“É o tapete das duas vidas”, diz, sorrindo, Cátia Ferreira, ela que, desde 2007, dirige, com o marido, a Tapetes de Beiriz. Ali, na pequena freguesia da Póvoa de Varzim, em teares manuais, entre pequenos fios de lãs, “em família”, há mãos que repetem, todos os dias, um nó que passou de geração em geração.
Em palácios, teatros ou casas particulares, do Brasil à Holanda, da Angola ao Dubai, o Beiriz é “único” e está “espalhado pelo Mundo”. Agora, a comemorar 100 anos, a fábrica poveira teve uma encomenda especial: uma réplica do tapete de 1922, que decora a sala onde o Governo toma posse, no Palácio de Belém. Foi entregue pela Câmara da Póvoa de Varzim.
Este novo exemplar do tapete de Beiriz, exatamente idêntico ao anterior, foi confecionado 100% em lã e de forma manual por 7 artesãs da fábrica dos Tapetes de Beiriz.
A peça oferecida é a segunda réplica do tapete de 1922, sendo que já existe uma primeira que decora a Sala dos Embaixadores no Palácio de Belém, há 15 anos, oferecida, na altura, pela Embaixada do Brasil ao Estado Português. Este tapete tem uma novidade, sete trocas de linha propositadas feitas por cada tapeteira envolvida na produção do mesmo. Por considerar que as tapeteiras raramente são reconhecidas, Cátia Ferreira entendeu que cada mulher que trabalhou no tapete devia deixar nele a sua assinatura, “um reconhecimento mais do que merecido a estas artesãs”.
Esta encomenda especial tem 4,55 metros de largura por 7 metros de comprimento, 14 cores diferentes, sendo que nos desenhos, o clássico mistura-se com traços modernos mais arrojados, e a sua confeção envolveu mais de um mês de trabalho de equipa.
Para celebrar o momento, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, recebeu no Palácio de Belém uma comitiva poveira, liderada por Aires Pereira, presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, e mulher, Cristina Neves, a vereadora do Desenvolvimento Local, Lucinda Amorim, e os responsáveis da fábrica dos Tapetes de Beiriz, Cátia Hannemann Ferreira e Licínio Noronha Esteves Oliveira.
O tapete, uma oferta do município, é 100% em lã e foi totalmente tecido à mão por sete tecedeiras da Fábrica Artesanal de Tapetes Beiriz durante seis semanas, e substitui a anterior réplica que se encontrava nesta sala do Palácio de Belém.
O chamado tapete de Beiriz é um produto de artesanato rústico em lã, originário da freguesia de Beiriz, concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, em Portugal.
Estes tapetes celebrizaram-se pelo chamado “ponto de Beiriz”, mas também pelo “ponto estrela” e pelo “ponto zagal”. A sua característica mais notável é o facto de o desenho do tapete se manter quando este é virado do avesso.
Estas peças de artesanato são produzidas em teares 100% manuais, sendo este um trabalhoso extremamente minucioso e que envolve grande pericia.
A sua origem está na antiga fábrica de Tapetes Beiriz, cuja fundação data de 1919, tendo encerrado as suas atividades na década de 1970.
Em 1919, Hilda Brandão, uma aristocrata Portuguesa criada no Brasil a viver em Beiriz, Povoa de Varzim, decide reavivar a tradição da tapeçaria e introduz a técnica do nó Turco, que rapidamente ganhou a designação de nó Beiriz. Com sucesso imediato, o negócio rapidamente cresceu para a forma de uma sólida industria.
Em 1988, uma empresária alemã vê na arte de Beiriz uma oportunidade para erguer um negócio. Assim, adquiriu alguns dos teares da antiga empresa e recrutou alguns dos seus ex-trabalhadores, possibilitando que Beiriz voltasse a ver produzidos os seus amados tapetes. Foi graças à perseverança do casal José Ferreira / Heidi Hannamann, em 1988, recomeçou a produção de tapetes de Beiriz, tendo-se recrutado algumas artesãs da antiga fábrica. Evitou-se, assim, o desaparecimento desta técnica, o que representaria uma perda inestimável para o artesanato local e nacional. Para além de casas particulares, os famosos Tapetes de Beiriz podem ser vistos e pisados nos salões nobres das Câmaras Municipais do Porto e de Lisboa,Teatros Nacionais, Palácios, bem como no Tribunal Internacional de Haia (Países Baixos).
Angola é um dos principais mercados para este tipo de tapeçarias, sendo que estas podem ser apreciadas em quase todos os edifícios públicos, governamentais e institucionais. Manufaturados em teares de madeira, extremamente rústicos, os tapetes de lãs cortadas, trabalhadas nos pontos que os tornaram célebres (o “ponto de Beiriz”, o “ponto estrela” e o “ponto zagal”), apresentam desenhos originais, tendo as flores como tema predominante. As mulheres, no tear, “cantam” as cores dos cartões e, com uma perícia notável, criam modelos de tapeçaria fina que fazem do Tapete de Beirizum excelente embaixador do artesanato do concelho.
Para além do primor de execução e acabamentos, os tapetes de Beiriz têm como característica única o facto de o seu desenho poder ser visto pelo avesso.
A Fábrica de Tapetes de Beiriz fica na
Rua Comendador Brandão,484 em Beiriz