No decurso da visita que efectuou a Cabo Verde, Cavaco Silva apontou a possibilidade daquele país se poder vir a tornar numa plataforma privilegiada de acesso a outros mercados e regiões para as empresas portuguesas. Ao discursar no banquete oferecido em sua honra pelo seu homólogo cabo-verdiano, o presidente da república voltou a lembrar a existência de potencialidades ainda pouco exploradas em áreas como a economia do mar.
Para Cavaco Silva “uma das áreas em que Portugal e Cabo Verde possuem abundantes recursos, com enorme potencial, é o Mar. Uma visão de futuro para a nossa cooperação implica necessariamente um maior aproveitamento do ‘cluster’ marítimo de Cabo Verde, que resulta da sua condição arquipelágica e posição geográfica, nas rotas do Atlântico Sul”, observou. “Estou convencido de que os nossos empresários poderão tirar partido dessa situação para utilizar Cabo Verde como plataforma de acesso a outros mercados e regiões, apostando, simultaneamente, no desenvolvimento e na consolidação de uma verdadeira economia do Mar”, acrescentou.
A economia do mar, sublinhou, constitui uma das áreas de “complementaridade” entre os dois países que “podem e devem ser mais bem exploradas”. Perante o presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, o Chefe de Estado português vincou que Portugal e Cabo Verde estão unidos por “interesses convergentes de longo prazo” em domínios que vão da política à economia, da cultura à educação, à formação de recursos humanos ou à ciência e tecnologia. “O âmbito da nossa cooperação bilateral é vasto e abrangente. Portugal ocupa um lugar cimeiro entre os parceiros comerciais de Cabo Verde. Os nossos empresários estão presentes nos mais variados domínios, incluindo o turismo, as energias renováveis, a construção, as obras públicas, o sector financeiro”, enumerou.
Encontro com a comunidade
O Presidente da República encontrou-se também na Cidade da Praia, com a comunidade portuguesa, questionando se não terá chegado a altura de os cerca de 12 mil portugueses que residem em Cabo Verde refletirem sobre a organização da comunidade “em estruturas mais institucionalizadas”.
Discursando justamente na recepção oferecida à comunidade portuguesa na residência da embaixadora de Portugal na Cidade da Praia, Aníbal Cavaco Silva defendeu que os espaços de debate e de reflexão são a “melhor forma” de promover a imagem, cultura e língua que se partilha com Cabo Verde.
“Espaços que favoreçam iniciativas conjuntas, reunindo as múltiplas valências em que se afirma a presença portuguesa” em Cabo Verde, sustentou, realçando ter ficado “surpreendido” com a “dinâmica e empreendedora” comunidade portuguesa, presente em todos os sectores de actividade local.
Comunidade portuguesa é exemplo de civismo
“Do que me dizem as autoridades cabo-verdianas, a presença portuguesa no país é um exemplo da aplicação de princípios de responsabilidade social. Muitas das nossas empresas têm estado na origem ou na vanguarda de importantes projectos de alcance social, em domínios meritórios quanto o combate à pobreza e a promoção da educação e cultura”, sublinhou.
Para Cavaco Silva, esta “notável atitude cívica”, além dos impactos positivos na imagem das empresas, constitui um contributo “importantíssimo” para o “excelente relacionamento” entre Portugal e Cabo Verde.
“E a verdade é que, quanto melhor for este relacionamento, tanto melhor para as empresas e para o geral da nossa comunidade”, defendeu Cavaco Silva, recordando, porém, que os “afectos” entre os dois países e povos “precisam de ser alimentados”.
“Não basta proclamar sentimentos. É necessário concretizá-los em gestos e obras. O que aqui se encontram são pessoas que querem ver obra feita, que anseiam para que se passe das palavras aos actos. Os agentes políticos devem compreender esse anseio e apoiar a sua concretização”, concluiu Cavaco Silva.
CPLP precisa tornar-se viva e actuante
O Presidente da República, Cavaco Silva, defendeu ainda a necessidade de “intensificar o intercâmbio existente” no seio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e de tornar a organização “numa realidade viva e actuante”.
“Para que a lusofonia seja um projecto voltado para o futuro, e não apenas um eco do passado, temos de intensificar o intercâmbio existente, de modo a que os livros que se escrevem e o conhecimento que se produz em cada um dos nossos países cheguem a todo o universo da língua portuguesa”, sustentou, na Biblioteca Nacional de Cabo Verde, ao inaugurar a feira do livro local, no âmbito da visita de Estado que efectuou ao arquipélago lusófono.
