Uma tela que protege pessoas dentro dos carros, uma cerca que defende casas e localidades e um sistema que reduz o impacto do fogo nas estrituras dos edifícios.
Estes três sistemas são inovadores, estão pensados para proteger pessoas e bens dos incêndios florestais e foram desenvolvidos por uma equipa e investigadores da Universidade de Coimbra.
As soluções foram construídas no âmbito do projeto ‘Fire Protect – Sistemas de Proteção de Pessoas e Elementos Críticos Expostos ao Fogo’, coordenado por Domingos Xavier Viegas, professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
“Foi inspirado no trabalho que nós temos vindo a desenvolver há décadas, com o objetivo de aumentar a segurança de populações e bens, facilitando o trabalho aos agentes de combate ao fogo, e evitar tragédias como as que ocorreram no nosso país em 2017”, explica o investigador e professor.
Desenvolvidos por uma equipa de 25 investigadores da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) e do Instituto de Sistemas e Robótica da FCTUC, estes sistemas tecnológicos de proteção de pessoas e elementos expostos a incêndios florestais, traduzem-se numa cobertura (tela) para proteção de pessoas em viaturas, numa cerca para proteção de habitações e de aglomerados populacionais e num sistema de aspersão capaz de reduzir o impacto do fogo nas estruturas dos edifícios.
Tela refletora e resistente ao fogo
Uma nota da FCTUC refere que a tela de proteção de pessoas em viaturas, como, por exemplo, em autotanques de bombeiros, é refletora e resistente ao fogo.
Dos vários testes realizados tanto em laboratório como no terreno, os investigadores confirmaram que este sistema é resistente ao fogo e podem “garantir condições de sobrevivência a pessoas que estejam dentro de uma viatura”, assegura Domingos Xavier Viegas.
Também considerados “promissores” foram os testes realizados com a cerca de proteção de casas e de aglomerados populacionais.
Os cientistas ainda estão a testar diversos formatos possíveis, explica a nota da FCTUC, mas já perceberam que a solução mais simples e prática “ consiste num sistema constituído por aspersores de água, um mecanismo de bombagem autónomo com motor a diesel ou elétrico, permitindo ser operado mesmo em caso de falha de energia elétrica, e por um reservatório de água”.
As experiências realizadas, com vegetação real e com fogos de grande intensidade, demonstraram que, “com recurso a uma pequena quantidade de água, o sistema molha a vegetação de forma eficaz e consegue proteger um perímetro de algumas centenas de metros”, revela o coordenador do ‘Fire Protect’. Domingos Xavier Viegas explica ainda que a equipa verificou que “quando as chamas chegam junto dessa zona humedecida baixam a sua intensidade”.
O objetivo da cerca é “dar condições adequadas, por exemplo, a residentes que estejam a tentar proteger as suas casas quando o fogo se aproxima, para que o possam combater em segurança evitando que estejam à última hora a correr com baldes, mangueiras, etc., o que muitas vezes falha, bem como como facilitar o trabalho aos agentes de combate aos incêndios”, revela Domingos Xavier Viegas.
O terceiro sistema de proteção é um mecanismo de aspersão, dedicado a proteger a construção e que deve ser instalado no próprio edifício. Quando se aproxima um incêndio, asperge água para humedecer o telhado e as paredes de forma a reduzir as consequências do impacto do fogo, explica a FCTUC na mesma nota.
Indústria já mostrou interesse
Estas soluções inovadoras, que originaram quatro pedidos de patente, “são soluções robustas, profissionais e eficazes. Podem inclusive ser automatizadas”.
“No caso dos sistemas da cerca e de aspersão, o objetivo é proteger os edifícios mesmo quando os proprietários estão ausentes. Por isso, vamos dotar os equipamentos com sensores capazes de identificar um incêndio e emitir alertas que permitam ativar o sistema remotamente”, esclarece o professor e especialista em incêndios florestais da FCTUC.
Os investigadores estão agora a desenvolver soluções especializadas para a indústria, entre as quais instrumentos que protejam estruturas críticas, como redes de telecomunicações e de energia elétrica. E há já um interesse avançado por parte de uma operadora de comunicações móveis.
Segundo Domingos Xavier Viegas, a operadora pediu à equipa de investigadores para encontrarem “um sistema de proteção das antenas que estão espalhadas pela floresta, para evitar a destruição do equipamento de rádio que faz a transmissão de sinal”.
Com o objetivo de explorar os resultados do projeto, foi já constituída uma ‘Spin-off’ (empresas criadas a partir de um grupo de pesquisa ou de um centro de investigação) por parte da FCTUC.
Os investigadores pretendem agora criar parcerias que possibilitem a comercialização da tecnologia que estão a desenvolver.
Se a indústria mostrar interesse, o sistema de proteção de casas e de aglomerados populacionais será a primeira das três propostas a chegar ao mercado, e já este ano, avança a FCTUC.
O projeto ‘Fire Protect’ teve um financiamento de 700 mil euros do programa Mais Centro da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC).
A equipa da ADAI é responsável pela caraterização das chamas, avaliação do impacto do fogo e desenvolvimento experimental em laboratório e no terreno, assim como pela implementação de pilotos e protótipos.
O Instituto de Sistemas e Robótica da FCTUC é responsável pelo desenvolvimento de sensores e automação dos equipamentos.
Ana Grácio Pinto