Nuno Barroso está de regresso com «Duetos». O primeiro single já toca nas rádios e conta com a participação de Nuno Norte. Em entrevista ao O Emigrante/ Mundo Português os dois músicos falam sobre este projecto e revelam um desejo comum: levar «Duetos» a todos os portugueses que vivem fora de Portugal.
Nuno Barroso: Surge na sequência de um trabalho que tem sido feito nos últimos três anos sensivelmente. E surge também de uma realização pessoal, de um sonho que tinha que era convidar uma série de artistas portugueses e estrangeiros, amigos desta carreira. Ao longo dos anos fui travando conhecimentos com eles e a partir daí surgiu uma ideia de então convidar essas pessoas para cantarem comigo. Tinha 15 canções originais que ainda não tinha gravado e foi exactamente a partir daí que comecei a pensar em passar para o papel todas estas ideias de canções, de melodias, de poemas.
Como foi feita a selecção musical e o intérprete?
Nuno Barroso: Cada canção está um pouco ligada ao próprio interprete que eu convido. A própria música que canto com o Nuno Norte que é a «Tal como tu» é uma canção que fala sobre a aventura, o prazer de descobrir a vida, de liberdade, do conceito de noite, viagens pelo mundo fora, descobrir a portugalidade e tudo aquilo que nós somos. Até o ritmo pop-rock de alegria e esperança se liga ao Nuno Norte. E então convidei-o. Porque achei que ele é indicado para fazer parte desta ideia e é exactamente assim: espontâneo, líder do improviso. E esta canção tem um pouco a ver com isso: ser espontâneo mas ao mesmo tempo estarmos com os pés assentes na terra.
Quem são os outros convidados deste álbum?
Nuno Barroso: Convidei nomes bastante variados. O José Cid, o meu pai Pedro Barroso, o Nuno Guerreiro dos Ala dos Namorados, o Filipe Gonçalves, a Lara Afonso, a Inês Santos, a Anabela. E convidei também alguns artistas como o Jorge Vadio, o Stigi que é um cantor da Noruega, o Raffa Bocero, um dos grandes nomes da música flamenga e convidei o Zoey Jones que é uma cantora na área do Jazz.
A utilização de vários estilos foi propositada?
Nuno Barroso: Sim, eu gosto desse aspecto ecléctico dos álbuns Não gosto de um trabalho que seja exactamente igual do princípio ao fim. Este álbum tem desde o rock, o fado, o jazz, a balada romântica. Envolve vários estilos porque cada artista envolve uma personalidade. Não iria dar, por exemplo, ao Nuno Norte a canção que dei à Inês Santos. Não tinha sentido!
Nuno Norte: É um trabalho único e envolve vários estilos que mostram a versatilidade do Nuno Barroso. É um trabalho que vai agradar a “gregos e troianos”! Como gosto de coisas diferentes acho que vai ser muito giro cantar em palco as músicas deste álbum.
Quando tempo demorou a gravar este álbum? Não deve ter sido fácil conciliar agendas com tantos artistas…
Nuno Barroso: A elaboração do trabalho já dura há três anos. Depois estive em estúdio a fazer pré-produção. O problema acaba por ser a disponibilidade, claro. Ficamos dependentes da disponibilidade de terceiros, dos outros artistas poderem partilhar connosco esta aventura. Mas as pessoas aceitaram todas o convite, o que me deixou muito feliz, e felizmente consegui gravar tudo. Uns tive que ir mais longe como o José Cid mas quando se quer tudo se consegue.
Quando sai o disco?
Nuno Barroso: Vai ser um trabalho diferente. Como são vários interpretes vou lançar single a single. Eu não acredito muito naquela fórmula dos álbuns que saem, estão nas lojas, há um consumo e depois o álbum morreu. É uma forma materialista de ver as coisas.
Vai haver digressão?
Nuno Barroso: Sim, sim. E queremos mostrar aos portugueses que estão fora de Portugal este trabalho. A intenção é levar este trabalho para a estrada com o Nuno Norte como cantor residente do espectáculo dos «Duetos». Queremos cantar por esse mundo fora para todas as comunidades portugueses que existirem.
