Em 1944 tinha 19 anos de idade, despedira-me do liceu; tinha o meu primeiro emprego numa companhia de seguros. E, desde o princípio da hecatombe, acompanhava com interesse e expectativa o desenrolar dos acontecimentos que devastavam a Europa, o Norte de África e o Oriente, enquanto Portugal era um oásis de paz. A Segunda Guerra Mundial prolongar-se-ia ainda por mais um ano.
Depois de começar a conhecer o nosso país, alguém me levou para a escrita na imprensa turística. E seria a veia jornalística que herdara de meu avô alentejano, Carlos Callixto, natural de Serpa, que me ligaria à imprensa durante os últimos 70 anos (talvez um recorde), um período que tenho sempre em mente, recordando títulos em que colaborei e gente de jornais e de revistas, infelizmente, a maior parte, já desaparecida. Por isso, salvo raras excepções da gente nova, sou agora um desconhecido para as gerações que preenchem as redacções.
Aceitou os meus primeiros artigos o jornalista Julião Quintinha, então chefe da redacção da revista “Turismo”, fundada por António Pardal (reencontrá-lo-ia 29 anos depois em Cabo Verde).
No número de Junho/Julho de 1944 desta revista, abordei o restauro das fortificações do litoral da Ericeira, seguindo-se uma dezena de artigos sobre os castelos de Portugal. Por sinal, fechei esta colaboração com um artigo sobre o historial da Amadora, minha terra natal. Mas voltaria às páginas da revista “Turismo” volvidos dez anos, então com João Alves das Neves na redacção, a quem se seguiu Tomás Ribas.
Naturalmente, o desenvolvimento desta minha actividade dava-me plena satisfação. Tardei um pouco, é certo, a chegar à imprensa diária. Mas no final dos anos cinquenta, o “Diário de Notícias”, o “Diário Popular”, o “Diário de Lisboa” e o “Diário Ilustrado” publicaram os meus primeiros artigos. E igualmente me tornei colaborador assíduo das revistas “ACP” e “O Volante”, bem como da revista semanal ilustrada “Mundo”, para a qual entrevistei, entre outros, Beatriz Costa, Leitão de Barros e Stuart Carvalhais. Tomé Vieira e João Coito, Fernando Fragoso, Mário Rocha e Álvaro de Andrade, Vitor Direito, José Tengarrinha, Alberto de Freitas, Gentil Marques e Amândio César eram então os meus interlocutores na recepção de trabalhos.
Em “O Volante”, em 1957, comecei a publicar uma série de entrevistas com a “velha guarda” dos automobilistas portugueses, que viria a dar origem ao meu primeiro livro, publicado em 1962. Pela mesma época, escrevi sobre cinema na revista “Filme”, de Luís de Pina, e sobre temas ferroviários no “Boletim da CP”, dirigido por Élio Cardoso, colaborando desde o nº 1 no “Notícias da Amadora”, fundado por António de Jesus. Mais tarde, igualmente desde o nº 1, manteria colaboração no “Jornal da Amadora”, com Vasco Santélices de Lima e Jaime Macedo como directores.
E as primeiras viagens pelas estradas da Europa proporcionaram-me a publicação de inúmeras crónicas e reportagens.
Aceitando um convite do administrador Joaquim Pavão, comecei em 1967 a colaborar em “O Século”, privando então com Redondo Júnior, Manuel Figueira e Mário Zambujal, este último um dos poucos que ainda “cá está”.
E seria com uma série de artigos neste jornal, que receberia em 1970 um 1º prémio de jornalismo. No mesmo ano, como colaborador de “A Capital”, passei a contactar com Norberto Lopes, Mário Neves, Manuel Batoréu e Hélder Pinho. Em 1972, José Manuel Pintasilgo recebeu os meus primeiros artigos para o jornal “Época”.
Em 1974, precisamente em Abril, quando a revolução virou o país do avesso, faleceu o fundador da revista “Rodoviária”, Manuel Oliveira Santos, que me pedira para não deixar a revista morrer com ele.
Assim se verificou a minha transição de colaborador da imprensa para director de uma publicação mensal. E durante 19 anos, mantive a revista que “herdara”, até que as circunstâncias me levaram a cessar a publicação. Antes, porém, começara a colaborar no “Mundo Motorizado”, com Amadeu Vieira e Manuel Mota Cardoso.
Colaborador do Emigrante Mundo Português
Nos anos 80 voltei ao “Diário de Notícias”, então com Fernando Pires a Antunes Ferreira na redacção, e comecei a colaborar no “Badaladas”, semanário de Torres Vedras. Durante o ano de 1986 publiquei uma série de artigos no novo “O Século”, dirigido por Jaime Nogueira Pinto. E em 1987 iniciei uma assídua colaboração na página 2 do “Correio da Manhã”, que se manteria durante quinze anos. Era director Vítor Direito e Agostinho de Azevedo chefiava a redacção.
As quatro dezenas de livros até então publicados contribuíram em 2000 para a minha presença no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, obra coordenada por Ilídio Rocha. E já no século XXI, passei a colaborar nas revistas “Publituris” e “Gente & Viagens”, dirigidas respectivamente por Rui Cupido e Albérico Cardoso, e nos jornais “Mundo Português”, com José Manuel Duarte a chefiar a redacção, e “Lusitano”, com Hélder Raposo como redactor.
A convite de Carlos Morgado, chefe da redacção da revista “ACP”, publiquei o historial do Automóvel Clube de Portugal em sucessivos números do órgão oficial de uma colectividade de que meu avô fora um dos fundadores.
O “O Primeiro de Janeiro” fora o meu último jornal diário com meia centena de artigos publicados em 2006 e 2007; era directora Nassalete Miranda.
Desde há três anos, embora muito esporádica, registo com prazer a minha colaboração no “Diário do Sul”, que também tem dispensado o melhor acolhimento às notícias sobre os eventos que tenho levado a efeito.
Prestes a entrar na escala dos nonagenários, a imprensa continua a atrair-me e o gosto em escrever mantém-se.
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