MANUEL ROSA, invesrigador português radicado nos Estados Unidos, conta em entrevista ao MUNDO PORTUGUÊS, que tal como James Bond “ao serviço de Sua Majestade” povoou o nosso imaginário atual no mundo da espionagem, também Colombo agiu como “agente secreto” ao serviço de D. João II numa altura em que o “segredo era a alma do negócio”. Numa época em que espanhóis e portugueses competiam ferozmente por novas descobertas, o objetivo da sua missão ao descobrir a América “dando a entender” ser a Índia, era precisamente induzir os espanhóis em erro, e assim proteger este novo e riquíssimo território…
MR: Em Outubro de 1973, com 12 anos de idade juntamente com a minha família (pai, mãe e os sete filhos) emigramos para os EUA a caminho de S. José na Califórnia onde, tanto meu pai como minha mãe, tinham família. Meu pai tinha vários irmãos na Califórnia, um que lá vivia já desde 1924. Meus pais tinham também vários tios cujos filhos nascidos na Califórnia, eram da idade de meus pais. Tanto meu pai como minha mãe tiveram avós que viveram na Califórnia na última metade do Século XIX e que regressaram para o Pico para casar e fazer vida lá.
Em que se ocupavam os seus pais? E quais eram as suas recordações daquela época?
MR: Nós, como 99% dos habitantes das ilhas dos Açores, éramos lavradores habitando um verdadeiro terceiro mundo, plantávamos o necessário para comer, porque as terras não davam para mais que isso. No Pico, desde o inicio da sua povoação em 1460, até poucos anos atrás, os residentes ocupavam-se na preocupação de ter o bastante para sobreviver, sendo que vivíamos num local que era ao mesmo tempo um paraíso e um inferno. As ilhas sempre foram um local de paisagens inspiradas pelo Criador, eram ao mesmo tempo um inferno de fome, com duros trabalhos, e dependência total da terra e da natureza. Se não havia chuva para o cultivo, passava-se muita fome até à próxima colheita porque não havia supermercados onde ir comprar algo para comer, e mesmo se os houvesse ninguém tinha dinheiro. Por isso, a ideia de vir para os EUA, onde havia de tudo aos montes, era uma oportunidade fantástica e quase um sonho para todos os Açorianos naquela época.
Quais são as suas primeiras impressões à chegada?
MR: Devo de dizer que desde o primeiro dia ao sair do avião fiquei bem desiludido. Por acaso do destino, nunca chegamos à Califórnia, paramos em Boston, onde ambos os meus pais também tinham irmãos, e por lá ficamos até hoje. Eu tinha 12 anos, mas tinha olhos para ver que nada por lá se comparava com a beleza da ilha. O barulho dos automóveis, a confusão do progresso e a constante batalha pelo dólar, parecia-me mais do mesmo lutar diário, com a única diferença que nos Estados Unidos nunca se passava fome. Com 14 anos já estava empregado a lavar louça num restaurante à tarde depois da escola. Focando apenas na oportunidade de viver, os EUA não tem par no mundo, mas tem um custo elevado de não haver uma sociedade coesa, famílias que quase não conhecem seus parentes próximos porque vivem a milhares de quilometres, e uma cultura fracturada em residentes de cada nação, sem uma cultura universal como temos em Portugal. Torna-se muitas vezes num deserto humano em que cada um vive só dentro das quatro paredes do seu imóvel desligado do resto dos vizinhos, da vila, ou cidade. Mas para quem tem vontade de trabalhar o sucesso é sempre possível.
Quando se começou a interessar por investigação histórica e porquê Cristóvão Colombo em particular?
MR: Como todo o mundo, eu tinha sido ensinado que “Colombo era pouco mais do que um idiota que nada sabia de navegação, e que se tornou famoso apenas por conseguir encontrar, por vários erros, uma terra que nunca buscou.” Nada me interessava com o “Cristóvão Colombo” antes de 1991 quando, ao trabalhar na tradução para Inglês do livro de Mascarenhas Barreto, soube pela primeira vez que o navegador tinha casado em Portugal. Fiquei deveras estupefacto. O mais famoso descobridor do mundo casou em Portugal e eu nunca tive conhecimento disso. “Porque não me ensinaram isto na escola em Portugal?” foi logo a minha reacção. Após ler mais uns livros sobre o descobridor, comecei a notar que havia muita coisa que não podia estar correcta de forma nenhuma. De facto era impossível a história oficial sobre um “Colombo tecelão de Génova” estar correcta sabendo do seu casamento com uma jovem da alta nobreza em Portugal. E foi assim que levei os meus primeiros 10 anos a investigar sobre o que é que tinha dado iní cio ao erro da história, e verifiquei que o próprio descobridor iniciou várias das mentiras que os académicos mais tarde aceitaram como verdade. E de lá até hoje tenho tentado crivar toda a história para separar as mentiras das verdades. É o resultado desses 21 anos que apresento no novo livro “Colombo Português – Novas Revelações”.
