O primeiro jesuíta a sentar-se na cadeira de São Pedro, o primeiro Papa vindo da América do Sul, o primeiro Sumo Pontífice não europeu em mais de 1200 anos, o cardeal Jorge Bergoglio escolheu o nome de Francisco, numa referência a São Francisco de Assis e inspirado na “simplicidade e dedicação aos pobres”.
Pode dizer-se que o Papa Francisco tem seguido fielmente os princípios inspiradores de São Francisco de Assis. A sua simplicidade tem-se traduzido numa popularidade poucas vezes vista vista, sobretudo junto dos não-crentes que admiram o despojamento de atitudes e gestos de um Papa que tem privilegiado a ação apostólica e pastoral junto das periferias, dos que mais necessitam de carinho e apoio.
Desde a escolha da Casa de Santa Marta para viver, onde celebra missa diariamente e toma refeições com os restantes residentes, deixando o Palácio Apostólico, às frequentes saídas do Vaticano, algumas delas para gestos tão simples e inesperados como a compra de sapatos ou de óculos, Francisco tem marcado uma mudança de atitudes e comportamentos na Cúria Romana que encontra um eco extremamente positivo nos média, raramente atingido nos tempos modernos pelos seus antecessores. Este é um Papa que faz telefonemas pessoalmente, vai pagar a conta da sua estada na Domus Paulus VI, onde esteve alojado para o conclave que o elegeu, e não esconde o seu gosto pelo futebol nem pelo clube de que é adepto (o San Lorenzo de Almagro, da Argentina).
O cardeal Jorge Bergoglio foi eleito sucessor de Bento XVI em 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito. Ao aparecer na varanda da Basílica, pediu aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro, em Roma, que rezassem por ele, antes de os despedir com um “boa noite e bom descanso”: “E agora quero dar a bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim”, pediu.
Com 80 anos de idade, acabados de cumprir, o Papa Francisco já visitou quatro continentes e realizou algumas viagens simbólicas, incluindo deslocações a Lampedusa, em Itália, e à ilha de Lesbos, na Grécia, locais de acolhimento dos refugiados e migrantes que atravessam o Mediterrâneo, e uma passagem pelo campo de concentração de Auschwitz, Polónia, além de outras visitas a países, regiões e paróquias da diocese de Roma. As Filipinas acolheram, em 18 de janeiro de 2015, a maior celebração do atual pontificado, junto ao estádio Quirino Grandstand, na área do Parque Rizal, com seis milhões de participantes, o que representa um recorde na história da Igreja Católica.
Um argentino de ascendência italiana
Jorge Bergoglio nasceu na capital argentina no dia 17 de dezembro de 1936, filho de emigrantes italianos do Piemonte. O seu pai, Mário, trabalhava como contabilista no caminho de ferro e a sua mãe, Regina Sivori, ocupava-se da casa e da educação dos cinco filhos. Diplomou-se como técnico químico e depois escolheu o caminho do sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto.
Em 11 de março de 1958, entrou no noviciado da Companhia de Jesus. Completou os estudos humanísticos no Chile e, tendo voltado para a Argentina, em 1963, licenciou-se em Filosofia no Colégio de São José, em San Miguel. De 1964 a 1965, foi professor de Literatura e Psicologia no Colégio da Imaculada de Santa Fé e em 1966 ensinou estas mesmas matérias no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou Teologia, licenciando-se também no Colégio de São José. A 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote pelo arcebispo D. Ramón José Castellano e, de 1970 a 1971, deu continuidade à sua preparação em Alcalá de Henares, Espanha, tendo feito a profissão perpétua nos jesuítas a 22 de abril de 1973.
