A Cevadas é uma empresa de origem familiar com uma experiência superior a trinta anos na produção de enchidos tradicionais de alta qualidade. Ao longo destes anos a empresa passou por várias etapas, desenvolvendo infra-estruturas várias afirmando-se no mercado nacional. Relativamente aos mercados internacionais a empresa já está presente no Luxemburgo, em França e na Bélgica, mas pretende mais, sendo que o Reino Unido, a Suíça, a Alemanha e Angola estão no topo das prioridades, como revelou Rafael Abreu…
Como é que nasce a Cevadas?
A Cevadas é uma empresa de origem familiar, como aliás acho que acontece com a maioria das empresas desta área da charcutaria tradicional. Sempre houve uma grande ligação aos animais, pois o avô era negociante de gado, um tio meu quando acabou os estudos não sabia bem para onde se virar por isso começou a criar porcos. Isso levou a que abríssemos um talho e mais tarde começássemos a fazer uma chouriças, tal como já havia a tradição das fazer, tanto na família como na região, Quiaios tem uma grande e antiga tradição na produção de enchidos. Pegámos nessa tradição e começámos devagarinho até chegarmos aos dias de hoje. A empresa é de dois irmãos, do meu pai e do meu tio, a família Cevada, daí o nome CEVADAS.
E o Rafael Abreu é responsável pela exportação?
A Cevadas é uma empresa pequena, familiar e portanto nós somos poucos colaboradores. Não há por isso lugares muito rígidos, eu estou na área comercial, tanto internacional como nacional e faço outras coisas como cobranças, faço o que é preciso até embalo quando é preciso embalar, portanto aqui fazemos de tudo o que é preciso para ajudar, mas tenho essencialmente a responsabilidade da área comercial, estou na empresa com essas funções. Desde sempre estive ligado à empresa em trabalho de férias. Com responsabilidade acrescida estou cá há 12 anos.
Quem é que decide na empresa o segredo do tempero e daquilo que se produz? O conceito, o tempero, o paladar… porque no fundo isto é uma arte.
Quem trata da produção é o meu tio e é claramente uma pessoa só da produção. Quando se fala em clientes, em imagem, ir ao banco para pagar aos fornecedores, isso não lhe diz nada. Produção, produção, produção sempre foi a área do meu tio desde sempre, é o “mestre” salsicheiro.
E os segredos da produção são coisas que já vem de família?
Essencialmente nós retomamos a forma de fazer enchidos da nossa região, que tem duas ou três características próprias: o tempero de vinha d’alhos, exclusivo da zona. Noutros sítios do país faz-se de outra forma, no Alentejo, por exemplo, usa-se o pimentão aqui usa-se vinho tinto da bairrada, a base é essa. Na nossa produção escolhemos os ingredientes que se misturam com muito critério como seja a cebola ou o alho usamos tudo fresco, quer dizer não usamos aromatizantes. Outra coisa também muito importante que é a desmancha, que somos nós que fazemos. Compramos as carcaças e fazemos nós próprios a desmancha. E a selecção das carnes, não compramos carnes congeladas e isso faz com que nós consigamos controlar melhor a qualidade dos produtos. Fazer com que sejam mais heterogéneos. Depois, embora seja uma unidade industrial temos um modo de fazer ainda com carisma muito artesanal. Temos fumeiros de lenha e temos um processo de selecção de carnes, e de maturação que ainda é longo, temos um processo de cura também longo, em fumeiros tradicionais, tudo sempre com uma base tradicional. No entanto ainda produzimos uma boa quantidade, logo para as quantidades que já produzimos precisamos de ter controlo, de fazer analises, de higiene e de todas as normas da produção moderna de qualidade.
Portanto pelas suas palavras deduzo que a empresa é certificada?
É uma empresa já certificada, temos a norma a ISO 22000, que é reconhecida a nível internacional. Por curiosidade, somos auditados pelos nossos clientes com regularidade. Por outro lado o facto de estarmos a fazer marca própria para várias grandes superfícies, obriga-nos a uma responsabilidade ainda maior
E que produtos é que oferecem ao mercado? Para além das chouriças…
Nós não temos um sortido muito alargado, temos essencialmente quatro a cinco produtos que são os que trabalhamos mais, são o chouriço, o salpicão que é o nosso produto mais nobre, o negrito que é um chouriço de sangue usado para os pratos tradicionais portugueses, a farinheira e a morcela de arroz. Esses são os nossos cinco grandes produtos que representam a empresa.
