Um estudo da RedEmpreendia lançado em 2015 concluiu que as universidades e politécnicos triplicaram os orçamentos destinados à investigação. Um investimento que se traduz em inúmeros projetos de investigação nas mais variadas áreas do saber e que eleva a qualidade o ensino superior em Portugal.
O estudo «A transferência de I&D, a Inovação e o Empreendedorismo nas universidades», percorreu a década de 2000 a 2010 e concluiu ainda que o sistema de ensino superior em Portugal era responsável por 40% do investimento em inovação e desenvolvimento (I&D) de toda a economia portuguesa.
São inúmeros os projetos de investigação desenvolvidos, nas mais diversas áreas, que se traduzem numa maior produção de artigos científicos e de doutoramentos.
Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), um grupo de investigadores estuda alternativas à construção de barragens para controlo de cheias. A equipa desenvolveu um modelo de redução de cheias, com base em bacias de retenção, com o objetivo de minimizar o seu impacto. O trabalho foi elaborado para a bacia hidrográfica do rio Vez, principal afluente do rio Lima, um dos mais problemáticos do país pela recorrência deste tipo de eventos.
“Os resultados mostraram que são necessários mecanismos de menor impacte para diminuir escoamentos superficiais, alicerçados em infraestruturas verdes, focadas para o aumento de retenção de água pelos aquíferos, solo e ecossistemas aquáticos, em vez de obras de grande porte como barragens”, explica Luís Filipe Fernandes, investigador do CITAB – Centro Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas da UTAD.
Estes sistemas melhoram em simultâneo o “estado ecológico das massas de água, reduzem a vulnerabilidade a cheias e secas, restauram o caráter funcional e maximizam o serviço de ecossistemas”, acrescenta o investigador. O estudo foi recentemente publicado no prestigiado ‘Journal of Hydrology’ e apresentado no 13º Congresso da Água. O método está neste momento a ser aplicado em outros locais considerados críticos pela APA.
Microcarro para conquistar as cidades
Já o projeto de Emanuel Oliveira, estudante do Mestrado em Engenharia e Design de Produto da Universidade de Aveiro (UA), quer conquistar as cidades, através da criação de um microcarro elétrico que de pequeno tem apenas as dimensões. Inspirado nas estruturas naturais, o E01 quer fazer concorrência aos carros elétricos e valorizar a perceção dos microcarros. O exterior é constituído “por partes que formam um elemento único, que é ao mesmo tempo a carroçaria e o chassi que envolve e sustenta todo o interior do veículo”, informa a UA. Com capacidade para quatro pessoas e preparado para ser produzido com o mínimo de material possível para o máximo de rigidez estrutural, o carro foi desenhado por Emanuel Oliveira, orientado pelos docentes Paulo Bago de Uva, do Departamento de Comunicação e Arte, e João Oliveira, do Departamento de Engenharia Mecânica. O grande objetivo da é vê-lo mas estradas das cidades portuguesas. “Assim da indústria nacional surja uma mão para segurar este volante”, lançam os idealizadores.
Com quase 2,5 metros de comprimento por 1,60 de altura, o E01 contraria a tendência dos carros com estas dimensões que o mercado já tem à disposição e que são pautados, na generalidade, por formas bastante regulares e retilíneas. A inspiração nas soluções apresentadas por elementos naturais no E01, apelidadas de Biodesign, “resulta num veículo onde a estrutura assume um papel preponderante na morfologia final, ou seja, aquilo que é conhecido como chassis passa a fazer parte da ‘casca’ que o compõem, estando exposto”, explica a nota da UA. “Desde a possibilidade de transportar quatro pessoas ao rebatimento dos bancos traseiros, permitindo o aumento do espaço destinado ao acondicionamento de carga, todos os aspetos foram pensados para se criar um veículo de caráter utilitário urbano para utilizações em curtas e médias distâncias”, esclarece ainda Emanuel Oliveira.
O pequeno carro está pensado para recorrer a um motor elétrico, com potência transmitida às rodas traseiras e baterias no chão do veículo, alterações que, garantem os responsáveis, melhoram o seu desempenho, performance e comportamento em utilização. Agora, falta o “necessário investimento financeiro”, já que o conhecimento está assegurado não só por esta investigação “e ainda pelos profissionais que integram esta indústria, pretendendo esta investigação dar algum contributo adicional”, finaliza o estudante.
Em Coimbra, uma investigação na área da saúde revelou um novo método de avaliação do risco cardiovascular. O estudo piloto está a ser realizado no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Universidade de Coimbra (UC) e mostrou que o radiofármaco fluoreto de sódio marcado com ‘fluor-18’, usado classicamente na deteção de metástases ósseas, parece ser eficaz na identificação precoce da doença cardiovascular.
Uma equipa multidisciplinar, liderada pela docente e investigadora Maria João Ferreira, da Faculdade de Medicina da UC (FMUC), aplicou este método de imagem não invasiva em indivíduos com risco cardiovascular, seguidos na consulta externa de Cardiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (HUC-CHUC).
Os resultados obtidos neste estudo piloto “são muito promissores e parecem apoiar esta nova aplicação deste ‘velho’ marcador, mas há ainda muito trabalho a ser desenvolvido. Para tal será indispensável a continuação do esforço de uma equipa onde a investigação básica e clínica interagem de forma profícua”, sublinha Maria João Ferreira. A investigadora acrescenta que “a importância deste conhecimento poderá, num futuro que se antevê próximo, relacionar-se com o risco cardiovascular do indivíduo e por isso com a sua orientação terapêutica”.
Apostar em novos métodos de diagnóstico precoce das doenças do foro cardíaco é de extrema importância, já que aa doença cardiovascular, nas suas várias componentes, é uma das principais causas de morte. “De acordo com estatísticas europeias, é responsável por cerca de 42% das mortes nos homens e 51% nas mulheres”, revela a investigadora.
O diagnóstico precoce e a estratificação de risco são, por isso, “dois pilares importantes em qualquer estratégia que vise lidar com esta doença”, afirma a especialista.
Bolsa para estudar melanoma
Mais a sul, um cientista do Centro de Investigação em Biomedicina (CBMR) da Universidade do Algarve (UAlg), foi distinguido pela Liga Portuguesa Contra o Cancro com bolsa ‘Terry Fox’ para o estudo do melanoma. Com esta bolsa no valor de 15 mil euros, atribuída pelo Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro (NRS-LPCC) e pela Embaixada do Canadá, que organiza em Portugal a Corrida Terry Fox, Wolfgang Link “vai continuar a estudar os mecanismos de resistência a drogas mediados pela pseudo-cinase TRIB2, no contexto do melanoma”, que representa a forma mais agressiva de cancro de pele, resistente a todos os tratamentos convencionais.
Wolfgang Link afirma que a bolsa “será uma ajuda preciosa para continuar a explorar os mecanismos moleculares que estão na origem do insucesso no tratamento destes pacientes”, explica o professor no Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina. No último ano, o grupo liderado por Wolfgang Link, identificou a proteína TRIB2 como biomarcador em melanoma. Esta descoberta vai permitir num futuro próximo fazer a triagem dos pacientes com mais precisão, tanto a nível do diagnóstico como na resposta ao tratamento. Esta é a terceira vez que um investigador da UAlg é distinguido com uma bolsa Terry Fox.
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