Visitar o concelho de Oleiros e percorrer algumas das suas freguesias é enriquecedor e descobre-se um Portugal, desconhecido para muito, mas muito autêntico e genuíno, com um povo hospitaleiro e que nos sabe receber Com título de freguesia desde 1535, o Estreito afirma-se como um lugar encantador, que deve o seu nome à natural estreiteza do caminho que liga este destino a terras que ficam para lá da serra do Muradal. A localidade de Estreito está situada, nas fraldas da serra do Muradal, a norte do concelho de Oleiros, a cerca de 13 quilómetros. É a maior freguesia em extensão e a que reúne maior número de povoações, cerca de 33 lugares envoltos num manto verde.
Referem os estudos que é provável que o povoamento do atual território da freguesia ascenda a tempos pré- romanos. As condições naturais de defesa que o lugar do Estreito, que então proporcionava, eram manifestamente propícias à instalação de um qualquer povo, talvez lusitano.
Eles encontraram aqui um castro natural inacessível por todos os lados, exceto pelo lado poente, acesso este que seria vigiado pelo Cabeço da Rainha, e com o qual comunicaria através do cume das serras.
Sobre a presença romana no chão desta freguesia não existe a mínima dúvida, como atesta a descoberta feita em 1848 junto à povoação de Estreito.
Aí apareceu uma considerável porção de moedas de prata, romanas, das quais sobressaía uma datada de 88 antes de Cristo, e uma outra, de cobre, com a efígie do Imperador Galeno, que reinou entre 254 e 268 da nossa era.
No ano de 1515 obtiveram, da Nunciatura Apostólica em Lisboa, um Breve que lhes concedia licença para terem um Capelão que lhes dissesse missa e administrasse os sacramentos. Apenas a comunhão pascal não poderia ser dada pelo capelão, o que, no fundo, era um atestado de dependência em relação a Oleiros.
E essa cláusula seria aproveitada pela Câmara da vila para considerar o Estreito dependente daquela freguesia, tanto que, em 1531, por ocasião da finta lançada para reedificação da igreja matriz, incluiu nela os habitantes do Estreito.
Estes não se conformaram, recusando-se mesmo a concorrer para tal obra, alegando que estavam separados da Igreja de Oleiros, já que todos os seus actos religiosos eram praticados na capela dedicada a S. João Baptista, levantada no meio do Estreito.
Estreito tornou-se freguesia no longínquo ano de 1535, depois de diversos anos de luta por parte dos seus habitantes, que aspiravam e lutavam pela sua independência. Finalmente 16 de Novembro desse ano, a Casa da Suplicação proferia uma sentença, dada em nome de D. João III, contra a Camara e Concelho de Oleiros, declarando os moradores do Estreito isentos de contribuir para as obras da igreja da freguesia da sede do concelho.
E assim, uma nova freguesia nascia. A paróquia foi uma reitoria da Ordem de Malta, da apresentação do Bailio, ou, segundo a Estatística Paroquial de 1864, do grão-prior do Crato, que era o seu donatário. Seria este o responsável pela apresentação do cura de Estreito que vencia uma côngrua de 3.500 réis em dinheiro, 60 alqueires de trigo, 60 de cevada e 25 almudes de vinho mosto.
Posteriormente, para efeitos civis e administrativos, a freguesia do Estreito teve anexada a freguesia de Vilar Barroco até março de 1890. Presentemente na atualidade, a freguesia do Estreito foi extinta de acordo com a reorganização administrativa do território das freguesias, decretado na Lei nº 11-A/2013, de 28 de janeiro; tendo passado a agregar a também extinta Freguesia do Vilar Barroco, que falaremos a seguir
Na primeira metade deste século, escrevia-se no “Guia de Portugal” que “no concelho há muitos sítios ermos dignos de se verem, mas quase todos de difícil acesso.
Por estrada, o único realizável, por enquanto, é o passeio ao Estreito, desenrolando-se sempre em serrania brava, a freguesia encontra-se num refolho da serra do Moradal.
A tecelagem continua a ter expressão, constituindo um dos valores artesanais da freguesia.
A decadência, após a ruína dos seculares soutos, foi um facto, mas a freguesia soube levantar-se a tempo e, nos finais dos anos 60, havia já uma fábrica de resinosos e três grandes serrações.
O aproveitamento do pinheiro que, então, monopolizava a quase totalidade da população ativa, quer na exploração direta, no campo, quer na extração de derivados, dada a sua importante industrialização.
