O autarca social-democrata apresentou, na Taberna do Romal, a Rota das Tabernas da Cidade que será constituída por 27 estabelecimentos, que vão desde a zona de Santa Clara e Monte Arroios à Baixa e Alta de Coimbra. “Vamos criar uma rota que será o reconhecimento destes estabelecimentos, que têm no seu passado aspectos sociais”, afirmou Mário Nunes, salientando que era nas tabernas que se “discutia a política, a cultura e se improvisavam peças de teatro”. Era também naqueles espaços, referiu o vereador, que “se descobriam vozes do fado e se aprendia espontaneamente viola e guitarra”. Com a Rota das Tabernas, a autarquia pretende que estes estabelecimentos “preservem a genuinidade”, mantendo os pipos, a venda de vinho a copo e os petiscos grastronómicos “que eram feitos à vista de toda a gente”, para além de todos os aspectos que caracterizavam aqueles espaços.
Segundo Mário Nunes, há cerca de 40 anos existiam 132 tabernas na cidade, mas hoje já só restam 27 e “algumas delas sem possuírem todas as genuínas características”.O autarca adiantou, no entanto, que “a Câmara vai dar apoio aos taberneiros para reformularem o que não está bem”. O aparecimento dos snacks e dos cafés fizeram as “tabernas cair em desuso”, referiu Mário Nunes, recordando que os seus frequentadores “não eram bem vistos”. “Existiu um certo elitismo que hoje está a desaparecer, com as tabernas a terem outra aceitação e a assumirem a autenticidade dos nossos produtos – seja o vinho, a broa e os pestiscos – num mundo cada vez mais virtual”, ironizou o responsável pelo pelouro da Cultura. “Queremos que as tabernas em Coimbra sejam destinos turísticos culturais, onde o turista vai e apreende e observa uma realidade autêntica do nosso passado”, sublinhou. A Rota das Tabernas vai ser acompanhada de um programa alternado de animação quinzenal. Mário Nunes adiantou ainda à agência Lusa que será editado, em breve, um livro sobre a história das tabernas da cidade de Coimbra.
Vila Real: tasca secular com novos clientes
Com as portas abertas desde 1900, a tasca “Baca Belha” recebe agora novos clientes, muitos deles estudantes Erasmus que são atraídos pelos preços reduzidos do copo de vinho e pelo mais típico e tradicional que há em Vila Real. É normalmente ao final da tarde, que a dona Perpétua Carvalho recebe os primeiros clientes na “Baca Velha”, a tasca onde nasceu há 81 anos, que herdou dos seus pais e onde os “v’s” foram trocados pelos “b’s”. Durante o dia apenas passam por aquela zona, onde nasceu a cidade de Vila Real, algumas pessoas que se deslocam ao Museu da Vila Velha ou ao cemitério, localizados um pouco mais à frente. A maior parte das casas em redor degradou-se e foi demolida. Com o entardecer aparecem os clientes de sempre e também novas caras, estudantes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), muitos deles do Programa Erasmus. Javier Martin, 25 anos e natural da Galiza, Espanha, ouviu falar da “Baca Velha” através de um outro colega Erasmus e depois de conhecer esta taberna, volta sempre que pode. “Gostamos de estar aqui, é um espaço acolhedor, típico, diferente”, afirmou à Agência Lusa.
Para além de gostar de beber o vinho da casa, a estudante espanhola de Enologia, Elena Rivilla, gosta também de conversar com as pessoas mais velhas que frequentam o café, a maior parte das quais são homens. Aqui, onde a língua não parece ser um entrave, o copo de vinho custa 35 cêntimos e os clientes podem ainda petiscar alheira, coração, fígado, orelha ou moelas. “Aqui as alheiras são as melhores de Vila Real”, afirmou a espanhola Andrea Rey, 23 anos e estudante de Engenharia do Ambiente. A jovem diz que o gosta mais na secular tasca é mesmo do “ambiente”, das paredes de granito, das cadeiras e mesas de madeira velha, do balcão secular e dos clientes antigos que contam histórias, de quem ouviu as canções populares e com quem ficou a conhecer a verdadeira Vila Real. Simplício Peixoto, 51 anos, é cliente diário desta tasca desde que saltava os muros da Escola Camilo Castelo Branco, a poucos metros de distância, para ir comer uma fatia broa de milho e beber um copo de vinho. “Criei aqui raízes desde os meus 12 anos”, salientou este funcionário público.
José Trindade nasceu na Vila Velha há 65 anos e vem todos os dias à tasca para “beber um copo” e “discutir” com os amigos sobre tudo, desde o futebol à política, ainda jogar às cartas ou jogar dominó. “É bom para nós ver estas caras novas”, salientou o reformado, que lembrou com saudade e nostalgia os tempos em que as ruas daquela zona da cidade estavam cheias de gente. “Agora as pessoas que aqui vivem contam-se pelos dedos das mãos”, frisou.
Entre as quatro paredes antigas da tasca, juntam-se os rostos de sempre, os mais recentes e os acabados de chegar. A polaca Dominike Gowychowohe, 23 anos, chegou há poucos dias à UTAD para estudar Sociologia e gostou logo da “Baca Belha”, por isso mesmo promete voltar sempre que possa.
O espanhol Rodrigo Alonso Cuesta, 27 anos e estudante de Comunicação e Multimédia, escolheu Portugal para estudar porque queria aprender a falar melhor a língua e diz que encontrou muitos contrates entre a zona velha e a zona nova da cidade transmontana. “Mas, conforme vou conhecendo melhor a cidade é da zona mais antiga que gosto mais. Quando conheci a ‘Baca Belha’ fiquei completamente enamorado”, salientou.
Hugo Pereira, presidente “Erasmus Student Network”, associação que presta auxílio e encaminha os alunos estrangeiros, referiu que a UTAD recebeu este ano 250 alunos Erasmus, oriundos de 15 países europeus.
A maior parte dos alunos estrangeiros na UTAD são espanhóis, seguindo-se os polacos, franceses e belgas.
Perpétua Carvalho olha com agrado para os novos clientes mas diz que às vezes têm que os mandar embora para fechar as portas, porque já não aguenta até muito tarde. Por isso mesmo, aponta com o olhar para um aviso, colado nas traves de madeira do tecto, que diz que “por motivos de saúde”, estabelecimento tem que fechar às 22:00. A Dona Perpétua diz que o seu estabelecimento esteve sempre de portas abertas, desde que os seus pais o abriram em 1900. Já por sua iniciativa, ainda ali abriu uma mercearia que fechou com a chegada dos hipermercados a Vila Real.
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