Liuba, Arlene, Daniela e Irene são algumas das bolseiras que frequentaram durante o mês de julho, o Curso de Verão do Camões, I.P. Vieram de Rússia, EUA, Espanha e Colômbia, respetivamente, onde aprendem uma língua que é como “um assobio, um sussurro”…
Camões, I.P. desenvolve uma variedade de programas de bolsas de estudo. Um deles é o Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesas, com duração de um mês e ministrado em julho e agosto em universidades portuguesas ou em instituições reconhecidas pelo Instituto. Destinam-se a estudantes estrangeiros e portugueses que residam no estrangeiro e que pretendam aperfeiçoar a sua competência linguística. Liuba, Arlene, Daniela e Irene são algumas das bolseiras que frequentaram este curso no passado mês de julho.
Natural da Sibéria, Liuba Borisova frequenta a licenciatura em Relações Internacionais na Universidade Estatal de Moscovo Lomonossov. A Língua Portuguesa foi-lhe atribuída há três anos, quando iniciou o curso. “Na universidade há duas línguas estrangeiras obrigatórias: o inglês e uma outra. A mim foi destinada a Língua Portuguesa e senti-me muito afortunada, assim como os restantes colegas da minha turma”, explicou, acrescentando que a disciplina acompanha os seus estudos ao longo dos quatro anos da licenciatura.
O empenho na compreensão desta língua tão diferente da sua começou mal soube que lhe tinha sido atribuída: estudou-a sozinha nos dois meses que antecederam a entrada na universidade e o facto de já falar espanhol, facilitou a aprendizagem. Na faculdade aprende história, economia e política externa do Brasil, mas em termos linguísticos é ensinado o Português de Portugal.
Liuba tem aulas cinco vezes por semana: gramática, vocabulário, literatura e também tradução, sempre no âmbito da língua como instrumento para a diplomacia. Quanto ao Curso de Verão, explica que veio acrescentar um “imenso conhecimento” da língua, cultura e história portuguesas, informações que poderão ser úteis no seu percurso profissional.
“Mergulhar totalmente” no Português
Irene Candia Roqué veio de Espanha, onde terminou a licenciatura em Tradução e Interpretação, e escolheu Português pela sonoridade da língua, tanto no sotaque português como no brasileiro. O Curso de Verão permitiu-lhe aumentar os conhecimentos adquiridos no decorrer da licenciatura e ajudaram a aperfeiçoar sobretudo a pronúncia, “que ainda está muito misturada com o espanhol”. Mas deu-lhe ainda a possibilidade de regressar a Lisboa, uma das suas cidade favoritas, e de conhecer um pouco mais sobre o que é viver em Portugal. Como o Português será uma das suas ferramentas de trabalho, Irene diz que este Curso de Verão “foi uma oportunidade óptima” para aperfeiçoar os conhecimentos no só da língua portuguesa, “mas também da cultura e da maneira de viver”. “E para fazer uma boa tradução é preciso conhecer também a cultura”, sublinha.
Dos Estados Unidos da América, mais precisamente de Long Island, chegou Arlene Lopez, que frequenta duas licenciaturas, Neurociências e Política, no Queens College, do City University of New York. Durante uma estadia em Barcelona, Espanha, aproveitou para conhecer Lisboa e o interesse que a cidade lhe despertou, aliado “à possiblilidade de trabalhar num mercado enorme como é o Brasil”, levou-a a decidir aprender Português, no regresso aos EUA. Integra há seis meses uma das duas turmas de Língua Portuguesa da universidade, ambas frequentadas por mais de 30 alunos, num curso que se prolongará até junho de 2018. Mas já se decidiu por continuar os estudos para “melhorar a conversação e aprender Português a nível profissional”.
Arlene diz que a frequência do Curso de Verão do Camões, I.P. lhe deu a perceção de que é diferente do que estava a aprender na universidade. A começar pelo facto de em Lisboa a professora só falar com os alunos em Português. “O que que nos fez ter uma maior concentração e a ‘mergulhar’ totalmente na língua”, destaca. E assegura que, apesar de não ter “ainda totalmente definido” o que irá fazer profissionalmente, assume que vai necessitar da Língua Portuguesa.
A elegância da língua
Da Colômbia veio Daniela Villamizar, recém-licenciada em Artes Visuais na Pontificia Universidad Javeriana, em Bogotá. Também no seu caso o Curso de Verão proporcionou um contato intenso com a língua, enquanto estudante, já que apesar de se expressar bem, não tinha ainda frequentado aulas de Língua Portuguesa. Ao contrário de duas das entrevistadas, não foi o Brasil o principal motivo para aprofundar os conhecimentos. “Na minha vida tive sempre contato com o português do Brasil, mas descobri há três anos atrás o sotaque de Portugal e percebi a elegância do Português de cá. Vim a Lisboa em 2014, apaixonei-me pela cidade e decidi que um dia teria que vir cá morar”, revela. A maneira de concretizar essa vontade foi a elaboração, no âmbito da tese de licenciatura, de um roteiro para um documentário que tinha como personagem principal um artista colombiano a viver em Lisboa. Retomou agora o projeto, a pensar mais seriamente na hipótese de morar em Portugal. “Se aprendo uma língua é porque há uma conexão forte com o país, a cidade, a cultura… Nunca tinha estado nos meus planos estudar Português, mas agora que estou cá, sinto-me como uma natural do país”, confessa.
Para Daniela, a maior dificuldade no Curso de Verão foi perder a vergonha de falar em público, receio que relaciona com a fonética da Língua Portuguesa. Ultrapassada a dificuldade, reconhece que o mês que passou a estudar, ler e falar Português “foi muito importante” justamente por tê-la colocado em contato direto com esta língua, todos os dias. “Percebi melhor, por exemplo, questões gramaticais básicas como os artigos – é uma língua que tem artigos para tudo”, diz a rir.
Como “um assobio, um sussurro”
Uma opinião comum às quatro bolseiras foi o facto do Curso de Verão ter-lhes dado um ‘bónus’: durante um mês, o Português fez parte do quotidiano diário. Desde o momento em que saíam de casa até à altura de regressar, foi nesta língua que comunicaram. Arlene achou graça à palavra “não”, por ter um som anasalado “difícil de pronunciar”.
Daniela descobriu que adora palavras “muito portuguesas”, como ‘portanto’ e ‘pois’. Liuba revela que Portugal é agora sinónimo de “maravilhoso”, “sol”, “bacalhau”, “Lisboa e o Bairro Alto”, “universidades” e “pastéis de nata”. E Irene diz que a Língua Portuguesa é como “um assobio, um sussurro”.
No regresso a casa, levam na bagagem um melhor conhecimento da Língua Portuguesa, e ainda algo mais. Arlene leva “as gentes”, as “muitas pessoas boas” que conheceu, o clima, o “belo rio tejo e as ruas de Lisboa”. Daniela confessa que sentirá saudades da “preciosa” luz natural da cidade, também do rio Tejo, da arquitetura e da gastronomia e de caminhar pelas “ruas estreitas”. Liuba diz que leva consigo “as pessoas abertas e simpáticas” e a arquitetura lisboeta. Irene levará as saudades de Lisboa, cidade que diz adorar “imenso”.
E há ainda duas promessas comuns às quatro bolseiras: a da continuidade na aprendizagem da Língua Portuguesa e a de um regresso a Portugal…
Ana Grácio Pinto
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