Afinal Quem era Cristóvão Colombo? Um navegador ambicioso que vendeu os seus serviços a Espanha, ou um patriota que agiu em nome de D. João II?
MR: Responder “Quem era Colombo”, ou seja qual era a verdadeira identidade do navegador, seria dar resposta a um quebra-cabeças com 500 anos. A vida dele é de fato uma história fantástica de espionagem internacional, um verdadeiro James Bond do seu tempo, que faz parte da nossa história de Portugal. O facto é que o seu nome nem sequer era Cristóvão Colombo, mas Cristóvão Colon e que, por vários erros cometidos por terceiros, o nome «Colon» tornou-se em «Colombo». “Cristóvão Colon” como se lhe deve chamar corretamente, era um navegador ambicioso que vendeu os seus serviços a Espanha e ao mesmo tempo tinha D. João II como o seu verdadeiro patrão. Ou melhor dito, o navegador fez tudo o possível em Espanha para que os espanhóis se fiassem nele e nunca soubessem que ele era um agente secreto de D. João II, o mesmo rei que o casara em Portugal em 1479 com a nobre Filipa Moniz, tia do Mordomo-Mor de D. João II: este é apenas um dos muitos fatos demonstrados pela primeira vez no meu livro.
Porque está convencido de que Cristóvão Colombo era português?
MR: São já 21 anos que levo a investigar todos os ângulos possíveis desta história e não resta dúvida que o descobridor era português de berço. No livro apresento uma multidão de fatos que provam que ele era um nobre português. Entre os muitos fatos, releva-se que o próprio Rei D. João II escreve-lhe cartas em Português com o nome “Xpovam Colon”, que Colon escrevia em castelhano e sempre inseria palavras portuguesas e nunca italianas, que Colon nunca escreveu uma só carta em italiano, nem sequer para seus irmãos, os quais também escreviam em castelhano entre si. Por outro lado o descobridor, para além de ter dado uns 80 nomes portugueses a locais no Novo Mundo – tanto portugueses como Cabo de Lapa, Vale do Paraíso, Cuba, Ponta de Caxinas e não ter dado um único nome de locais de Itália – mostro ainda que escreveu para os Reis de Castela onde afirmava que Portugal era “mi tierra”.
Estes são apenas alguns dos factos apresentados ao mundo pela primeira vez no meu livro que não deixam dúvida de que a história estava errada. Os novos factos já convenceram bastantes académicos que Colon era português. Até a Presidente da Academia Portuguesa da História já o afirmou em entrevista, após ter conhecimento dos factos que apresento.
A história oficial diz-nos que Colombo se teria perdido e pensava ter descoberto a Índia. Explique porque acha esta história não verdadeira…
MR: Esta explicação vem muito bem detalhada no meu livro, apresento factos científicos junto com documentos que o provam, tal como as palavras do próprio navegador que mostram que ele sabia perfeitamente que não estava na Índia. Quando se mostra que ele sempre soube que a América não era a Índia, consegue-se provar que andava enganando os espanhóis e esse engano servia apenas um propósito: ajudar D. João II de Portugal a proteger a verdadeira Índia. Foi exatamente isso que aconteceu. Neste meu livro apresento ainda provas que Cristóvão Colon já tinha estado no Canadá numa missão secreta para D. João II em Fevereiro de 1477.
Colon trabalhava para D. João II, o qual montou uma trama tão bem planeada que utilizando outros participantes para fazer mapas falsos, globos falsos, e tanta informação falsa para que desta forma Portugal conseguisse enganar o mundo. O que eu acho incrível não é esta conspiração da corte portuguesa para enganar Espanha e sim o facto de apenas 500 anos mais tarde a termos conseguido desvendar.
Porque foi também o livro traduzido para Polaco?
