Antes da década de 40 do século XX, pelos caminhos de Portugal dificilmente encontraria castelos. As antigas fortalezas medievais estavam reduzidas a montes de pedras, só a custo se conseguiria perceber aqui ou ali um pedaço de muralha, um vestígio de escadaria ou uma torre arruinada.
O Castelo de Guimarães chegou mesmo prestes a ser demolido. Se, no ano de 1836, um dos vereadores vimaranenses tivesse votado de forma diferente, em reunião camarária, o Castelo de Guimarães teria sido demolido e a sua pedra utilizada para calcetar as ruas. Foi por um voto apenas que a proposta apresentada pela Sociedade Patriótica Vimaranense saiu derrotada.
Por esta altura, estava ainda bem viva na memória de todos a guerra civil entre os liberais de D. Pedro e os absolutistas de D. Miguel, e o castelo tinha servido de prisão política miguelista. Ainda assim, foi demolida a Torre de S. Bento, antes de, em 1881, a fortaleza ter sido classificada como “monumento histórico de primeira classe” e, em 1908, ter ascendido à dignidade de “monumento nacional”.
Com o Estado Novo, e toda a encenação que é apanágio dos regimes, ancorados em glórias passadas e palpitações nacionalistas, os castelos foram postos de pé como construções de cartolina. Em Guimarães, foi a partir de 1937 que se procedeu a obras de intervenção, surgindo aos olhos de todos um harmonioso edifício de torres direitas e ameias certinhas rodeado de árvores frondosas e de extensos relvados. É esse o castelo que hoje vemos e que podemos visitar, associando-o a D. Afonso Henriques e apelidando-o de “berço da nacionalidade”.
O Castelo de S. Jorge em Lisboa
Mas o castelo de Guimarães não é caso único. Também muitos dos lisboetas das últimas três ou quatro gerações, que se habituaram a passear no Castelo de São Jorge, não imaginam que há pouco mais de meio século aquele suposto testemunho do passado da cidade pura e simplesmente não existia.
As muralhas e torres hoje visíveis foram construídas a partir de 1938, no âmbito do programa salazarista de devolução de muitos dos monumentos nacionais a uma desejada pureza original, mas que frequentemente não passou de uma recriação livre dos edifícios ao sabor dos gostos de arquitetos e decoradores.