Uma mulher grávida da aldeia de Ikanamongo na República Democrática do Congo aproveitou a carcaça de um animal de caça para preparar uma refeição para ela e para o marido. Pouco depois a mulher começou a ter sintomas de infecção pelo vírus do Ébola e acabou por ir a uma clínica na aldeia de Isaka. Morreria a 11 de Agosto vítima de febre hemorrágica. Nessa clínica contactou com um médico, dois enfermeiros e um ajudante. Morreram todos poucos dias depois. A 25 de Agosto o ministro da saúde congolês acabava por confirmar a existência de Ébola no país. Entretanto o surto espalhou-se para outros países, vindo a tornar-se numa das piores infecções de sempre…
O tempo médio entre o momento em que se contrai a infeção e a primeira manifestação de sintomas é de entre 8 a 10 dias, mas pode ocorrer entre 2 e 21 dias. Os primeiros sintomas podem ser semelhantes aos de malária, dengue ou outras doenças tropicais, antes da doença progredir para a fase hemorrágica.
Fase hemorrágica
Todas as pessoas infetadas mostram sintomas do envolvimento do sistema circulatório. Durante a fase hemorrágica, as primeiras hemorragias internas ou subcutâneas podem-se manifestar através de olhos avermelhados ou pela presença de sangue no vómito. Em cerca de 40-50% dos casos verificam-se relatos de hemorragias nas pregas da pele e das mucosas; por exemplo, no sistema digestivo, nariz, vagina e gengivas. Entre os tipos de hemorragias associados à doença estão a presença de sangue no vómito, na tosse e nas fezes. As hemorragias intensas são raras e geralmente restritas ao sistema digestivo. Geralmente, a evolução para sintomas hemorrágicos é um indicador do agravamento do prognóstico e a perda de sangue acaba geralmente por provocar a morte.
Diferentes tipos de vírus
A febre hemorrágica ébola é provocada por quatro das cinco espécies de vírus classificadas no género Ebolavirus, família Filoviridae, ordem Mononegavirales. Estas quatro espécies são o ébola-Zaire, ébola-Sudão, ébola-Bundibugyo e o ébola-Costa do Marfim. O quinto vírus, a espécie Reston, não aparenta provocar a doença em seres humanos. Durante um surto, as pessoas em maior risco são os profissionais de saúde e aqueles em contacto com os infetados.
Baixo contágio
Felizmente que o potencial de infeções em grande escala por Ébola é considerado baixo, uma vez que a doença só é transmitida por contacto direto com as secreções de indivíduos que mostrem sinais de infeção. A rápida manifestação dos sintomas faz com que seja relativamente fácil identificar indivíduos doentes e limita a capacidade de uma pessoa em transmitir a doença durante viagens. Uma vez que os mortos continuam a ser infeciosos, as autoridades de saúde removem-nos de forma segura, apesar dos rituais fúnebres tradicionais.
Os profissionais de saúde que não usem vestuário de proteção apropriado apresentam um risco acrescido de contrair a doença. Verificou-se que no passado as as transmissões em meio hospitalar em África se deveram à reutilização de agulhas e inexistência de medidas de precaução universais.
A doença não é transmitida por via aérea de forma natural. No entanto, pode ser transmitida através de gotículas inaláveis de 0,8–1,2 micrómetros produzidas em laboratório. Devido a esta potencial via de transmissão, estes vírus são classificados como armas biológicas de categoria relevante. Recentemente, observou-se que o vírus é capaz de ser transmitido sem contacto entre porcos e primatas não humanos.
História
O Ebola foi descoberto em 1976 por uma equipe comandada por Guido van Der Groen, chefe do laboratório de Microbiologia do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, na Bélgica.
Desde a sua descoberta, diferentes estirpes do Ebola causaram epidemias com 50 a 90% de mortalidade na República Democrática do Congo, Gabão, Uganda e Sudão. A segunda epidemia ocorreu em 1979, quando 80% das vítimas morreram.
