Entre 14 e 16 de outubro, agentes de viagens portugueses e lusófonos visitaram São Miguel, a maior ilha do arquipélago dos Açores, integrados no grupo que participou na XVIII Edição do Encontro Internacional de Turismo (EIT), organizado pelo semanário «Mundo Português». O destino Açores era desconhecido da maioria dos agentes, alguns dos quais levaram clientes. O resultado foi a descoberta das maravilhas naturais e as belezas arquitetónicas de um destino turístico por excelência, num encontro que permitiu também a troca de impressões e experiências e o contato com responsáveis do Turismo no arquipélago.
“Da Europa, recebemos turistas internacionais maioritariamente de Portugal, mas também da França, Inglaterra. Trabalhamos também o turista cabo-verdiano e da lusofonia”, explica a agente de viagem revelando que o turista português é o segundo, em níveis percentuais, a procurar Cabo Verde. No sentido contrário revela que há também há um grande fluxo diário de passageiros, “maioritariamente relacionado com negócios”, havendo já dias com quatro voos diários para Portugal, entre a TAP e a TACV (de Transportes Aéreos de Cabo Verde).
Apesar de trabalhar o destino Portugal, lamenta não receber das entidades portuguesas responsáveis pelo turismo nenhum material promocional. “É trabalhar cada um por si. Seria importante que tivéssemos, porque pelo menos antes de partirem, os turistas já teriam alguma informação sobre Portugal, sobre o que iriam encontrar”, lamenta.
Ainda sobre os Açores, Hermínio Silva também terminou o EIT convicto de que é um destino com muito interesse. “ Os Açores têm algumas ligações, até históricas, com Cabo Verde, que chegou a receber população açoriana. São ambos arquipélagos, descobertos na mesma altura e coincidentemente têm ambos nove ilhas. Já tinha ouvido muito falar dos Açores”, afirmou.
Além de percorrem a ilha, os agentes ouviram do responsável máximo do Turismo no arquipélago, algumas informações sobre a estratégia de divulgação do destino. “Conseguirmos o que foi feito nos último 16 anos, foi fruto de uma estratégia perfeitamente alinhada, de sabermos claramente para onde queríamos ir e como havíamos de lá chegar”, destacou Vítor Fraga, durante o discurso de boas-vindas, proferido no jantar do primeiro dia do evento. O Secretário Regional de Turismo e Transportes dos Açores destacou um conjunto de infra-estruturas que geraram uma melhor acessibilidade ao arquipélago, referindo que as nove ilhas estão dotadas de aeroportos e portos equipados, à exceção do Corvo, com rampas ‘roll on-roll off’ (para circulação dos carros que saem dos ferries), “que permitem a quem chega aos Açores, circular com a sua viatura e percorrer todas as belezas (das ilhas)”.
Falando especialmente para os agentes de viagem presentes, Vítor Fraga afirmou que ao nível da promoção, o Governo Autónomo tem “recursos limitados”, mas que a comunidade açoriana no Canadá e Estados Unidos é um dos alvos da estratégia promocional do arquipélago. “Estamos a focar-nos no desenvolvimento da promoção junto dessas comunidades e dos mercados naturais dos dois países”, uma estratégia que vai incluir o aumento dos voos, revelou. “A partir de 2014 e quando chegarmos à época alta, passaremos a ter voos diários para Boston e seis voos semanais para Toronto. Ao longo de todo o ano, e na fase mais baixa, teremos no mínimo, três voos semanais para Boston e dois para Toronto. Temos aqui uma clara perspectiva de incrementar a acessibilidade, de forma a ajudar a captar mais fluxos turísticos para a região e possibilitar que toda a nossa comunidade emigrante tenha o meio de nos visitar com maior regularidade”, explicou.
Manuel e Vera Caetano fundaram à 28 anos, no Rio de Janeiro, a agência de viagens e câmbio São Caetano Turismo. Quase três décadas depois, os filhos já estão integrados no negócio e estão apostados em dinamizar o site da agência. “Hoje em dia já há muita procura de viagens no on-line, por isso precisamos dinamizar esse complemento de negócio”, explica Manuel Caetano. O casal já tinha estado nos Açores, mas sublinha que cada visita é diferente da anterior. Para Manuel Caetano, a particularidade dos Açores está na diversidade de micro climas e na variedade da oferta turística, fatores que um agente de viagens tem que “conhecer bem para poder vender”.