O que pensou quando o convidaram para este projecto?
Nuno Norte: Achei que é uma boa ideia. Eu sou fã do Nuno Barroso. Nós conhecemo-nos há muito pouco tempo mas houve logo uma empatia. Temos muitos pontos em comum. Eu no fundo ainda estou a começar. O Nuno Barroso já cá anda há muitos anos. É uma das pessoas que já enriqueceu o mundo da música portuguesa com as composições dele e eu só tinha mais era que aceitar um convite destes.
Já actuou para as comunidades portuguesas? Acha que é diferente?
Nuno Barroso: É diferente. As pessoas estão longe da sua pátria, da sua terra e tudo aquilo que é português é mais apreciado. Eu também já vivi fora, no meu caso em Londres, e sei o que é sentir saudades do nosso país e sei o que é que é agarrarmo-nos ao que é português, por mais pequeno que seja, numa sociedade onde há todas as línguas do mundo. Nesse aspecto acho muito importante tocar para as comunidades.
Nuno Norte: Eu estive em Toronto e lembro-me que foi um espectáculo enorme para milhares de pessoas. Foi porreiro estar com os portugueses lá fora.
É levar um pouco de Portugal para junto deles…
Nuno Barroso: Mesmo para as pessoas da segunda-geração é levar-lhes aquilo que são as suas raízes. Nós os músicos somos um bocado embaixadores da portugalidade, da nossa cultura, da nossa língua. Se nós não transmitirmos isso às pessoas que estão lá fora deixamos de ter uma autoridade enquanto embaixadores da cultura e língua portuguesa. É por isso que acho muito importante cantar em português. É preciso manter a chama viva. Senão a nossa língua e a nossa cultura começam a desaparecer.
Acha importante cantar em português?
Nuno Barroso: Houve uma altura em que as bandas portuguesas queriam cantar todas em inglês um bocado para sair de Portugal e fazer carreira lá fora. Mas se formos a ver quem têm mais sucesso lá fora até canta em português como a Marisa, a Dulce Pontes ou a Misia. A exportação dos valores portugueses faz-se através deles próprios e não da importação de outros valores.
Como está a música portuguesa? Não acha, por exemplo, que os cd’s são muito caros?
Nuno Barroso: Eu acho que os cd’s são muito caros, acho que há o fenómeno da pirataria, acho que hoje não se vendem muitos cd’s precisamente por causa dessa pirataria e dos downloads na internet. Para além de ser muito caros, claro! Acho que o IVA nos cd’s é mesmo ridículo. O estado devia privilegiar a cultura e a música envolve poesia, envolve horas e horas de música e de gravação e tem tanto valor como um livro. Um cd tem o 20% de IVA e um livro tem 5% . Existe uma série de pormenores estruturais que a própria sociedade portuguesa não está preparada para apoiar os artistas portugueses.
Qual é a vossa opinião sobre a venda de música na internet?
Nuno Norte: Eu tenho algumas ideias diferentes. Acho que cada vez mais nós músicos devíamos deixar de nos preocupar em vender discos e sim em fazer música e divulgá-la. Eu por mim lançava um disco e metia o álbum todo na internet de borla. Porque eu ou ganhar dinheiro é com os espectáculos. Cada vez menos ganhamos dinheiro a vender discos. E não há nenhum músico que possa dizer o contrário. Por isso temos que nos preocupar em divulgar a música, dar a música às pessoas e depois então ganhar dinheiro com os espectáculos que também precisamos. Em relação ao preço dos cd’s nas lojas deviam baixar drasticamente.
Nasceu em 1977 e desde sempre se destacou no mundo da música pelo seu talento como cantor e compositor. Atingiu o sucesso como vocalista dos Alémmar e com a música «Deixa-me olhar» que esteve 5 meses no top nacional. A solo já laçou «Mistério sem fim» e “A vida dá muitas voltas».
NUNO NORTE
Foi o cantor escolhido para ser o seu parceiro de palco na tournée de «Duetos». Vencedor da versão portuguesa dos «Ídolos», foi a voz dos Filarmónica Gil, dos Parkinson e dos Lama.
A.R.A.
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