Portugal produz cerca de 250 mil toneladas de pera rocha e exporta 60% da sua produção. A campanha da apanha está no início e prolonga-se por três semanas de trabalho intenso. Domingos Santos, diretor da FRUTOESTE e hortofruticultor, fala desta cooperativa e do setor em Portugal
A FRUTOESTE – Cooperativa Agrícola de Hortofruticultores do Oeste, CRL, foi criada em 1977 com 19 associados, mas só em 1988 iniciou a sua actividade com a construção da central fruteira que presentemente mais que triplicou a sua área.
Com cerca de 160 associados refere, Domingos Santos, 52 anos de idade e 19 anos como diretor da FRUTOESTE salientando a produção aumentou em muito dado os associados terem aumentado a área de produção
MP- Já se disse ou ouviu que a “pera-rocha é o petróleo da região Oeste em Portugal”. Como profissional do setor e atendendo aos anos em que esta à frente desta cooperativa quer-nos comentar?
Domingos Santos – O “petróleo” aqui do Oeste são as pessoas! Conheço muito bem o meu país agrícola e sei que aqui, vive-se a agricultura – até por uma razão histórica, diferente do que se vive noutras regiões.
E quando digo isso nada tem a ver com o código genético. Tem a ver que estamos muito perto de um grande centro de consumo que é Lisboa: a zona saloia sempre abasteceu Lisboa e isso veio provocar uma dinâmica na agricultura diferente. O ciclo de um hortícola é diferente do ciclo de um cereal, ou da vinha. Aqui os fruticultores tem que acompanhar o pomar o ano inteiro e o “petróleo” da região do Oeste são as pessoas… é esta dinâmica!
O Oeste tem pecuária, vinha hortícolas, frutas. É uma região que já extravasou o maciço de consumo que era a área metropolitana de Lisboa.
Os transportes fáceis é uma história recente no nosso país e, as frutas e produtos agrícolas que aqui se produzem são vendidos, há uns anos a esta parte, para o mundo e, largamente exportados.
A pera-rocha tem um papel importante aqui. Foi uma variedade, encontrada no pomar do Sr. Rocha em Colares em 1836 e as pessoas souberam aproveitar e tem feito um trabalho profícuo!
MP- A Fruotoeste recebe quantas toneladas de pera-rocha?
DS- Entre 8 a 10 mil toneladas mas aqui na região há mais de 20 organizações de produtores e alguns produtores com os seus centros de recolha e a sua máquina comercial montada, dado a sua dimensão. As centrais fruteiras como a nossa trabalha não só a pera-rocha, mas também o limão e as maçãs e mais algumas frutas de época.
MP- A pera-rocha tem qualidade e atributos diferentes que a colocam num produto de elevado potencial exportador. Quer nos referir?
DS- A grande capacidade que ela tem é a capacidade de conservação ao frio e de resistência, o que lhe dá grandes vantagens competitivas!
Conseguimos ao fim de 8 a 9 meses de conservação, embalá-la coloca-la dentro de um contentor e fazer três semanas de transitário no navio até ao Brasil, Canadá ou outras paragens mais longínquas. Isso confere-lhe características singulares e com qualidade.
MP- Refere que pera-rocha é exportada em grande escala. Quer nos falar do mercado de exportação deste fruto?
DS- Sou presidente da Associação Nacional dos Produtores da Pera-Rocha (ANP) e por vezes não exportamos mais porque a política se sobrepõe à relação económica!
De ano para ano temos vindo a aumentar a produção de pêra rocha em área de pomar instalado. Sessenta por cento (60%) da nossa produção é exportada e é exportada para diversos países. O nosso principal mercado de exportação é o Brasil, Inglaterra, (os mercados mais tradicionais) depois França, Alemanha e Marrocos. No Brasil os brasileiros deram-lhe o nome da pera portuguesa. França e Marrocos eram exportadores de pera e passaram a importadores, devido à doença que afetou os pomares (fogo bacteriano).