E em termos de mercado nacional? Já sei que vendem para as grandes superfícies e muitas vezes há empresas de matérias que se queixam das grandes superfícies que dão cabo de tudo… qual é a sua opinião?
A grande distribuição tem de facto um poder muito grande e representa neste momento, seguramente 70% a 80% das vendas que se fazem deste tipo de produtos. Das duas uma, ou a empresa consegue trabalhar com eles e temos mercado para escoar os nossos produtos ou não conseguimos e ao não conseguir não vamos ter dimensão e temos de procurar outros mercados. É isso que temos vindo a fazer, temos procurado trabalhar com as grandes superfícies, às vezes não é de facto fácil superar as dificuldades mas temos conseguido. É evidente que se me pergunta se a nossa dependência da grande distribuição é significativa, admito que é, e a nossa ambição é termos outro tipo de clientes e outro tipo de mercados também. Nós vendemos, aproximadamente 15% do que produzimos para mercados de exportação e queremos vender mais. Temos a ambição de vender para mais, quer seja para os mercados tradicionais quer para os mercados da saudade.
Em que mercados estão?
Estamos em França, Luxemburgo, Bélgica e Inglaterra.
Que outros mercados é que gostavam de explorar?
Claro que existem outros mercados que são interessantes, o caso da Suíça e da Alemanha. E há também os mercados do Brasil e do Canadá, que são muito bons. No caso do Brasil por haver uma grande ligação aos produtos portugueses e europeus. Aliás, até já fizemos uma primeira exportação, mas que não correu propriamente bem porque é um país muito burocrático e é um bocado complicado com este tipo de produto. Tivemos uma série de problemas com a alfândega e custos associados. Também a cadeia de frio de lá também não é como cá, portanto ainda há algumas coisas a melhorar. Mas é um mercado com potencial e muito interessante para abordar a médio prazo. Já o Canadá está a começar a abrir agora, também é um mercado com potencial.
Já tiveram no Sisab Portugal?
Já fomos com alguma regularidade, depois deixámos, agora vamos voltar à edição de 2016. A decisão de não ir nas últimas edições foi de permitir algum espaço e também preservar o orçamento para fazermos as nossas próprias visitas aos clientes. E reservamos então esse orçamento para visitar clientes. Este ano decidimos ir novamente pois existe também a outra questão que é os clientes perguntam-nos porque razão é que não fomos e temos de estar no mercado que está todo no Sisab Portugal
E qual é a vossa impressão pessoal do Sisab Portugal?
O Sisab é a melhor feira agro-alimentar que se realiza em Portugal sem qualquer tipo de dúvida. Existem outras feiras mas que não têm o mesmo impacto pois são abertas a qualquer pessoa, qualquer pessoa entra, são muito genéricas, existem muitos produtos diferentes, não estão bem direccionadas. O Sisab é uma feira muito interessante, é intenso com contactos muito interessantes. Por isso é importante lidar com pessoas habituadas à exportação, onde o networking que adquirimos é realmente muito importante. Neste ambiente podemos contactar potenciais clientes de outra forma, depois existem outras empresas de outras áreas de negócios que conhecemos e que nos ajudam, existe essa partilha e está tudo concentrado. Agora, para nós fez sentido ir todos os anos e procurar ao máximo fazer contactos para que possa haver um seguimento.
Como é nasceu a exportação na vossa empresa?
Não foi algo propriamente pensado. Já antes de estar cá a trabalhar a tempo inteiro, exportávamos para França e Luxemburgo porque havia procura, foi algo que aconteceu naturalmente. Também não é propriamente fácil exportar este tipo de produtos são produtos muito específicos e também esta industria não tem a força que têm outras, como por exemplo o negócio do presunto em Espanha.
E o futuro da Cevadas?
Nós temos agora um desejo para ampliar a fábrica atual. As instalações já são antigas e estamos um bocado afogados na área da embalagem, armazém de expedição e tudo mais e por isso estamos com um projecto para ampliar e queremos ver se o conseguimos concretizar em 2016. Isto vai-nos permitir comprar outro tipo de instrumentos que nos vão permitir fazer outro tipo de embalagem, por exemplo, para aumentar o prazo útil de vida dos produtos para enviar para o Brasil onde existe uma viagem longa e há também a dificuldade de frio para conseguirmos entrar nesses mercados e ganhar também mais alguns clientes nos mercados internacionais, como é o caso da Inglaterra. Queremos também entrar noutro tipo de negócios que não tenham a ver com a empresa, arriscar um bocado e sair da nossa zona de conforto. É por aí que passa o futuro…
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