova de Ensino
15:00 Final do Campeonato Combinado de Maratona – 1ª Mão
22:00 “Ibéria” – Apresentação Equestre, comemorativa da assinatura do Protocolo de Cooperação entre a Feira Nacional do Cavalo e a Feira Equestre de Badajoz e o Município da Golegã e o Ayuntamento de Almonte com a presença especial da Reprise da Guarda Nacional Republicana
09 de Novembro (Sábado)
08:00 Concurso de Endurance – Partida – Campeonato Nacional de Cavalos Novos; CEI* de 80 Kms, CEN* de 80 Kms, CEP de 80 Kms e CEP de 4 Kms
09:00 I Torneio de Veteranos FNC
09:30 Final do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho
11:00 Final do Campeonato Combinado de Maratona – 2ª Mão Podium dos Campeões de Combinado Maratona 14:00 Meias Finais da Taça de Portugal de Horseball 15:00 Final do Concurso da XLIV Feira Nacional do Cavalo e da XXI Feira Internacional do Cavalo Lusitano –Homenagem ao Presidente de Honra do LX Concurso Nacional de Apresentação do Cavalo de Sela FNC e XXI Concurso Nacional de Apresentação do Cavalo de Sela da Feira Internacional do Cavalo Lusitano – Exmo. Senhor Dr. Manuel Cidade Moura
18:30 Apresentação pela Associação do Cavalo de Raça Luso-Árabe 19:15 Entrega de Prémios dos Concursos de Endurance
19:30 Entrega dos Troféus Hippos 2019
19:45 Prémios Golegã 2019 – Distinção à Excelência Equestre |
22:30 Cavalhadas – Prova de Perícia e Destreza |
10 de Novembro (Domingo)
09:00 Torneio de Veteranos FNC 10:30 Final do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho – Prova de Velocidade
Podium dos Campeões Nacionais de Equitação de Trabalho
14:00 Taça de Portugal de Horseball
16:30 Final da Taça de Portugal de Horseball (Sub 16 e Sénior
11 de Novembro (Segunda-Feira) – Dia de São Martinho /
12:30 Partida do Cortejo dos Romeiros de São Martinho | 13:00 Bênção dos Romeiros de São Martinho 13:30 Chegada do Cortejo dos Romeiros de São Martinho
16:00 Entrega de Prémios do III Troféu de Tradição | 16:00 Cavalhadas de São Martinho
Traje Português
O Traje de Equitação tradicional que hoje vemos usar nas nossas feiras e em particular na Feira de S. Martinho, é o traje popular que se usava em Portugal para montar, nos trabalhos do campo e nos momentos lúdicos no século XIX e inícios do Século XX.
O Traje masculino rico ou de ver-a-Deus, difere do traje mais popular pelo chapéu e pela riqueza dos tecidos e de alguns adornos.
O homem do campo tinha de usar um traje funcional, adaptado aos seus misteres de todos os dias.
A cabeça cobria-a com um barrete, (negro no trabalhador rural e verde de orla vermelha no campino) ou com um chapéu largo com virola, de copa convexa, como se vê na figura do “Zé Povinho” criada e imortalizada por Bordalo Pinheiro.
O traje de hoje substituiu o barrete e o chapéu de copa convexa, pelo chapéu usado pelo proprietário das terras ou por outras personagens de escala social acima do trabalhador rural. De aba larga, perdeu a virola e a copa é “metida para dentro” desenhando um rebordo a que alguns chamam o “tachinho”.
O colete persistiu como peça de indumentária que vem da Idade Média evoluído do loudel ou do gibão e sobre ele assenta a jaqueta cortada a direito nas costas, por cima da linha da cintura. A jaqueta fecha com botões de osso, prata ou outros metais ou com alamares ricos, algumas vezes recordação de um familiar próximo.
A Jaqueta tem inúmeros modelos de golas (de tira, sem gola, de romeira, de jaquetão, de rebuço, de dois bicos…), e por vezes é enfeitada com “cantos” ou com “cotoveleiras” que no modelo prático eram locais de reforço ou remendos nos pontos de maior desgaste do tecido.
A calça é de cós alto, segura com suspensórios e na cintura bem ajustada e com as franjas à esquerda, enrola-se a cinta, usualmente negra no trabalhador rural e vermelha no campino.
A calça desce a direito até à bota de pele de carneira ou de vitela, terminando em boca-de-sino no cavador da terra e a direito, sem dobra e um pouco acima do tornozelo, quando se pretende montar a cavalo, tapando a polaina ou o botim ou a bota alta com salto de prateleira. Com o traje rico as polainas, botins ou botas altas são de polimento.
No campino persistiu o calção, modelo do século XVIII usado até à Revolução Francesa, com meia branca até ao joelho sem polaina, com sapato de salto de prateleira onde assenta a espora ou o esporim de lira.
A camisa é branca, sem gravata ou laço, de colarinho com as pontas redondas viradas para o peito, fechado por botões em casas ou por abotoaduras de ouro ou prata, duplas ou singelas. A carcela da camisa ‘pode ser adornada de folhos, num resquício do traje rico da corte do século XVIII.
A mulher do campo não montava a cavalo. Deslocava-se à garupa do cavaleiro ou sobre um burro arreado de albarbão, sentada de lado com as pernas unidas e colocadas à esquerda da coluna vertebral do asno.
As senhoras “de posses” (as Amazonas) até escarrancharem, por cerca de 1935, montam de lado em sela própria e só usam espora numa das botinas. Vestem a moda estrangeira, que entretanto o contacto facilitado com os novos meio de comunicação, permitia que lhes chegasse do Reino Unido e de França. É difícil por isso encontrar um genuíno modelo português, mas o exemplo pode ver-se na Rainha Senhora Dona Amélia que montando à Amazona usava quer o traje Inglês, quer o traje que se pode entender como português, com chapéu de virola de aba mais curta que o modelo do chapéu de homem e adornado de dois “pom-pom”, que se designava por “chapéu serrano” e jaqueta curta de corte bem feminino, ou jaqueta de quartos e quartilhos com camisa de carcela enfeitada de folhos.
Quando as Senhoras começam a “escarranchar” a saia de amazona é substituída por uma saia comprida até abaixo do tornozelo.
Por baixo desta saia fendida à frente e atrás para “cair” para os dois lados da sela, a Amazona continua a vestir, como o fazia com a saia de amazona de anos atrás, um calção comprido até ao tornozelo, que aperta, como se fosse no punho, por três botões em casa. Este calção não era nem deve ser uma calça à homem cortada a direito, (ao contrário do que erradamente se vê hoje) pois nessa época exigia-se rigorosa distinção no modo de trajar entre os dois sexos. Por este facto as Senhoras não usam colete, que como escrevi atrás é peça própria da indumentária masculina.
Com o Traje de Amazona calça-se botina de cano curto e de tacão pouco alto e com o traje de escarranchar bota ou botim que nos últimos anos ganhou tacão, sem perder o salto de prateleira. by João Gorjão Clara (Autor do Livro “O Traje Português de Equitação”)
ANTÓNIO FREITAS