Cerca de 80 mil portugueses emigraram em 2018, menos dez mil do que em 2017, segundo dados disponíveis a 29 de novembro deste ano. Um descida “no sentido da estabilização” que “tem acompanhado a descida da taxa de desemprego em Portugal”, avançou Rui Pena Pires, coordenador científico do Obsrvatório da Emigração na apresentação do Relatório da Emigração 2018, que decorreu esta tarde no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A descida é ainda explicada pela diminuição da emigração para o Reino Unido “devido ao efeito Brexit” e que está hoje em um terço da que era em 2013, no auge da crise económica em Portugal. Mesmo com a quebra de 17% em relação a 2017, ainda é o principal destino da emigração portuguesa nos últimos anos: em 2018 recebeu 19 mil portugueses.
A descida deve-se ainda à quebra de atração de outros países, como Angola “devido à crise económica desencadeada com a desvalorização dos preços do petróleo” (-36% do que em 2017) e a Suíça (-6%), segundo o documento hoje divulgado..
Para os restantes destinos, com menos emigração, os valores das saídas mantiveram-se ou crescerem ligeiramente, mas o grande destaque vai para Espanha onde se consolidaram as taxas de crescimento da emigração portuguesa. Para o país vizinho, a emigração portuguesa “cresce sustentadamente desde 2014: entre 2017 e 2018 aumentou 18%, o mesmo que no ano anterior”, informa o Relatório da Emigração 2018.
Espanha recebeu no ano passado, pouco mais de dez mil portugueses.
Seguem-se, como principais destinos dos fluxos, com valores entre cinco e dez mil entradas de portugueses, a Alemanha, França, Suíça e Espanha. No entanto, “devido a alterações e correções nas estatísticas alemãs e francesas continua a ser difícil medir com rigor a evolução recente da emigração para estes dois destinos de topo da emigração portuguesa que, no entanto, deverá estar em redução, nos dois casos”, explica o Observatório da Emigração neste documento.
Fora da Europa, os principais países de destino da emigração portuguesa, cada vez mais secundários em termos globais, são Angola (2 mil, em 2018), Moçambique (mil, em 2016) e Brasil (600 em 2017).
E tal como em 2017, os portugueses continuam a representar uma parte importante das novas entradas no Luxemburgo (14% em 2018), em Macau (11% em 2018) e na Suíça (6% em 2018).
O 27º país do mundo com mais emigrantes
“Numa avaliação global, tudo parece indicar que as variações do volume da emigração portuguesa dependem hoje mais de mudanças de contexto nos principais países de destino do que da evolução da economia portuguesa”, lê-se no documento.
Os números confirmam a tese “de que a emigração tenderia a estabilizar-se num patamar superior ao do período pré-crise”. “Tudo indica que essa estabilização estará atingida”, com as flutuações a dependerem agora mais “de mudanças de conjuntura no destino do que na origem”, defende .
“Tal não significa no entanto que não tenhamos de desenhar políticas de fixação dos nossos jovens que estão a entrar no mercado de trabalho, ou políticas de incentivo ao regresso (de que é exemplo o programa Regressar) já que do sucesso destas políticas dependerá também uma demografia mais equilibrada do nosso país, contrariando a tendência actual de inversão da pirâmide etária e envelhecimento acentuado da população de Portugal”, refere a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas na nota introdutória do documento.
O relatório indica ainda que se mantém positivo, nos últimos dois anos, o saldo migratório em Portugal (diferença entre saídas e entradas de pessoas no país), ao contrário do que ocorreu entre 2011 e 2016.
Em 2018, de acordo com o INE, o saldo migratório (+ 11.600) mais do que duplicou face a 2017 (+ 4886).Tal como em anos anteriores, a França continua a ser o país do mundo com maior número de portugueses emigrados, “devido à grande vaga de emigração dos anos 1960/70 (595.900), seguindo-se a Suíça (217.662), EUA (178 mil), Canadá (143 mil, em 2016), Reino Unido (141 mil), Brasil (138 mil, em 2010) e Alemanha (115 mil).
Em termos de aquisição de nacionalidade por parte dos portugueses, os países com números mais elevados são a Suíça (3.285) e a França (2.500, em 2016), com o Reino Unido (cerca de 2.000) a ultrapassar os Estados Unidos (1.807, em 2017) no terceiro lugar e que representou uma subida de 55 por cento em relação a 2017, “alteração que pode ser explicada pelo ‘Brexit’.
De acordo com estimativas das Nações Unidas relativas a 2017, Portugal continua a ser, em termos acumulados, o país da União Europeia com mais emigrantes em proporção da população residente (considerando apenas os países com mais de um milhão de habitantes): o número de emigrantes nascidos em Portugal era um pouco inferior aos 2,3 milhões, “valor ligeiramente menor do que o estimado pela mesma fonte em 2015”.
Significa que continua a viver fora de Portugal, cerca de 22% da população. Somos o 27º país do mundo com mais emigrantes.
Ana Grácio Pinto