MÁRIO LINO DA SILVA, é embaixador de Portugal na Venezuela há um ano. Admirador confesso da cultura e vivência sul americana chega a este país cheio de expectativas que deixou transparecer nesta curta entrevista que deu ao Emigrante/Mundo Português.
O que acha deste país em relação às expectativas que trazia?
Posso dizer como primeiro impressão é que se trata de um grande país. Como venho defendendo em relação a quase todos os países da América Latina. Trata-se de um país de grande juventude e por isso com uma série de potencialidades onde há muito por fazer e onde as empresas portuguesas, no que toca a esta relação especial que se estabeleceu entre Venezuela e Portugal desde 2008, e que continua a ser intensificada, podem encontrar imensas oportunidades ajudando a superar um pouco a situação complicada do ponto de vista da perspetiva de negócios que têm em Portugal neste momento.
Mas neste relacionamento não houve um “passo-atrás”?
Não considero que tenha havido um voltar para trás de maneira nenhuma, eventualmente pode ter havido um momento de “esperar para ver” como costuma dizer-se quando foi da mudança de governo em Portugal que originou um certo compasso de espera perfeitamente normal e em que as autoridades venezuelanas procuraram entender os pontos de vista das novas autoridades portuguesas que decidiram não só manter o rumo da cooperação, como até intensificá-lo.
De qualquer forma este ano é decisivo na vida política da Venezuela com eleições muito importantes. Acha que a alterar-se a conjuntura, pode também haver alterações neste relacionamento com Portugal?
Eu penso que hoje em dia os políticos são cada vez mais pragmáticos e por isso as relações de estado a estado suplantam as empatias pessoais dos governantes, por isso penso que a relação entre Portugal e Venezuela já é uma relação adulta que ultrapassa todas essas vicissitudes e portanto queria destacar em todo este processo a força da importante comunidade portuguesa aqui residente e que é um enorme fator de ligação entre estes dois países, independentemente dos “avatares” da política ou alternâncias do jogo democrático, as relações continuarão prósperas assentes nesta grande comunidade que aqui reside.
A comunidade permanece “muito portuguesa” ou já se encontra diluída na sociedade venezuelana?
A geração pioneira que está agora a desaparecer um pouco encontrou uma forma excelente de perpetuação nos seus filhos e netos que hoje em dia são gente de grande preparação já formada e com horizontes muito mais alargados, que assumindo as suas raízes continuam a privilegiar as suas origens no seu relacionamento com Portugal.
Falando com alguns portugueses percebe-se um certo cansaço da comunidade com a violência, sobretudo quando assumem que nem sequer há vontade política para acabar com a situação…
Eu não diria tal. Efetivamente países jovens como a Venezuela e outros da América Latina ainda sofrem de muitas carências em determinadas áreas nomeadamente social. A questão da segurança é inegável. É um problema que existe e as próprias autoridades o reconhecem mas é preciso ter em atenção que a comunidade portuguesa não é um alvo específico dessa violência marginal neste país. Todos os grupos sociais e etnias são atingidos, inclusivamente os próprios Venezuelanos, mas as autoridades locais estão atentas e pouco a pouco vão reforçando os meios para combater essa marginalidade, porque é disso que claramente se trata.
José Manuel Duarte
jduarte@mundoportugues.org
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