Antes de ir para Zurique, Bingre do Amaral estava em Lisboa onde desempenhava funções de assessor diplomático do ministro da Economia e do Emprego. Esteve também em Kiev e Bruxelas e chegou ao Consulado Geral de Portugal em Zurique com uma missão confiada pelo Secretário de Estado das Comunidades: estar junto dos portugueses.
..
Vamos tentar, já que aqui há uma comunidade portuguesa relativamente forte embora em termos empresariais seja bastante reduzida. Penso que há fortes possibilidades de aumentar as exportações de Portugal para aqui de produtos alimentares e tecnológicos.
Enquanto cônsul que deligências acha que poderão ser feitas para incrementar essa presença económica de Portugal?
Basicamente é divulgar ainda mais o nome de Portugal promovendo uma abertura para a comunidade Suíça mostrando aos suiços tudo aquilo que nós somos. O meu grande problema é que aqui não tenho uma delegação do AICEP que se limita a seguir este mercado de Bruxelas o que em termos operacionais não é tão prático. No entanto iremos sempre promover alguma coisa, dentro das limitações orçamentais que temos.
Na sua opinião do que é que esta comunidade portuguesa mais precisa?
Com toda a franqueza a necessidade principal é a documentação o apoio social e o aconselhamento, nomeadamente para poder dar resposta aos eventuais problemas com os seus empregadores, atrasos em vencimentos etc. Aí o consulado tem um papel muito forte e onde tentamos encontrar pistas junto das autoridade suiças. Fazemos o contacto com o empregador no sentido de evitar procedimentos judiciais.
Sei que está cá ainda há pouco tempo, mas já visitou a comunidade portuguesa? Há algumas críticas que dizem estar ainda muito fechado…
Cheguei cá no dia 21 de Outubro. O senhor Secretário de Estado quando falou comigo disse-me que gostava muito que eu fizesse um esforço para estar o mais junto da comunidade possível, e é o que tenho tentado fazer. Hoje, por exemplo, saio daqui pelas vinte horas e vou para um cantão que tem cerca de nove mil portugueses, amanhã vou reunir com alguns presidentes de câmara e diversos grupos portugueses, no próximo fim de semana também vou estar com instituições portugueses porque eu acho que é muito importante ter este conhecimento directo.
Tem algum projecto para a educação que ultimamente aqui em Zurique tem andado bastante desacompanhada pelo menos a julgar pelas críticas de alguns portugueses?
Nós aqui fazemos o melhor possível para interagir com a coordenação do ensino para que haja classes e professores para todos os níveis escolares onde haja aprendizagem da língua portuguesa. Temos encontrado muita disponibilidade por parte da coordenadora do ensino. Inicialmente houve algum risco de perder professores o que felizmente não veio a acontecer, e eu acho que tem de continuar a ser feito um esforço para aprender português, porque é a nossa língua e a nossa cultura e é importante que seja mantida. Sem um ensino eficaz tudo se perde. Eu tenho 18 cantões nesta área consular e todo o apoio que possa dar à coordenação do ensino será dado porque acho que a promoção da língua e cultura portuguesa é dos trabalhos mais importantes deste consulado.
As eventuais transformações socias na Suíça causam alguma preocupação entre os portugueses, nomeadamente com a segurança social. Partilha esta preocupação?
Há muitos rumores no ar mas nota-se que as autoridades suíças estão a diminuir algumas comparticipações sociais, não especificamente para os estrangeiros, mas também para os próprios suíços. Trata-se de uma austeridade preventiva, mas para já muito reduzido e não há ainda elementos concretos para saber o que vai ser cortado, mas seja o que for, não é discriminatório para os estrangeiros, mas para todos os trabalhadores, suíços incluídos. E sobretudo é preciso não esquecer que para a própria economia Suíça é fundamental a vinda de estrangeiros para cá, pois sem isso não conseguem produzir. Recordo que em 1970 quando não se renovaram muitos contratos com estrangeiros a economia do país registou uma contracção de sete por cento. Com toda a franqueza não acredito que se vá por aí.
Culturalmente a comunidade queixa-se também de estar muito desapoiada. Concorda com isto?
Sim e não. Neste momento a situação do país não permite atribuir todos os subsídios e apoios que decerto o governo desejaria por isso tem de se fazer uma gestão muito rigorosa embora eu ache que tem de se fazer uma divulgação da cultura portuguesa, embora não seja fácil fazê-lo sem os meios financeiros adequados.
Já tenho visto aqui espectáculos portugueses com salas esgotadas e onde mais de metade são suíços, por isso a divulgação da nossa cultura é fundamental e nós temos de avançar por aí. É preciso arranjar apoios financeiros externos ao próprio governo.
Continua a ser muito dificil contactar telefonicamente o consulado, eu próprio tive essa experiência para agendar esta entrevista. Tem essa noção?
É um problema sério que eu tenho muitas dificuldades em resolver. Tenho neste momento um telefonista e cerca de 100.000 pessoas nesta área consular. As pessoas ligam para cá a pedir informações, por isso eu peço às pessoas que mandem um mail em vez de telefonar o que tornaria tudo mais fácil. Reconheço que esse é um dos aspectos menos bons, mas sinceramente não posso fazer mais nada.
O que gostaria de dizer à comunidade?
Gostaria de dizer que contem com o cônsul e que temos de continuar a fazer o melhor possível para continuar a apoiar a recuperação portuguesa.
José Manuel Duarte
Deixe um comentário