Apesar de acreditar que os Açores podem ser um destino de eleição para os seus clientes, o agente de viagens aponta um problema. “Só há uma empresa aérea a voar , a SATA. Por exemplo, a Ilha da Madeira tem hoje mais turistas pele facilidade de se voar para lá, até com companhias ‘low cost’ como a Easyjet. Aqui, a SATA monopoliza, tornando a viagem muito cara”, acusa. O agente de viagens lamenta a falta de mais companhias a operar para o Arquipélago, porque acredita que aquele é um destino “que vale a pena”, pela diversidade da natureza e pelas várias opções de atividades ao ar livre. Se pudesse fazer um alerta, acrescenta, seria o da necessidade de “abrir o espaço aéreo a outras empresas de aviação.
Sobre o EIT, o agende de viagens diz que foi “muito interessante” porque possibilitou uma visão global de São Miguel e parabenizou a organização pela contratação de guias que transmitiram uma visão da ilha numa linguagem própria para agentes de viagem.
Agente de viagens nos Estados Unidos à 35 anos, John Moedas já conhecia São Miguel, mas referiu que em cada viagem permite ver algo novo. Desta vez, não apenas integrou o grupo do EIT, como levou clientes que trabalham com a sua agência à muitos anos. “Trouxe pessoas comigo que só vinham se eu viesse a acompanhá-los. São clientes antigos, e achei que devia vir com eles. Não vêm para uma viagem destas sem o seu agente de viagens, em quem confiam. E eu não posso de maneira alguma abandoná-los”, sublinhou o profissional de turismo português radicado nos Estados Unidos.
Sobre Portugal, deixou um alerta. “Na industria hoteleira em Portugal, uma parte do pessoal ainda não dá ao turista estrangeiro a assistência que devia dar. Mas esquecem-se que este não só não regressa àquele local, como também não volta a Portugal”, alertou. Revelou que Sagres Travel Agency tem clientes oriundos da comunidade portuguesa, mas também americanos e se os primeiros vêm a Portugal por rotina, os segundos “são turistas que querem vir visitar a Europa, mas já passam por Portugal”, apesar “do preço o preço das passagens aéreas e dos hoteis”, que o agente de viagens considera elevado. Em relação ao EIT, destacou o mérito ao «Mundo Português» por ter ao longo dos anos organizado encontros de turismo “que permitem aos agentes de viagem, conhecer ao pormenor as regiões de Portugal”.
Já José Leal, agente de viagens no Brasil, lamenta o facto de não receber das entidades responsáveis em Portugal, material de divulgação sobre o país. Nesse aspecto, diz contar apenas “agencias de viagem e operadoras portuguesas” com as quais trabalha, e que lhe enviam “às vezes material de divulgação promocional”. Radicada no Rio de Janeiro, a Lealtur existe à 35 anos, e além do turismo, o agente de viagens português dedica-se ainda à administração de imóveis e tem na comunidade portuguesa, a maioria dos seus clientes. “Alguns até estão a residir em Portugal, mas tem aumentado o interesse do turista brasileiro em conhecer o país”, revela, explicando que estes “têm prazer em vir a Portugal, sentem que são bem tratados e querem voltar mais vezes”.
“E os clientes portugueses já não ficam apenas na sua região de origem e gostam de conhecer todo o país”, diz ainda. Sobre a participação no EIT, revela que nunca tinha estado nos Açores e aproveitou a oportunidade porque gosta “de ter uma ideia do que são os Açores, neste caso da ilha de São Miguel, para poder divulgá-los”. “É preciso conhecer para divulgar, principalmente junto dos amigos e clientes portugueses no Rio, que na sua grande maioria não conhece os Açores. Não fazia ideia até da dimensão, pensei que a ilha fosse menor. É muito bonita”, concluiu.
À semelhança de José Leal, Jennifer Santos também decidiu participar no XVIII EIT, para conhecer aquele destino turístico antes de o começar a divulgar. “A oportunidade de vir aos Açores foi ótima. Não só para ver o lugar em si, mas também para conviver com os outros agentes de viagem deste grupo, trocar ideias e perceber a possibilidade de fazer parcerias”, explicou a responsável da Cabo Verde Tours, acrescentando que o programa do EIT proporcionou “conhecer os principais pontos turísticos e locais específicos em termos de atração”, da ilha de São Miguel.
