O centenário da primeira edição da obra “Terras do Demo”, de Aquilino Ribeiro, começa a ser comemorado no sábado, em Soutosa, no concelho de Moimenta da Beira, alargando-se depois a outros pontos do país. A apresentação da reedição do livro, promovida pelos municípios de Moimenta da Beira, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva, pela Fundação Aquilino Ribeiro e pela Bertrand Editora, é o primeiro ponto do programa, que se estenderá até dia 14 de junho.
A casa de Aquilino Ribeiro, em Soutosa, que acolhe a fundação com o seu nome, foi o espaço escolhido para esse momento.
“Era lá que o mestre passava muito do seu tempo a escrever, a caçar e a olhar para as pessoas de que gostava tanto e para estes territórios”, que batizou de “Terras do Demo”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Moimenta da Beira, José Eduardo Ferreira.
Na sua opinião, aquilo que Aquilino Ribeiro “chamava de centralismo castrador continua hoje a precisar de ter um combate”, porque “o país não pode prescindir de nenhum dos seus territórios”.
“O mestre viu isso muito bem e nós temos de prosseguir este caminho. É esta vontade que se tem vindo a manifestar com maior incidência nos últimos anos entre os municípios de Moimenta da Beira, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva, à volta de interesses comuns e tendo como epicentro o mestre Aquilino”, frisou.
Essa estratégia já permitiu, nos últimos anos, reeditar três obras do escritor: “Cinco Reis de Gente” (Sernancelhe), “Malhadinhas” (Vila Nova de Paiva) e “O Homem da Nave” (Moimenta da Beira).
“É sintomático que o livro ‘Terras do Demo’ seja reeditado em conjunto pelos três municípios e pela fundação, porque ele corresponde a uma identidade própria deste território. Aproveitar esta oportunidade para reafirmar os valores do mestre Aquilino é uma forma de olharmos para a frente, apesar de estarmos a reeditar uma obra com cem anos”, afirmou.
O presidente da Câmara de Sernancelhe, Carlos Silva Santiago, considerou que a reedição deste livro não só “reafirma a vitalidade de um escritor como Aquilino Ribeiro no mundo literário”, mas também que estes territórios “têm um potencial muito forte” para continuarem o seu desenvolvimento.
“Com esta obra, Aquilino Ribeiro deixou-nos um legado importante que nós precisamos de agarrar e fazer dele uma oportunidade”, sublinhou.
Até 14 de junho, estão previstas várias iniciativas que envolvem estes municípios, a família do escritor, a Biblioteca Nacional, o Museu Bordalo Pinheiro, a Junta de Freguesia de Alvalade, o Mercado de Alvalade, a Universidade de Aveiro, a Companhia de Teatro Filandorra e os CTT.
A 16 de maio, a reedição da obra “Terras do Demo” será apresentada na Biblioteca Nacional, em Lisboa. No mesmo dia, decorrerá ainda o colóquio “Aquilino, os anos 20: entre o exílio e as geografias de Lisboa” e será inaugurada uma exposição bibliográfica sobre a mesma temática.
No dia seguinte, no Museu Bordalo Pinheiro, decorrerá a inauguração da exposição de ilustrações de Benjamin Rabier para a obra “Romance da Raposa”, seguida do momento “3ACTOS”, que conjuga literatura, música e desenho em palco.
Em Alvalade, no dia 18, será descerrada uma lápide de homenagem ao escritor, no edifício em que viveu. Simultaneamente, no mercado desta freguesia, os três municípios do distrito de Viseu vão mostrar produtos das “Terras do Demo”, como a maçã, o espumante, a castanha, os fumeiros e a sua cultura.
O programa inclui outros momentos culturais, o último dos quais a inauguração da exposição da obra completa do escritor, intitulada “Aquilino no Campus de Santiago”, na Biblioteca da Universidade de Aveiro.
“O mestre Aquilino Ribeiro teve uma ação enquanto escritor que determinou o legado imenso que nós podemos continuar a explorar. Nós todos: Moimenta da Beira, Terras do Demo e Portugal. Por isso, fico muito satisfeito que haja um conjunto de comemorações que se estendem de Moimenta da Beira a Sernancelhe, a Lisboa e a Aveiro”, frisou José Eduardo Ferreira.