A organização britânica ‘Sea Life Trust’, que com os seus 40 centros marinhos espalhados pelo mundo tem a maior rede mundial de aquários públicos, esteve na Universidade de Aveiro para entregar cerca de 8700 euros como reconhecimento e, naturalmente, de apoio e incrementação do teste desenvolvido pelos departamentos de Biologia e de Química.
A inovação da UA torna possível, pela primeira vez, descobrir se um peixe foi capturado com recurso a cianeto sem ser necessário sacrificá-lo e dissecá-lo. Trata-se de uma técnica de pesca ilegal altamente devastadora para os recifes de coral que a ‘Sea Life’, com a ajuda do teste da UA, quer erradicar.
“É uma honra e uma grande responsabilidade para a UA receber este voto de confiança e este reconhecimento pelo trabalho já desenvolvido nesta temática”, aponta Ricardo Calado, coordenador da equipa da UA responsável pelo desenvolvimento do teste, utilizado desde 2013 pelo ‘Sea Life’, para garantir que os peixes expostos nos respetivos aquários foram capturados sem recurso ao químico letal.
“Esta verba foi atribuída para permitir financiar os recursos humanos e os consumíveis laboratoriais necessários ao funcionamento do programa de rastreio desenvolvido pela UA em parceria com o ‘Sea Life’ de captura de peixes marinhos ornamentais com recurso a cianeto, uma atividade ilegal e altamente destrutiva para o meio marinho”, reforça o biólogo.
A utilização do cianeto é considerado, a par da utilização de dinamite, uma das práticas de pesca mais destrutivas para os recifes de coral.
Através desse método, todos os anos são capturados milhões de peixes tropicais nos recifes do Pacífico em países como a Indonésia e as Filipinas. O resultado, aponta Ricardo Calado, é alarmante: “Em várias zonas do sudoeste asiático 80 a 90 por cento da vida dos recifes já foram destruídos”.
O teste aperfeiçoado pela UA, ao contrário dos já existentes que obrigavam à dissecação dos peixes na procura por vestígios de cianeto no sangue e nos músculos, envolve a transferência dos animais recém-entregues para água salgada artificial.
É nessa água que os investigadores de Aveiro procuram quantidades vestigiais de tiocianato, um composto que deriva da metabolização do cianeto pelo peixe e que é expulso do organismo pela urina.
Liderança na preservação dos corais do Indo-Pacífico
“Esta parceria (entre a UA e a ‘Sea Life’) tem sido bastante positiva para ambas as entidades, estando já a ser desenvolvidos neste âmbito uma tese de mestrado e uma tese de doutoramento e, seguramente, outras teses terão início brevemente nesta temática”, diz o investigador.
A estreita colaboração entre a UA e a ‘Sea Life’ tem permitido, igualmente, a publicação de artigos científicos que “têm projetado o nome da UA na liderança da preservação dos recifes de coral do Indo-Pacífico e na vanguarda do combate à pesca com cianeto, uma atividade ilegal mas que ainda continua a ser bastante utilizada para capturar os peixes ornamentais que abastecem a indústria dos aquários marinhos”.
O teste desenvolvido pela UA está a resultar num abrandamento da captura de peixes com recurso a cianeto.
“Os nossos resultados preliminares apontam para que as grandes empresas Europeias e Norte Americanas que se dedicam à importação e revenda de peixes marinhos ornamentais tenham começado a ser mais rigorosas na escolha dos seus fornecedores, pois sabem que existe uma forte possibilidade dos seus peixes virem a ser monitorizados no âmbito da parceria da UA com o ‘Sea Life’”, descreve Ricardo Calado. O investigador acredita que, deste modo, “tenha havido e continue a haver uma maior procura de peixes capturados sem recurso à pesca com cianeto e que, por isso, tenha abrandado o impacto desta prática nos recifes de coral”.
Para o futuro, os departamentos de Biologia e Química da UA têm já planos para desenvolver um kit de teste portátil que possa ser usado nos locais onde os animais são capturados, de forma a que se possa rastrear os peixes ornamentais coletados e expor o potencial uso de cianeto para a sua captura. “Estão ainda a ser desenvolvidos estudos para ver como é que a pesca com cianeto pode impactar peixes em particular e os recifes de coral em geral nos próximos anos, tendo em consideração os cenários de alterações climáticas globais previstos para 2050 e 2100”, aponta Ricardo Calado.
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