O êxito da Semana da Chanfana de Vila Nova de Poiares tem vindo a aumentar ano após ano e este ano rondaram as 10 mil pessoas que se deslocaram até Vila Nova de Poiares para degustar o tradicional prato cuja base é a carne de cabra.
Vila Nova de Poiares é registada como a capital universal da Chanfana e tem uma confraria que fez renascer do ancestral prato da região, um ícone gastronómico. As pequenas terras podem ser muito grandes de alma, neste caso através do empreendedorismo e inovação e com isso ganham os agentes locais. A organização pertence à Confraria da Chanfana de Vila Nova de Poiares, que assinala década e meia de existência, tendo sido constituída com o fim específico de fazer “o levantamento, defesa e divulgação do património gastronómico da região das Beiras em geral, e em especial da chanfana”.
São elementos simbólicos fundamentais desta confraria “o forno de lenha onde se assa a chanfana, os caçoilos de barro preto (verdadeiros ex-libris do artesanato do concelho) e a cabra velha, símbolo de uma pastorícia que outrora se traduzia na atividade dominante”. Durante treze dias todos os apreciadores deste prato rumam a Poiares e nos restaurantes locais podem degustar uma especialidade que é confeccionada com carne de cabra já bem adulta marinada em vinho tinto. É depois levada ao lume em “caçoilos” de barro preto durante mais de 4 horas o que a torna a carne seculenta e muito apetitosa por via dos ingredientes. Registe-se que a confeção da chanfana como especialidade gastronómica de Vila Nova de Poiares poderá vir a ser “especialidade tradicional reconhecida da Europa”. Essa é, pelo menos, a vontade da Confraria da Chanfana, que entregou à diretora regional de Agricultura e Pescas um dossiê elaborado com esse objetivo. Foi durante a apresentação da “Semana da Chanfana”, a decorrer de 12 a 24 de janeiro, que a responsável, Adelina Martins, recebeu a documentação das mãos de Madalena Carrito, confrade-mor da instituição poiarense. Ana Soeiro, vice-presidente europeia da Qualifica Origine Europa, considerou, a propósito, que “é um ponto de honra que seja aprovado o pedido como especialidade tradicional reconhecida e, por isso, ajudou que a candidatura fosse feita de acordo com as normas europeias”.
A “Chanfana” é um prato gastronómico típico da região de Coimbra, mais precisamente dos concelhos de Penacova, Miranda do Corvo e Vila Nova de Poiares. Existem ainda várias versões sobre o aparecimento deste prato e, aquela que é considerada a mais correcta, remete-nos para as invasões francesas de 1810. Durante os 3 anos de ocupação, os militares franceses não mostraram piedade e roubaram as populações situadas em redor dos seus quartéis, que se localizavam nos concelhos de Penacova e Vila Nova de Poiares. Os franceses roubaram cereais e animais, à excepção dos animais velhos, pois eram muito duros para comer. Assim, nasciam as primeiras receitas de Chanfana, confeccionada com cabra velha.
Existe ainda outra versão sobre a sua criação, terá sido inventada pelas monjas do Mosteiro de Semide que, para evitar que os militares franceses lhes roubassem os rebanhos, mataram elas próprias os animais e cozinhavam-nos. Como os invasores franceses tinham envenenado as águas, as monjas utilizavam vinho para a sua confecção. Nenhuma destas versões tem fundamentação histórica e científica.
António Freitas
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