Há dez anos atrás, os cidadãos da Trofa rumaram a Lisboa e foram “buscar” o seu concelho.
A criação do concelho da Tro-fa não teve origem numa luta de séculos, nem na exposição medi-ática de outros processos idênticos, mas resultou de um descontentamento popular acumulado ao longo de mais de 170 anos.
O “grito do Ipiranga” – como lhe chama José Costa Ferreira, um dos treze elementos que inte-graram a Comissão Promotora do Concelho da Trofa – foi dado em 1927, quando saiu o primeiro nú-mero do jornal ‘O Trofense’, assu-midamente criado para defender a criação de um novo concelho. A origem do descontentamento popular, no entanto, tinha come-çado muito antes.
O ‘problema’ nasceu a 6 de Novembro de 1836, dia em que foi publicado o decreto que reti-rou oito freguesias da Maia e as anexou ao novo concelho de Santo Tirso. “O que se passou foi a anexação de uma parcela gran-de da antiga Terra da Maia a um concelho que foi criado no Terreiro do Paço, com régua e esquadro”, informou José Costa Ferreira.
As oito freguesias em causa – Santiago de Bougado, S. Marti-nho de Bougado, Muro, Alvare-lhos, S. Mamede do Coronado, S. Romão do Coronado, Covelas e Guidões – são precisamente as que hoje constituem o conce-lho da Trofa. “Estas oito freguesi-as têm uma identidade em comum, são maiatas, não têm nada a ver com Santo Tirso”, defende José Costa Ferreira.
Com a chegada do caminho-de-ferro e a abertura da primeira escola primária, em finais do sé-culo XIX, a Trofa sofreu um forte impulso cultural, que veio a ter repercussões na luta pelo novo concelho.
“Quando chegou a República, a Trofa já tinha homens cultu-ralmente elevados e profissionalmente competentes, que come-çaram a exigir de Santo Tirso a satisfação de velhas reivindica-ções, incluindo acessibilidades e infra-estruturas”, frisou Costa Ferreira.
A criação do jornal ‘O Trofen-se’ foi um impulso à manutenção de uma identidade regional, mas a luta pela criação do concelho voltou a arrefecer com a II Guerra Mundial. E assim se manteve até Abril de 1974.
“Os primeiros passos decisivos para a criação do concelho surgem a partir do 25 de Abril. Apareceram jornais, rádios e te-levisões piratas que criaram uma pressão enorme”, recordou.
A 14 de Dezembro de 1990, a Assembleia de Freguesia de S. Martinho de Bougado decidiu por unanimidade nomear uma comis-são para estudar a existência de condições para a criação do concelho.
A 15 de Julho de 1992, a de-nominada Comissão Promotora do Concelho da Trofa deslocou-se a Lisboa para entregar na As-sembleia da República uma peti-ção para a criação do concelho.
Em Fevereiro de 1998 foi da-do um passo decisivo, quando foram entregues no Parlamento vários projectos de lei para a cria-ção de novos concelhos.
Nove meses mais tarde, a 19 de Novembro de 1998, quase du-as centenas de autocarros partiram da Trofa com destino a Lisboa. A cidade ficou quase deserta e as lojas fecharam, ostentando orgulhosamente nas montras um cartaz onde se podia ler a razão do encerramento: “vamos todos buscar o concelho”.
Em Lisboa, onde foram ‘buscar’ o concelho, mais de 10 mil trofenses assistiram em ambiente de grande festa à criação daquele que é o mais novo município português.
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