Do Castelo de Montalegre a vista alcança as serras do Gerês (a Oeste) e do Larouco (a Leste), o curso do rio Cávado (a Norte) e a povoação, a poucos quilómetros da fronteira com a Galiza.
Acredita-se que o povoamento daquele lugar seja tão antigo que remonta a um castro pré-histórico (povoados da Idade do Cobre e da Idade do Ferro).
Foi depois sucessivamente ocupado por Romanos – há moedas e lápides recuperadas na área que o comprovam -, Suevos e Visigodos em 585. Posteriormente foi atacado pelos muçulmanos várias vezes, na época da Reconquista cristã da Península Ibérica, desde os meados do século VIII.
Implantado no topo de um monte granítico o castelo de Montalegre é uma estrutura militar medieval que fez parte do projeto de reorganização da fronteira a este e a oeste de Chaves levado a cabo por por D. Afonso III (1210-1279), que queria dotar a fronteira transmontana, daquele lado, de uma efetiva ordem territorial e jurídica que dependeria da autoridade real. Queria o rei que a região fosse povoada e em 1273, outorgou Carta de Foral à povoação, tornando-a ‘cabeça’ das chamadas Terras de Barroso.
Mas no reinado de D. Dinis (1279-1325), que garantiu à vila grandes privilégios em 1289 visando o seu povoamento, tal ainda não tinha acontecido como era esperado. Efetivamente, antes de terminar o século XIII, D. Dinis viu-se obrigado a doar nova carta de foral a Montalegre (em 1289) e a entregar a tarefa de povoamento a Pedro Anes, esclarecendo ainda que, por esses anos, “a póvoa se encontrava erma (despovoada)”.
O castelo
A construção do castelo deverá ter começado por altura de 1273, para ser concluída em 1331 no de D. Afonso IV (1325-1357), conforme indica uma inscrição no sopé da torre sul. O projeto inicial do castelo deveria incluir as três torres remanescentes integradas no perímetro muralhado: a Torre Furada é a única de planta quadrangular, fazendo-se o acesso ao interior através de duas portas, uma das quais decorada com a cruz da Ordem de Cristo. As outras duas torres, a Pequena e a do Relógio, são de planta retangular e de menor altura.
Apesar do pequeno espaço do recinto, com um pátio muralhado dotado de cisterna, o castelo conserva as principais características de uma fortaleza gótica: o formato oval, as muralha entrecortados por torres quadrangulares e retangulares e uma torre de menagem não isolada no centro do pátio. O castelo incluía ainda duas portas, de que resta apenas a do lado nascente.
A torre de menagem (na imagem, à esquerda) é a principal peça do castelo. Mais alta que as outras torres é a principal marca de poder do castelo e da vila, aliando o impacto cenográfico ao aspeto imponente da sua técnica de construção: o acesso ao interior é feito por uma única porta elevada, o que torna esta torre numa unidade independente do restante reduto em caso de invasão.
À época da crise de 1383-1385, a vila e seu castelo tomaram partido por D. Beatriz, para serem incorporados, após a batalha de Aljubarrota, pelas forças de D. João I (1385-1433) no contexto da campanha a Chaves e ao norte de Portugal.
As terras de Barroso foram oferecidas ao ‘Condestável’, D. Nuno Álvares Pereira. Sob o reinado de D. Manuel I (1495-1521), a povoação e seu castelo reeberam novo Foral Novo (em 1515).
Nesse século o castelo teve obras de reparo para reforço da entrada principal, que passou a estar protegida por um reduto de torres circulares.
Uma casa, uma cisterna e fornos de pão
O terramoto de 1755 não causou praticamente danos ao castelo. O então pároco de Montalegre, Padre Baltazar Pereira Barroso, revelava em 1758 que no terreiro interior das torres levantava-se a casa do governador do castelo.
Referia-se ainda à cisterna, a fornos de cozer pão e a diversas escadas que do terreiro davam acesso às torres. Descrevia ainda o revelim existente junto da porta do norte, por onde se entrava para o terreiro e explicava o dispositivo defensivo dessa porta que era a principal entrada da fortaleza. Alude às tarimbas dos soldados, às casas de oficiais e sargentos e às cavalariças então existentes junto do castelo. O segundo e o quarto andares da torre de menagem, que eram de madeira, estavam em ruínas.
O castelo, de propriedade do Estado portugês, voltou a ser intervencionado no século XVII, no âmbito das Guerras da Restauração. Datam dessa altura diversos baluartes e revelins, de panos em ponta de estrela, característicos deste período.
Foi este o conjunto que chegou até aos nossos dias e que, em 1910 foi classificado como Monumento Nacional. Em 1990, albergou um núcleo museológico, tendo-se desenvolvido, nos últimos anos, algumas escavações exploratórias do local.
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