IGREJA MATRIZ DO ESTREITO
Estávamos no ano de 1963 quando se iniciou a construção majestosa e singular da Igreja de S. João Batista. Ao longo de 7 anos edificou-se este monumento, ultra-arrojado para a época, graças ao querer e determinação do povo Estreitense e do seu Pároco Ribeiro Farinha.
Totalmente em pedra quartzite, retirada do maciço central da serra do Moradal, a Igreja Matriz foi inaugurada a 25 de outubro de 1970.
Conjuntamente com o Arquiteto José Pires Branco (autor do projeto), o Pároco da Freguesia na altura, Padre Ribeiro Farinha, o Escultor Domingos Gentil Soares Branco e com a valiosa ajuda do povo do Estreito surge esta imponente construção de características únicas e autenticamente singulares nesta região.
Soares Branco foi uma personalidade, bem conhecida na época, que fortemente contribuiu para a grandiosidade desta Igreja.
Foi mestre na arte da modelagem, de concepção rigorosa e de riqueza inovadora nas suas obras, concentra neste espaço um considerável número de peças de sua autoria.
A fachada principal exterior é dominada pelo Grande Baixo – Relevo, também da autoria de Soares Branco, com mais de 25m de comprimento ladeando a Cruz principal da Igreja. Dignos de uma serena e longa admiração este baixo relevo de cerca de 32m2 de área.
Neste Baixo – Relevo é contemplada a vida da aldeia, também, são retratadas as atividades das suas gentes, como a resinagem, as serrações, a pastorícia, o linho, as rendas, as crianças que estudam, os idosos que descansam à lareira depois das canseiras e das dificuldades diárias.
Estes são painéis sucessivos em cimento de cores variadas formando uma espécie de Procissão representando as práticas de Culto e os cortejos fúnebres com a Cruz Processional do séc.VVI, o Pendão das Almas, os Lampadários, assim como a representação das imagens principais da velha Igreja, o seu orago S. João Batista e a Nossa Senhora com o Menino ao colo.
No interior da Igreja os tons coloridos dos Vitrais de cimento e vidro baseados e ladeando o corpo principal do edifício surgem como, segundo o próprio escultor,
…”uma expressão de louvor a Deus pela natureza selvagem e bela que envolve este templo”
Ao fundo do Altar – Mor, que é composto por uma sumptuosa pedra de mármore verde escuro e ornamentado por valiosos azulejos moçárabes do séc. XVII recuperados da antiga Igreja, encontra-se afixado na parede principal O Cristo Ressuscitado, elaborado em cobre pelo processo de soldadura, com pedras semipreciosas incrustadas no cobre da bandeira.
Via – Sacra com as suas 14 Estações em madeira talhadas à mão são de dignidade suprema, contudo atualmente não se encontram expostas.
Cristo Crucificado na Cruz em madeira é uma réplica do Calvário Húngaro em Fátima, ambas as obras de Soares Branco, tendo sido concedida a devida autorização pelo Reverendo Padre Luiz Kondor, Postulante dos Videntes de Fátima.
Os vitrais surgem novamente na concepção do Baptistério, simbolizando o Batismo e a passagem por ele promovida ao estado Cristão, simbolizados pelos peixes com a Cruz, nadando no mar da vida.
Por fim o Sacrário, cuja porta é de uma beleza incrível, com uma réplica de “Cristo Ressuscitado” do Altar-Mor também em cobre.
Esta é a igreja que encontramos um ícone da arquitetura moderna em Portugal na vertente religiosa, e só não tem um maior destaque porque está no interior do país. É uma obra imponente da autoria do Arquitecto José Pires Branco.
Nesta o que mais impressiona numa primeira abordagem é a sua dimensão, com a cruz de grande envergadura no centro do edifício em claro declive sobre o pátio que acede á nave principal, a torre sineira e um grande baixo relevo que surge na parte superior da fachada onde se pode contemplar motivos do dia a dia das gentes da terra e alguns motivos bíblicos, painéis estes da autoria do Escultor Domingos Gentil Soares Branco.
No seu interior continua o profundo sentido modernista, com um traço recto, aprofunda a simbiose da luz com a matéria construída nas naves laterais sendo de maior realce na nave principal que conduz ao altar mor onde esta surge com maior intensidade iluminando a zona principal da celebração dando assim alusão à luz que vem dos céus!
É uma construção onde predomina o granito e uma pedra bem característica daquele local, o quartzito que se encontra em grande quantidade na serra do Muradal (915 m), serra onde podemos desfrutar de uma paisagem incrível ao percorrer o trilhos dos Apalaches e repousar em vários espaços de turismo rural que existem nas povoações locais.