A agência de viagens de Cabo Verde, que integra os rankings ‘top10’ da TAP e ‘top 5’ da TACV, tambem organiza pacotes para grupos de turistas e tem em Portugal um dos destinos de eleição. “O destino Portugal tem muita procura junto dos clientes da minha agência, não só por parte dos turistas como também dos empresários. Mas normalmente vão para o continente. Agora, depois de cá vir, espero conseguir divulgar este destino”, afirmou Jennifer Santos, para quem a ilha de São Miguel “faz lembrar um pouco” Cabo Verde. “Acredito que seria um bom destino turístico para os nossos clientes”.
VÍTOR FRAGA
Secretário Regional de Turismo e Transportes dos Açores
“Toda a nossa comunidade é uma mais valia significativa“
Está a decorrer até Abril de 2014 uma campanha de divulgação dos Açores em Portugal Continental…
O mercado nacional representava quase 50% dos fluxos turísticos para a região. Hoje representa pouco mais de 30%. A política recessiva que o governo da República impôs sobre as famílias portuguesas afetou de uma forma muito direta o perfil do turista que nos visita. Para colmatar essa quebra, nós tivemos que tomar medidas alternativas, que passaram por reforçar toda a promoção junto dos principais mercados emissores externos e redefinir a política de promoção para o mercado nacional. Desde logo, trabalhando segmentos de mercado que não eram aqueles que nos visitavam.
Fomos à procura de segmentos de mercado que continuassem a ter poder de compra junto dos quais o destino Açores tivesse características apetecíveis. Para a época baixa desenhamos uma campanha que visa atingir segmentos de mercado que possam responder à oferta que o destino tem. Há uma campanha para mais de 55 anos, vamos repetir a campanha de famílias feita no verão, paras os períodos de Natal, carnaval e Páscoa. Mas sempre com a lógica de direcionar toda a política de promoção no mercado nacional, para segmentos que continuam a ter poder de compra.
Um agente de viagens defendeu que falta divulgar os Açores em outros países que não apenas os que recebem a diáspora açoriana. Da parte da Secretaria Regional de Turismo, há algum projeto de divulgação juntos das comunidades portuguesas não oriundas do arquipélago?
É evidente que é uma aposta que tem que ser feita, mas limitada aos recursos que temos. Neste momento temos que nos focar no que é essencial. A nossa prioridade passa por consolidar a nossa posição junto dos principais mercados emissores, o que foi uma aposta ganha. Apesar da queda no mercado nacional, estamos com crescimentos muito expressivos nos mercados externos. Por outro lado, ao nível do mercado na América do Norte, passa por aproveitarmos uma mais valia muito significativa, que é toda a nossa comunidade (açoriana). Não só na perspetiva de ela nos visitar, mas também porque são os nossos principais embaixadores para fazerem passar a mensagem junto do mercado não étnico, captando também fluxos turísticos.
Todo o resto, vamos fazer dentro das nossas possibilidades. Não entendemos que sejam situações de rejeitrar, antes pelo contrário, podemos aproveitar todas as oportunidades com que nos depararmos. Mas dentro da política de promoção do destino Açores, de uma forma muito concreta, muito orientada para o que é essencial para nós.
Há algum novo mercado em que o turismo dos Açores vá investir em termos promocionais?
Como disse, a nossa aposta passa essencialmente por consolidar os nossos principais mercados emissores. Nós olhamos para os mercados emergentes com toda a cautela, trabalhamo-los, mas o foco está na consolidação nos principais mercados emissores. Tem sido uma estratégia de sucesso e é para continuar. Essencialmente Alemanha, Espanha, Bélgica, Holanda, são mercados com uma boa taxa de visitantes na região.
Está previsto algum crescimento do parque hoteleiro ou outras infraestruturas voltadas para o turismo?
O Governo tem trabalhado sempre em conjunto com toda a iniciativa privada. Os Açores tem tido um crescimento muito significativo a nível das ‘camas’, com determinadas tipologias. Neste momento o que se sente que deve ser feito é a continuação desse crescimento. Será o próprio mercado a ditar a sua necessidade, mas um crescimento cuja oferta em termos de parque hoteleiro seja adequada às características do destino. Temos um conjunto significativo e consolidado de hotéis de cidade, mas somos um destino de natureza. Os investimentos para os próximos tempos a esse nível, sairão naturalmente da iniciativa privada, mas o que se antevê é que estejam claramente orientados para uma política de natureza.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
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