A Universidade do Porto e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro juntaram-se para criar uma bengala eletrónica composta por vários módulos de informação geográfica e visão artificial capaz de dar informações de contexto e de suporte à navegação das pessoas com cegueira. Os primeiros testes práticos com invisuais vão acontecer hoje.
A bengala eletrónica desenvolvida pelos investigadores tem um punho (impressão 3D) que incorpora toda a eletrónica, um leitor de etiquetas de radiofrequência e uma antena na ponta que ajuda a estimar a localização do utilizador.
Inclui ainda um joystick de cinco direções – cima, baixo, esquerda, direita e centro – para fazer o interface com a aplicação móvel, um emissor de sinais sonoros, um atuador háptico (emissão de vibrações com várias durações e frequências), um transmissor Bluetooth para comunicação com o smartphone e uma bateria.
Este projeto inovador pretende “aumentar a autonomia dos cegos ou de pessoas com visão reduzida, permitindo a sua inclusão num maior conjunto de atividades e melhorando a sua qualidade de vida”, como informa um comunicado do INESC TEC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência) da Universidade do Porto que está a desenvolver a bengala eletrónica em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Os investigadores estão a criar um sistema composto por vários módulos de informação geográfica, visão artificial e uma bengala eletrónica e capaz de dar informações de contexto e de suporte à navegação dos invisuais.
Os primeiros testes práticos com invisuais vão acontecer hoje, pelas 11h30 no Edifício da Escola de Ciência e Tecnologia da UTAD, com o objetivo de aperfeiçoar todas estas tecnologias.
“Nesta fase do projeto é essencial fazermos testes com invisuais, porque há por vezes pequenos detalhes que enquanto visuais não conseguimos perceber. Foi, nesse sentido, que a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) se juntou a nós na organização destas demonstrações”, explica João Barroso, investigador do INESC TEC e docente da UTAD.
Uma bengada e uma aplicação móvel
No que diz respeito aos equipamentos em si, a bengala eletrónica, por exemplo, foi desenvolvida de forma a estender a funcionalidade da bengala branca tradicional, “adicionando-lhe a eletrónica necessária para o cego interagir com uma aplicação móvel (a aplicação de navegação) e, ao mesmo tempo, ajudar esta aplicação a localizar o utilizador”, lê-se no comunicado do INESC TEC.
“O custo desta bengala que desenvolvemos é relativamente baixo se compararmos com outras bengalas para cegos que são muito mais limitadas nas suas funcionalidades. A produção da nossa bengala, de uma forma isolada e em termos dos componentes adicionados por nós, ronda os 300 euros. No entanto, é necessário ter em conta que a bengala não funciona sozinha e a implementação do sistema envolve outros custos que, em teoria, caem sobre os instaladores, e não sobre o utilizador”, explica João Barroso.
Para a bengala funcionar é preciso que esta interaja com a aplicação móvel de navegação. É da responsabilidade da aplicação de navegação a obtenção da localização do utilizador recorrendo a outras tecnologias (GPS, Wifi, Visão por computador, entre outras), o armazenamento da informação geográfica necessária ao seu funcionamento (mapas desenvolvidos pelos investigadores numa plataforma web também desenvolvida por eles), o cálculo de rotas para pontos de interesse, o alerta sobre a existência de pontos de interesse na vizinhança do utilizador e o interface com o utilizador via áudio (texto to speech) e via háptica (bengala).
Para testar todos estes conceitos, os investigadores criaram um cenário de demonstração no polo da UTAD que, para além dos vários equipamentos referidos, vai contar também com uma maquete 3D do local para que as pessoas cegas possam utilizar no início da demonstração de modo a fazer um reconhecimento prévio do espaço dos testes através do sentido do tato.
A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) reconheceu este projeto com o Prémio Inclusão e Literacia Digital 2015, no valor de 29 mil euros. As demonstrações que agora estão a ser feitas surgem na sequência deste reconhecimento.