Em Portugal temos Pera Rocha na zona de Mangualde, Moimenta da Beira, passando por Ferreira do Zêzere, até ao Alentejo, mas as nossas condições climatéricas – o clima desta região, faz com que aqui seja a maior zona de produção e com qualidades acrescidas, em relação a outras regiões de Portugal!
MP- Exportar mais é o objectivo…
DS- Sempre exportar mais é esse o objectivo e o caminho. Não podemos descurar o mercado nacional que é importantíssimo. Com a instalação de novos pomares, cada vez há mais produção, desta e doutras frutas e é necessário exportar. Procurar novos mercados e novos destinos, é o desafio. Os acordos fitossanitários por parte das entidades competentes, com países como a Jordânia, México, EUA, estão no bom caminho para depois entrarmos na parte comercial e vendermos. Os acordos de importação da UE, (de fora da UE para dentro da UE) são feitos todos eles a nível colectivo, mas o inverso não é a mesma coisa. Imagine se um país da UE quiser vender as peras para os Estados Unidos, tem que país a país fazer o protocolo, o que do meu ponto de vista não é correcto nem honesto e muito moroso! A autoridade fitossanitária nacional tem feito um trabalho muito profissional e válido, dado que é um trabalho complicado e complexo e a DGAF tem feito um bom trabalho.
Depois é ir às feiras internacionais, missões empresariais e identificar novos mercados e há muito trabalho a fazer pois não é fácil chegar a um mercado onde o consumidor nunca comeu pera-rocha e de um momento para o outro, por o consumidor a consumir. Por isso é necessário um grande trabalho de promoção no consumo, dar a conhecer o produto.
O nosso cliente não é o consumidor final e aí temos que dar aos nossos clientes, que nos importam a fruta, ferramentas para que eles possam promover o consumo junto desse consumidor final.
O potencial produtivo instalado em Portugal anda na ordem das 220 a 250 mil toneladas. A campanha está à porta, é um fruto colhido à mão, não é possível a mecanização da apanha e, todos os produtores necessitam e empregam muita mão de obra. Neste momento, o país, neste sector da mão de obra no sector frutícola não tem mão de obra suficiente para os empresários e os agricultores responderam ás exigências. Não há mão de obra suficiente e quando a há, a parte burocráticas para empregar em Portugal, em trabalhos mais sazonais e não só; é muito complicada! Muito complicada.
MP- A vossa presença no SISAB PORTUGAL é uma constante…
DS- Já vamos há uns anos ao SISAB PORTUGAL e eu, pelo menos tenho dinamizado muito as frutas e hortícolas no SISAB PORTUGAL, há 10 anos a esta parte, por via da FENOP. Agora estamos todos os anos em todas as edições, com stand próprio e é importante darmos a conhecer aquilo que produzimos. Apesar da maioria das empresas e importadores estrangeiros por vezes não mandarem os responsáveis pelas compras do sector das frutas, ao evento dado Portugal não ser visto internacionalmente como um grande produtor. De verdade começou a ter essa dimensão há uma década.
Temos trilhado esse caminho de comunicar o potencial de Portugal na área frutícola e o SISAB PORTUGAL é para continuar, dado ser em Portugal o único evento virado para a exportação e sabendo que a organização vai apostar em trazer mais pessoas interessadas neste setor, até junto de nós, para exportar cada vez mais.
A origem da Pera Rocha
A pera-rocha é uma variedade de pera, originária de Sintra. Mais precisamente na Ribeira de Sintra na Terra da Rocha , propriedade explorado por António Guilherme , negociante de fruta. Presentemente a sua produção encontra-se abrangida por uma Denominação de origem protegida e fica situada na região do Oeste, pelo que passou a ter o nome de pera-rocha-do-oeste. No Brasil ela é conhecida como pera-portuguesa.
Em 1836, com origem numa árvore obtida por semente ocasional,foi identificada uma pereira diferente, na propriedade “terra da Rocha” de Pedro António Rocha, situada no concelho de Sintra, mais precisamente na Ribeira de Sintra cujos frutos eram de uma qualidade invulgar. Esta pera passou a ter a denominação de “Pera Rocha do Oeste”.
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