O encontro dos descendentes de portugueses na Ásia vai acontecer no final de junho em Malaca, cidade da Malásia onde existe um bairro português.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, o presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, assim como professores e especialistas da Indonésia, Singapura, Malásia, Timor-Leste, Austrália e Tailândia, têm previsto marcar presença entre os dias 28 e 29 de junho na cidade conquistada pelos portugueses em 1511, na época no coração de um lucrativo comércio de especiarias.
O principal objetivo do encontro é “redescobrir as nossas raízes culturais que partilhamos em comum e que todos herdámos de Portugal”, explicou o representante da minoria luso-malaia perante o estado de Malaca, Joseph Santa Maria.
Todos os participantes partilham um passado em comum: “orgulhosamente exibimos a nossa cultura e tradições respetivas que abraçamos firmemente”, contou Joseph Santa Maria que é o organizador da segunda edição da Conferência da Comunidade Luso-Asiática.
“Nós também podemos afirmar orgulhosamente que somos uma comunidade na Ásia, uma comunidade de descendentes de portugueses”, que começou nos séculos XV e XVI sublinhou.
Para o organizador, a responsabilidade da proteção da herança luso-asiática tem de passar pelos próprios. “Não podemos esperar que Portugal proteja a nossa bela herança, devemos proteger-nos para sobreviver”, frisou.
Portugal, disse, “só tem uma responsabilidade moral no que diz respeito à sua política, que é os séculos XV e XVI, nos anos da ‘grande descoberta”.
Por outro lado, Joseph Santa Maria espera que os “promotores da herança portuguesa”, não se esqueçam “do solo asiático”.
“Somos cidadãos orgulhosos dos nossos respetivos países, mas também nos orgulhamos do nosso início e da cultura e tradições que todos nós herdámos principalmente de Portugal”, sendo esse precisamente o “objetivo principal”, da segunda edição da Conferência da Comunidade Luso-Asiática, vincou.
Por fim, Joseph Santa Maria afirmou desejar que este encontro se possa realizar mais vezes, uma forma de proteger o património com a “pequena voz” das minorias daqueles que têm e que representam a herança portuguesa na Ásia.
Malaca canta o crioulo de matriz portuguesa
Sempre aos sáb ados, numa casa no bairro português de Malaca, cerca de 20 crianças cantam músicas no crioulo de matriz portuguesa ‘Kristang’. Para impedir que esta língua com mais de 500 anos morra, explicou à Lusa a professora, Sara Frederica Santa Maria.
A professoraz conta que foi a vontade de preservar a memória do pai, que morreu em 2008, e o “medo de perder a língua” que fez com que decidisse, em 2012, abrir as portas da sua casa todos os sábados, das 16h às 18h.
“O que me inspirou a ensinar ‘Kristang’ foi o meu pai. Ele fez uma pesquisa sobre o idioma no final dos anos 1980 e, antes de falecer em dezembro de 2008, disse-me que pretendia começar uma aula aqui na minha casa”, contou à Lusa a professora de 50 anos.
“Ele deveria começar as suas aulas em janeiro de 2009, mas infelizmente, faleceu em dezembro de 2008, com um ataque cardíaco”, descreveu.
Sara Frederica Santa Maria admitiu ter demorado algum tempo até decidir, em 2012, seguir o sonho que o pai nunca concretizou. “O meu pai preparou os tópicos do programa de estudos. Eu estava a ler o seu trabalho após a sua morte e decidi continuar o que ele havia deixado para trás”, explicou.
“Assim como o meu pai, também tenho medo de perder a língua, (mas…) com estas aulas semanais, consigo manter o idioma”, disse.
Neste momento, leciona cerca de 20 estudantes, dos quatro aos 14 anos e para além das músicas, ensina danças tradicionais portuguesas a estes jovens e também algumas receitas de bolos portugueses.
O ‘Kristang’ surgiu há cerca de 500 anos quando os portugueses conquistaram o porto estratégico de Malaca em 1511, uma cidade no coração de um lucrativo comércio de especiarias.
Depois de 100 anos de domínio português, a cidade foi tomada pelos holandeses, depois pelos ingleses, até à independência da Malásia em 1957.
Uma língua de misturas
O ‘Kristang’, que está ameaçado de extinção, emprega a maior parte do seu vocabulário do português, mas a sua estrutura gramatical é semelhante ao malaio e extrai as suas influências dos dialetos chinês e indiano.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o ‘Kristang’ encontra-se “seriamente ameaçado”, estimando-se que pouco mais de duas mil pessoas ainda saibam falar este crioulo de matriz portuguesa.
Este crioulo é ainda falado em algumas áreas de Malaca, como em Ujong Pasir, um dos lugares onde os descendentes de colonos portugueses na Ásia se instalaram.
“As pessoas do bairro português (onde eu moro) têm muito orgulho da sua língua, cultura e tradições”, sublinhou Sara Frederica Santa Maria.
“Enquanto o Governo de Malaca nos permitir ficar aqui como uma comunidade, a nossa cultura e tradições linguísticas viverão”, concluiu.
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