Durante dez dias, a chanfana volta a ser “rainha” de Vila Nova de Poiares, tão perto de Coimbra. O prato tradicional português, típico da região Centro — preparado com carne de cabra em caçoilos de barro — vai ter uma semana gastronómica dedicada a si. Vários restaurantes da zona prepararam menus especiais para esta edição do evento promovido pela Confraria da Chanfana.
Mas afinal o que é a Chanfana – prato que até concorreu ao concurso televisivo das 7 Maravilhs à mesa?
Chanfana é um prato de origem popular tradicional à base de carne de cabra velha, que pode levar também carne de ovelha, assada dentro de caçoilas (recipientes) de barro preto em fornos a lenha, mergulhada em vinho tinto, alho, folhas de louro, pimenta, colorau e sal. A Chanfana, por ser considerada “um bom assado” é um prato extremamente apreciado por grandes chefes de cozinha, entre os quais a sua origem é ainda alvo de aceso debate. Se Miranda do Corvo se assume como a Capital da Chanfana, Vila Nova de Poiares assume-se como a Capital Universal da Chanfana.
História do prato
Existem várias versões para o surgimento da chanfana. Nenhuma é totalmente aceite, pois são histórias populares que carecem de fundamento histórico.
No entanto, registos históricos apontam para o aparecimento da chanfana em Portugal, aquando das Invasões Francesas no início do século XIX, na região centro, mais propriamente nos distritos de Viseu e Coimbra.
Uma das versões é a de que o prato foi inventado pelas monjas do Mosteiro de Semide que, para evitar que os franceses lhes roubassem os rebanhos, mataram os animais e os cozinharam. Como os franceses tinham envenenado as águas, as monjas utilizaram vinho para a sua confecção.
Outra versão é a que liga as freiras desse mesmo mosteiro às invasões napoleônicas. Os soldados teriam confiscado todos os animais para alimentação, sobrando somente os velhos, considerados imprestáveis para alimentação, e teriam cozido as partes de cabras e bodes velhos em vinho.
A chanfana é referenciada em escritos desde o sec. XVII (Miguel de Cervantes, Bocage, Nicolau Tolentino, Miguel Torga, entre outros), que referem a esta iguaria como um prato de subaproveitamento, que teria aparecido do povo. Os que tinham menos poder económico aproveitavam tudo o que poderia originar uma boa refeição, tudo que tinham em casa: a cabra – que já não dava leite nem cabritos; o vinho – da própria adega; o louro; o alho; o azeite e o toucinho do porco.
Vila Nova de Poiares constituiu a Confraria da Chanfana e possui o registo da marca Vila Nova de Poiares, Capital Universal da Chanfana. A Confraria da Chanfana de Vila Nova de Poiares surgiu em 2001. É uma Associação Cultural sem fins lucrativos, que tem como fim específico o levantamento, defesa e divulgação do Património Gastronómico da Região das Beiras e em especial, da chanfana.
São ingredientes do prato: carne de cabra, vinho tinto, banha de porco, colorau, louro, cabeças de alho, sal e piri-piri. Para preparar,coloca-se a carne de cabra num caçoilo de barro preto e tempera-se com os ingredientes. No final, rega-se com vinho tinto que deve ser de boa qualidade. Vai ao forno de lenha, cerca de quatro a cinco horas e deixa-se lá ficar até apurar muito bem.
ANTÓNIO FREITAS
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