MR: Sim, o livro acaba de ser publicado na Polónia com titulo “KOLUMB. Historia Nieznana” e foi também já publicado na Espanha com titulo “COLÓN. La Historia Nunca Contada”. Na Polónia está a ter grande sucesso com os leitores polacos por parecer hoje que Colon, em vez de ser o plebeu italiano, era um Principe Português de ascendência Polaca. Este sucesso está a acontecer porque é deveras um trabalho intrigante que traz respostas a vários mistérios da história mundial e está a ter um impressionante número de críticas literárias, todas elas positivas até hoje. Embora só tenha publicado pela primeira vez em 2006, os meus livros já conseguiram derrubar muitas ideias falsas sobre a “Descoberta das Américas”, mas os livros da escola estão difíceis de mudar. Acho que levará algum tempo para que os alunos comecem a ser ensinados que Cristóvão Colon era um nobre português e não era aquele plebeu italiano chamado Cristoforo Colombo que nos diziam ser. Mas não duvido que no futuro isso venha por acabar a acontecer.
Muitos críticos da sua investigação acusam-no de não ser licenciado em história. Teve dificuldades com isso?
MR: Não ser licenciado em história não é impedimento nenhum de poder ler e entender aquilo que se lê. Nem é impedimento para poder escrever sobre história, muitos livros de história são escritos por pessoas que não são licenciados em história. Mas alerto que levo já 21 anos a investigar a vida de Cristóvão Colon e que tudo aquilo que eu escrevo está baseado em documentação e que o livro está cheio de notas de rodapé para quem quiser ir averiguar as fontes. O que tem acontecido com alguns “historiadores”, (especialmente em Portugal, porque noutros países o meu trabalho está a ser bem aceite) é que eles têm a noção de que é impossível que a “história oficial” esteja errada e por isso recusam-se a ler o livro, daí que eu gosto de dizer que tenho críticos virtuais, ou seja, eles criticam com a ideia de eu estar errado mas sem nunca lerem o livro para ver se estou ou não errado. A esse tipo de críticos não vale a pena dar ouvidos. Pelo contrário, para aqueles que leram o livro, não tenho recebido nada senão louvores descrevendo o livro como uma investigação séria e bem feita que muda completamente a forma como a pessoa e a missão de Cristóvão Colon serão vistos no futuro.
Porque acha que as suas teorias não são consensuais entre a comunidade de historiadores?
MR: A razão que alguns não aceitam os resultados da minha investigação tem a ver com o mesmo problema de muitos não lerem e sem lerem jamais podem-se deixar convencer. Por isso é imperativo que todos leiam, só assim estaremos armados para confrontar o mundo com a nova versão da história. Os factos que apresento no livro não deixam lugar para dúvidas de que a história oficial sobre um “plebeu Colombo italiano que andava perdido em busca da Índia” fora construída como um conto de fadas sem ter qualquer base documental.
Os factos que o livro contém são a arma mais importante nesta batalha de trazer a glória da descoberta do Novo Mundo para os portugueses. E permito-me recordar que o próprio Prof. Joaquim Veríssimo Serrão, não só aceitou escrever o Prefácio deste último livro, como já em 2007 me escreveu uma carta pessoal onde diz que está 100% de acordo comigo.
A diferença entre os críticos e entre aqueles que aceitam que a história estava errada, é apenas a ignorância dos críticos sobre as novas informações que apresento. Deduz-se apenas que os críticos já sabem tudo e recusam de ler mais, enquanto os apoiantes entendem que da história de Portugal ainda muito pouco sabemos. O Prof. Francisco Contente Domingues é um dos poucos que se mostram com disposição de querer questionar aquilo que pensávamos que já sabíamos sobre a nossa história. Nesse sentido, o Prof. Francisco Contente Domingues publicou novo livro no mês passado sobre “A Travessia do Mar Oceano…”, reiterando questões que eu já escrevera nos meus livros sobre a pre-descoberta do Brasil antes de Cabral, (descoberto já antes de Março de 1493, aponto eu), que merecem de ser bem estudadas pelos historiadores em Portugal. Também o caso de D. João II ter morrido envenenado pelos partidários dos Reis de Castela, merece uma investigação cientifica às sus ossadas.
Mas como toda a história tem o seu principio, meio e fim, o meu livro faz nova luz sobre o principio de um evento que mudou o mundo, mostrando como esse evento fora planeado e executado da forma que o Rei D. João II quis que fosse. Cristóvão Colon fora apenas uma de várias pessoas a trabalhar para João II nesse grande engano contra Espanha e Colon conseguiu manter o mundo enganado por 500 anos sobre aquilo que ele sabia e o que andava a fazer. Após a leitura do “Colombo Português – Novas Revelações” ninguém conseguirá aceitar mais a história de fantasia que nos tinham contado. Todos os portugueses devem de sentir um certo orgulho em saber que os nossos antepassados tiveram formas geniais de gerir e proteger o nosso país contra os seus inimigos, e o maior deles sempre foi a Espanha.
José Manuel Duarte
jduarte@mundoportugues.org
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