Nos últimos 18 meses foram apresentadas uma média de 49 queixas diárias de casos de violência contra mais de 800 crianças e jovens. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima acredita que a sociedade está cada vez mais alerta para a protecção dos direitos dos menores e denuncia cada vez mais os crimes contra as crianças.
Os crimes reportados incluem maus tratos físicos e psicológicos, ameaças e coacção, abuso sexual e violação, e referem-se maioritariamente a jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 17 anos.
Uma análise da APAV refe-rente aos anos de 2000 a 2007 revela 7.000 crimes cometidos contra 4.900 vítimas. Também nesse período, 13 crianças foram mortas, 45 foram raptadas ou se-questradas, 152 foram violadas, 63 sofreram abusos sexuais e 20 foram vítimas de tráfico.
Só no ano de 2007, 222 crianças foram vítimas de maus tratos físicos, 294 foram vítimas de maus tratos psicológicos, 10 foram violadas e 36 abusadas se-xualmente. Todos estes casos ocorreram em contexto doméstico.
Mas não é só a APAV a receber este tipo de queixas.
Na Provedoria de Justiça, por exemplo, há uma linha de recados da criança. Desde o início do ano de 2008, esta linha já re-cebeu perto de 350 chamadas.
No mesmo período, mas na Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, foram registados 390 ca-sos de violência.
Por outro lado, ao longo dos últimos 20 anos, o Instituto de Apoio à Criança recebeu milha-res de pedidos de ajuda através da linha SOS Criança. Esta organização revela que, desde 22 de Novembro de 1998, mais de 80 mil crianças em risco foram aju-dadas pelas equipas do Instituto.
Para Manuel Coutinho, psi-cólogo clínico e coordenador do SOS Criança, esta linha de apoio “tornou-se um serviço de primeira necessidade, à disposição das famílias, crianças e jovens”.
O tema “Crianças em Perigo” foi discutido no passado fim-de-semana em Lisboa, tendo sido abordados os maus tratos infantis, as suas formas e os modos de os prevenir.
“Há mais sensibilidade para o assunto”
Na opinião da presidente da APAV, Joana Marques Vidal, a sociedade portuguesa denuncia cada vez mais os crimes contra as crianças, o que, em seu entender, denota maior atenção aos direitos dos menores.
Para Joana Marques Vidal, “não se pode dizer que há mais casos. A leitura que faço é que há mais sensibilidade para o as-sunto, e que as instituições têm hoje maior capacidade de resposta”.
Curiosamente, a denúncia deste tipo de crimes parece ter seguido a mesma evolução da denúncia da violência contra as mulheres.
Agora, alerta a presidente da APAV, há que ter atenção para um novo tipo de perigos: a luta contra os crimes via Internet são um novo desafio para a socieda-de portuguesa, aponta.
Também para Manuel Couti-nho, a sociedade de hoje está mais consciente dos verdadeiros direitos das crianças.
Na sua opinião, o trabalho de-senvolvido durante anos por ins-tituições como o Instituto de Apoio à Criança ajudou a despertar consciências.
Para o psicólogo, os cidadãos adultos têm que estar conscien-tes da necessidade da denúncia. “Ninguém pode permitir que haja uma criança a sofrer e que não se faça nada”, acrescentou.
Deixe um comentário