Técnica dos anticorpos
Durante um surto na República Democrática do Congo em 1999, sete de oito pessoas que receberam transfusões de sangue de sobreviventes de ébola foram capazes de sobreviver à doença. No entanto, este potencial tratamento é considerado controverso e até perigoso. Os anticorpos administrados por via intravenosa aparentam oferecer alguma proteção em primatas não humanos que tenham estado expostos a doses elevadas de ébola. Dois missionários voluntários americanos (Dr. Kent Brantly e Nancy Writebol), infectados em agosto de 2014, apresentaram melhoras significativas do quadro clínico após tratamento com ZMapp — um fármaco experimental à base de três anticorpos monoclonais.
Formas de conter a propagação do vírus
Devido à inexistência de equipamento adequado e práticas de higiene, as epidemias em larga escala têm ocorrido principalmente em regiões isoladas e pobres, sem hospitais modernos ou equipas médicas com formação adequada. As autoridades têm também desencorajado alguns rituais fúnebres tradicionais, em particular os que envolvem o embalsamamento do corpo. Também as tripulações de companhias aéreas que voam para estas regiões são geralmente treinadas para identificar o ébola e isolar pessoas que apresentem os sintomas da doença.
Quarentena
A quarentena é geralmente eficaz na diminuição da velocidade de propagação. As autoridades geralmente colocam de quarentena as áreas onde a doença ocorre ou as pessoas que possam estar infetadas. O número reduzido de estradas ou meios de transporte pode ajudar a diminuir a velocidade de propagação em África. Durante o surto de 2014, a Libéria encerrou todas as escolas.
Vacina
Não está atualmente disponível qualquer vacina para os seres humanos. As vacinas ADN, de adenovírus e VSIV passaram já à fase de ensaio clínico. As vacinas têm-se mostrado eficazes na proteção de primatas não humanos. A imunização demora seis meses, o que não permite que as vacinas sejam usadas como medida de controlo de epidemias.
Tratamento
Não existe tratamento específico para o ébola. Os cuidados paliativos consistem geralmente na gestão dos líquidos corporais e eletrólitos para prevenir a desidratação, a administração de anticoagulantes na fase inicial da infeção para prevenir ou controlar a coagulação intravascular disseminada, a administração de anticoagulantes nas fases posteriores para controlar as hemorragias, a manutenção dos níveis de oxigénio, a gestão da dor, e administração de antibióticos ou antimicóticos para o tratamento de infeções secundárias.
Prognóstico
A doença apresenta uma taxa de mortalidade elevada, frequentemente entre 50 e 90%. No caso de uma pessoa infetada sobreviver, a recuperação é geralmente rápida e completa. No entanto, nos casos de maior duração ocorrem muitas vezes complicações com problemas a longo prazo, como inflamação dos testículos, dores nas articulações, dores musculares, esfoliação da pele ou perda de cabelo. Têm também sido observados sintomas oculares, como sensibilidade à luz, ou até mesmo cegueira. Os vírus de ébola são capazes de persistir no sémen de alguns sobreviventes até sete semanas, o que possibilita o contágio através de relações sexuais.
Epidemiologia
O vírus é denominado pelo nome de um rio na República Democrática do Congo (antigo Zaire), o Rio Ébola, onde tem havido vários casos. Nunca houve casos humanos fora de África, mas já apareceram casos em macacos importados nos Estados Unidos e Itália. Os casos identificados desde 1976 são apenas 1500, dos quais cerca de mil resultaram em morte.
Prevenção
Os vírus ébola são contagiosos, pelo que a prevenção envolve fundamentalmente precauções comportamentais, equipamento de proteção individual e desinfeção. As técnicas para evitar a infeção englobam evitar o contacto com sangue ou secreções corporais infetadas, incluindo as dos mortos. Isto implica detectar e diagnosticar a doença durante a fase inicial e usar medidas de precaução universais para todos os pacientes.
bém cozinhar a carne de forma adequada.
Deixe um comentário