Na Feira do Livro da Cidade da Praia, um concorrido evento cultural do país e um repositório de livros publicados na língua comum da organização, o Chefe de Estado apelou a que os membros da CPLP sejam “capazes de transformar” a organização “numa realidade viva e actuante”.
“Temos que ser capazes de transformar esse projecto numa realidade viva e actuante, quer por fidelidade ao nosso passado comum, que faz parte integrante da identidade de cada uma das nossas nações, quer como instrumento para assegurar o desenvolvimento e o bem-estar acrescido dos nossos cidadãos”, observou.
“Só assim”, sublinhou, “poderemos vir a ser verdadeiramente uma comunidade, no interior da qual as diferentes culturas interagem em benefício comum”.
Antes, numa visita ao Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), Cavaco Silva ouviu da directora da organização, Amélia Mingas, uma longa exposição sobre a sua atividade, mas também lamentos sobre as dificuldades financeiras e de recursos humanos com que se debatem. “Não se compreende que uma instituição como esta, que tem a seu cargo a promoção de um tesouro tão grande como a língua portuguesa, não tenha condições materiais (…) a instituição debate-se com dificuldades financeiras e de pessoal técnico, mas o essencial é mesmo o aspecto financeiro”, afirmou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, referiu a existência de uma proposta para que, na próxima cimeira da CPLP, no final do mês, em Luanda, os responsáveis políticos da organização ratifiquem uma revisão dos estatutos do IILP e um Plano de Acção para a promoção e difusão da língua portuguesa.
Defesa da língua portuguesa é questão estratégica
A defesa da língua portuguesa mereceu também do presidente da república bastante atenção nesta visita ao defender que hoje em dia a defesa da língua portuguesa é, além de uma expressão cultural, uma questão política que assume uma importância estratégica e “deve ser encarada como tal pelos responsáveis políticos”.
Aníbal Cavaco Silva discursava no encerramento do Colóquio sobre “Língua Portuguesa e Diálogo Cultural”, realizado na cidade da Praia pela Universidade de Cabo Verde em parceria com o Instituto Camões.
“No mundo globalizado que vivemos, mais do que fronteiras geográficas, são os valores imateriais que determinam a identidade, a coesão e a influência dos espaços políticos. A língua assume, neste contexto, uma importância estratégica e como deve ser encarada pelos responsáveis políticos”, afirmou.
Lembrando que o português é a quinta língua a nível global com 220 milhões de falantes em 4 continentes, Cavaco Silva reafirmou que é necessário rentabilizar o potencial da partilha de uma língua comum.
“Por muito diferente que seja a situação linguística em cada um dos nossos países, é hoje inquestionável o interesse que todos temos em preservar e explorar as potencialidades que estão ao nosso alcance pelo facto de partilharmos a mesma língua”, afirmou.
Neste sentido, Cavaco Silva adiantou que é necessário apostar no reforço do ensino do português, seja como língua materna, segunda língua ou estrangeira.
Além do ensino, o Chefe de Estado Português anotou que a promoção da língua portuguesa deverá passar ainda pela produção científica em português e na sua utilização pelas empresas e em relações comerciais.
“É por isso que se reveste de tanta importância o estreitamento das relações entre os povos que integram a CPLP, a aproximação das universidades e centros de investigação, o estímulo a projectos empresariais e científicos onde estejam associadas instituições e pessoas de diversos países lusófonos”, advertiu. O Presidente da República referiu que o plano de acção recentemente aprovado na Conferência de Brasília e que os Chefes de Estado e de Governo irão adoptar na próxima cimeira da CPLP, em Luanda, constitui um importante contributo neste sentido. Entre estas acções a serem adoptadas, Cavaco Silva ressaltou a revitalização do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP).
Cavaco Silva terminou dizendo que em relação a Cabo Verde, onde o português convive com o crioulo, este fato não constitui nenhuma preocupação.
“O português não se define, nem nunca se definirá, em oposição a qualquer outra língua, idioma ou dialecto. Muito pelo contrário, a riqueza da nossa língua e a sua prodigiosa plasticidade muito devem à sua capacidade para integrar palavras e expressões próprias do mosaico cultural dos povos que a falam”, concluiu.
José Manuel Duarte
Com Lusa
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