Regressou à Argentina, onde foi mestre de noviços na Villa Barilari, em San Miguel, professor na Faculdade de Teologia, consultor da província da Companhia de Jesus e também reitor do colégio. A 31 de julho de 1973, foi nomeado provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos. Depois, retomou o trabalho no campo universitário e, de 1980 a 1986, foi novamente reitor do Colégio de São José e, inclusive, pároco em San Miguel. Em março de 1986 partiu para a Alemanha, onde concluiu a tese de doutoramento, para, de seguida, os superiores enviarem-no para o Colégio do Salvador, em Buenos Aires, e posteriormente para a Igreja da Companhia de Jesus, na cidade de Córdova, onde foi diretor espiritual e confessor.
Em 28 de fevereiro de 1998 tornou-se arcebispo de Buenos Aires – funções que desempenhou até ser eleito Papa – e cerca de três anos depois, em 21 de fevereiro de 2001, foi elevado ao cardinalato por João Paulo II. Foi nessa condição que participou nos dois últimos conclaves, o de 2005, que elegeu o cardeal Joseph Ratzinger como Papa, e o de 2013, no qual foi eleito Papa, em 13 de março, na sequência da renúncia de Bento XVI.
A ligação a Fátima
Tal como Paulo VI, há 50 anos, embora em contextos diferentes, o Papa Francisco desloca-se de 12 a 13 de maio à Cova da Iria, como “peregrino entre peregrinos”, desta vez para assinalar os 100 anos das Aparições de Fátima. Numa conjuntura totalmente diferente, mas com motivações idênticas, Francisco viaja até Fátima para, com os portugueses, rezar junto da Imagem da Virgem Maria, num dos maiores santuários marianos do mundo. A visita efetua-se a convite dos bispos portugueses e do Presidente da República, mas, como há 50 anos, cinge-se apenas a Fátima, sinal da devoção mariana do Santo Padre.
A ligação de Francisco a Nossa Senhora de Fátima iniciou-se oficialmente dois meses depois de ser eleito Papa, quando os bispos portugueses, a seu pedido, entregam o seu pontificado a Nossa Senhora de Fátima, durante as celebrações do 13 de maio, na Cova da Iria. Exemplo da sua devoção mariana foi também o pedido expresso de que a Imagem de Nossa Senhora que se venera na Capelinha das Aparições fosse a Roma para o encerramento da Jornada Mariana, promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização no âmbito da celebração do Ano da Fé.
Em 2015, o Papa Francisco associou-se à celebração do 13 de maio, ao evocar em Roma alguns dos conteúdos centrais das aparições aos três videntes, que tiveram lugar na Cova da Iria entre maio e outubro de 1917. Durante a catequese do dia 13 de maio de 2015, o Papa pediu ao leitor português presente na Praça de São Pedro, em Roma, que rezasse em voz alta uma ave-maria, assinalando o dia em que a Igreja recorda Nossa Senhora de Fátima: “Peço ao meu irmão português, neste dia de Nossa Senhora de Fátima, que reze com todos em português”.
Francisco manifestou a intenção de estar em Fátima na peregrinação internacional aniversária de maio, vontade que foi transmitida aos bispos portugueses em setembro de 2015, no início da visita ad limina: “tengo ganas de ir a Fátima” (“quero ir a Fátima”).
A visita ‘ad limina’ – ‘aos túmulos dos Apóstolos’, em Roma -, consiste na obrigação de os bispos diocesanos de um país se deslocarem a Roma, de cinco em cinco anos, para apresentarem um relatório sobre a situação pastoral nas suas dioceses e refletirem com o Papa, ouvindo os seus conselhos e recomendações. Na audiência geral de 11 de maio de 2016, o Papa Francisco associou-se à celebração do 13 de maio na Cova da Iria e recordou a devoção de João Paulo II por Nossa Senhora de Fátima: “Nesta aparição, Maria convida-nos mais uma vez à oração, à penitência e à conversão”, disse o Pontífice, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.
Francisco será o quarto Papa a visitar Portugal, depois de Paulo VI (13 de maio de 1967), João Paulo II (12 a 15 de maio de 1982, 10 a 13 de maio de 1991, 12 e 13 de maio de 2000) e Bento XVI (11 a 14 de maio de 2010).
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