Um destes dias a senhora Merkel disse que o enfoque nos estudos universitários como um feito de topo de carreira, é algo do qual deve haver um afastamento. E disse mais: Caso contrário, não conseguiremos persuadir países como Espanha e Portugal, “que têm demasiados licenciados” dos benefícios do ensino vocacional. E logo a seguir caiu o “carmo e a trindade” porque a senhora Merkel andava a meter-se em coisas que não lhe diziam respeito e mentia descaradamente porque Portugal não tinha nada licenciados a mais…
Pergunta-se; afinal o que disse a senhora Merkel de tão especial que não ande a ser dito há anos por todo a gente, excepto claro está, por aqueles que tornaram o ensino superior no negócio do século, inventando licenciaturas que nem lembram ao diabo e que recentemente ainda, começaram a fechar às dúzias sem qualquer aluno inscrito, logo que foi percebido o logro em que caíram.
A coisa caiu tão mal que até o ministro da educação veio logo a correr dizer, que não senhor, Portugal não tinha nada licenciados a mais. Pura hipocrisia, porque quem ler atentamente a totalidade das palavras do ministro conclui que de facto Portugal não tem licenciados a mais, tem é ensino profissionalizante a menos. E aqui é que bate o busílis…
O novo riquismo das famílias nos últimos anos tem feito com que todos pensem que tirando um curso superior o futuro está garantido e assegurado, é a velha história da importância do “canudinho” em que a seriedade dos estudos e da valorização académica foi susbtituida por um “canudinho” qualquer, porque o que importa é dizer lá na rua que o menino já é doutor. E as universidades ajudaram à festa, criando toda uma panóplia de cursos e cursinhos, à medida das capacidades intelectuais de cada um, desde que paguem. No meio de tudo isto onde estão as profissões e o desenvolvimento técnico e científico das mesmas? Basta cada um pensar quantos amigos conhece que andem em institutos, escolas superiores e politécnicos a “inventar” especializações e mestrados “sem pés nem cabeça” sem a mínima relação com o mercado de trabalho ou com aquilo que as empresas hoje procuram.
Quer nós queiramos quer não, é disto mesmo que se trata, o tempo de se ir para a faculdade em cega obediência a um conceito carregado de subjectividade a que chamávamos vocação, acabou definitivamente e foi substituído por outro em que buscamos uma valorização técnico científica num quadro de aumento de competências, mas que o mercado precise e reconheça.
Claro que num quadro de absoluta liberdade o estado tem a obrigação moral de condicionar fortemente as escolhas, para não criar falsas expectativas aos jovens que apesar das vaidades familiares mais tarde ou mais cedo vão querer um emprego, e só será um cidadão realizado se esse emprego tiver uma correspondência mínima com as expectativas que legitimamente criou no decurso do seu percurso académico. Tudo o que o estado não faça nesta matéria é mentir, distorcer o mercado e enganar as pessoas. Continuo a pensar que a formação técnica e científica das gerações futuras é um assunto demasiado sério que tem de passar forçosamente pela cidadania e pela satisfação de necessidades reais, por muito que isso possa prejudicar as nossas vaidades pessoais e o negócio das universidades.
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