Não deixem de visitar o Interior, existem imensos sítios de interesse e claro uma óptima gastronomia, ele é único, principalmente agora que precisa mais de todos nós!
Adega dos Apalaches em Roqueiro e o Trilho dos Apalaches da antiga Pangeia
Apalaches são uma cordilheira da América do Norte, contraparte oriental das Montanhas Rochosas, que se estende por quase 3 200 quilômetros da Terra Nova e Labrador, no Canadá, ao estado de Alabama, no sudeste dos Estados Unidos.
Compõem a barreira natural entre a planície costeira oriental e as planícies interiores da América do Norte.
A «Rotas dos Apalaches» em Oleiros é um dos maiores e mais antigos trilhos do mundo, é para ser apreciada por quem ama a natureza!
Pode percorrer o Trilho Internacional dos Apalaches, por aqui, pelo centro de Portugal, no concelho de Oleiros.
Este é um percurso integrado na Grande Rota Pangeia – GR38, que lhe proporciona a sensação de andar 38km nas cristas de pedra da serra do moradal (irmã da cordilheira americana) entre as localidades de Estreito e Orvalho. Aqui todos os anos se deslocam milhares de caminheiros e amantes da natureza para efectuar esta Grande Rota Pangeia GR 28
A Adega dos Apalaches
Desde junho de 2016 que uma velha casa de xisto foi transformada num espaço que envolve pela sua simplicidade e projetada nas tradições da terra e na dureza da pedra.
O desfrutar da gastronomia regional neste local leva-nos aos tempos das nossas avós. Rapidamente passou de boca em boca e os forasteiros fazem-se ao caminho com a expetativa de uma experiência única.
Ao entrar na aldeia, os aromas não deixam ninguém indiferente!
É só seguir o seu rasto e, rapidamente, o visitante se deslumbra com um espaço informal e acolhedor, com o olhar a perder-se num mar verdejante no horizonte, vislumbrando ao longe o Trilho Internacional dos Apalaches.
Um verdadeiro suplemento de alma para o seu desejo secreto de experimentar sabores antigos.
Venha ali saborear iguarias tradicionais portuguesas, regadas com bons vinhos, na companhia de panelas de ferro e fogo alimentado a lenha, reserve uma refeição – ou muitas!
CABRITO ESTONADO DE OLEIROS
O cabrito estonado de Oleiros e o ambiente da Adega dos Apalaches, com a sua cozinha rústica que apela às nossas memórias, com pratos mais exclusivos da gastronomia nacional e é a nossa especialidade . Sempre com pré reserva. (almoço de 5ª feira a domingo, para individuais e grupos)
Ao entrar na aldeia, que fica junto estrada Nacional entre Oleiros e que dá acesso a Castelo Branco, os aromas desta afamada adega, não deixam ninguém indiferente!
É só seguir o seu rasto e, rapidamente, o visitante se deslumbra com um espaço informal e acolhedor, com o olhar a perder-se num mar verdejante no horizonte, vislumbrando ao longe o Trilho Internacional dos Apalaches.
Um verdadeiro suplemento de alma para o seu desejo secreto de experimentar sabores antigos.
Venha ali saborear iguarias tradicionais portuguesas, regadas com bons vinhos, na companhia de panelas de ferro e fogo alimentado a lenha, reserve uma refeição – ou muitas!
O cabrito estonado de Oleiros e o ambiente da Adega dos Apalaches, com a sua cozinha rústica que apela às nossas memórias, com pratos mais exclusivos da gastronomia nacional é especialidade . Sempre com pré reserva. (almoço de 5ª feira a domingo, para individuais e grupos)
VILAR BARROCO SERÁ “A POVOAÇÃO DO BARROCO”
A toponímia desta freguesia é um bom documento do medievismo nacional dos seus lugares (e portanto da sua antiguidade), pois todos eles, nas suas designações, revelam um termo arcaico que é um certificado de repovoamento medieval, como em raríssimas partes sucede.
O topónimo Vilar alude precisamente à povoação inicial, um “villar” (povoação) que nada tem com a definição comum de fração de “villa” agrária, e Barroco é um qualificativo que alude à topografia local.
Significa vale estreito e profundo por onde corre geralmente um curso de água.
Situada nas faldas da Serra do Muradal, e sendo nesta zona que tem início a ribeira da Malhadancha, que corre num estreito e profundo vale, Vilar Barroco será “a povoação do barroco”.
Fontes consultadas: Dicionário Enciclopédico das Freguesias, 4ºV, 1998. Memorias da Villa de Oleiros e do seu Concelho, 1881.
SITE JUNTA FREGUESIA
ANTÓNIO FREITAS
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