A arte adquirida com o dinheiro do açúcar produzido na Madeira, entre os séculos XV e XVI, desde pintura, escultura e ourivesaria, está em exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, até 18 de março de 2018.
A cana do açúcar que ainda se cultiva em engenhos na região norte da Madeira, como em Porto da Cruz, foi de uma importância fulcral para a ilha e para Portugal. A cana-de-açúcar terá começado a ser importada da Sicília pelo Infante D. Henrique, um projeto de rápida expansão. O consumo do açúcar, denominado ‘ouro branco’ aumentou assim por toda a Europa, alterando hábitos alimentares e algumas práticas medicinais.
A produção de açucar levou riqueza ao arquipélago e permitiu adquirir inúmeros objetos de arte. Para dar a conhecer essa arte adquirida com o dinheiro do açúcar entre os séculos XV e XVI, o Governo Regional da Madeira trouxe até Lisboa a exposição ‘As Ilhas de Ouro Branco’. Até 18 de março do próximo ano, exemplares de pintura, escultura e ourivesaria, podem ser admirados no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, numa mostra que marca ainda o arranque das comemorações dos 600 anos do Descobrimento da Madeira e ilustra a especificidade da encomenda artística madeirense a oficinas nacionais, espanholas e flamengas.
Foi perante o Presidente da República, no MNAA, que a Madeira deu início às comemorações dos 600 anos do descobrimento do arquipélago. ‘As Ilhas de Ouro Branco’, revela várias obras de diferentes espaços da Madeira e Porto Santo, com especial ênfase para a arte sacra. “Um espólio fundamental da nossa presença no mundo”, como referiu o Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuqueque, acrescentando que a Região surge como “o primeiro alicerce da nossa epopeia marítima, afirmando a vocação atlântica do país, enquanto centro de intercâmbio comercial , financeiro e cultural”.
Uma mostra “riquíssima e única”
A exposição “singular, riquíssima e única, que nos obriga a refletir sobre a história de Portugal e sobre a sua dimensão marítima”, está patente no MNAA (Rua das Janelas Verdes, bairro de Alcântara) até março do próximo ano, mas Miguel Albuquerque gostaria de a levar até ao Porto e, se possível, além fronteiras, à diáspora madeirense no mundo.
São 86 obras de arte, entre pintura, escultura, ourivesaria e artes decorativas, que a produção de açucar comprou naquele período de grande prosperidade económica. Naquele época, os ricos negociantes de açúcar importavam trípticos e retábulos de importantes pintores flamengos, esculturas religiosas, alfaias litúrgicas em ouro e prata.
‘As ilhas do Ouro Branco – Encomenda Artística na Madeira (séculos XV-XVI)’ dá espaço a “uma história que merece ser contada, e que se enquadra totalmente na missão do Museu de Arte Antiga: de estudar, afirmar e divulgar o património nacional”, como sublinhou o diretor do MNAA, António Filipe Pimentel. Entrando pela Rua das Janelas Verdes a exposição abre com um vídeo que ocupa uma parede da sala de entrada, onde são exibidas imagens da natureza, “que estão na base do encantamento que a ilha da Madeira provocou”, como salientou um dos comissários, Francisco Clode de Sousa. “Era uma terra virgem, um paraíso, onde não havia população autóctone e foi uma tarefa ciclópica desbravá-la”, apontou, recordando o início do povoamento da Madeira, no século XV. A Madeira deve o seu nome ao arvoresdo denso que povoava a ilha nessa época.
Fernando António Baptista Pereira, outro dos comissários, recordou que foram os cereais o primeiro ciclo económico do arquipélago, só depois substituídos pelo açúcar. Foi este ‘ouro branco’ escoado para os mercados europeus, numa altura em que o açúcar ainda era raro e caro, que proporcionou um enorme desenvolvimento na ilha.
Imagens da “terra do renascimento”
Os mercadores que levavam o açúcar para Bruges e Antuérpia, entre outras cidades da Flandres, regressavam regularmente à Madeira com muitas obras de arte, sobretudo de caráter religioso, escultura, pintura, artes decorativas e ricas peças de ourivesaria.
Na exposição, está em destaque uma Virgem e o Menino do século XVI, proveniente da Flandres, “a mais importante e emblemática escultura da Madeira, com extraordinária qualidade do entalhe escultórico”, apontou.
Outras obras da Flandres são o Retábulo dos Reis Magos, de uma oficina de Antuérpia, de 1530, um óleo sobre madeira dourada e policromada, e o tríptico de Jan Provost, da escola flamenga, de 1529, com Nossa Senhora da Misericórdia ao centro, ladeada pelos santos Cristóvão, Paulo, Pedro e Sebastião.
Na inauguração oficial, o Presidente da República começou por dizer que esta exposição “merece ser desfrutada pelo maior número de portugueses”, explicando o enquadramento histórico que considera ter representado na altura “uma utopia”. “A possibilidade de uma ilha representou o sonho e oportunidade de construir em território virgem”, mencionou Marcelo Rebelo de Sousa. Citando Herberto Hélder, disse ainda que “esta é verdadeiramente a génese da saga madeirense, a terra do renascimento: onde se nasce, de onde se parte e onde inevitavelmente se regressa”.
Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, referiu, por sua vez, que a exposição retrata os 500 anos da diocese da Sé e inicia a celebração dos 600 anos da descoberta e colonização da Madeira. “Iniciamos da melhor maneira, porque na verdade esta é uma exposição singular, riquíssima e única que obriga-nos a reflectir sobre aquilo que foi a história do nosso país e sobretudo a estratégia que foi adoptada”, referiu o presidente do Governo Regional, salientando que “Portugal teve na sua estratégia atlântica uma posição no Mundo que lhe permitiu ser uma das grandes potências mundiais”, sendo “fácil perceber a partir da exposição aquilo que somos hoje”.
A exposição pode ser visitada de terça a domingo, das 10h às 18h, com entradas a seis euros.
A partir do dia 24 de Novembro, o museu organiza visitas guiadas à exposição todas as quartas, sextas e domingos às 15h30 – exceto nos dias 1, 8, 24 e 31 de dezembro – com o custo de três euros. Mais informações em: http://museudearteantiga.pt/exposicoes/as-ilhas-do-ouro-branco