O ouro de Nelson Évora foi um bálsamo revigorante para Portugal nos Jogos Olímpicos Pequim2008, acalmando os ânimos quando os resultados não surgiam, os atletas faziam declarações polémicas e Vicente de Moura já tinha anunciado que não se recandidatava.
Até Nelson Évora conquistar o título no triplo salto, em 21 de Agosto, Vanessa Fernandes, prata no triatlo, e Gustavo Lima, quarto em Laser, eram praticamente os únicos portugueses com resultados ao nível do esperado na capital chinesa, que hoje encerrou os seus Jogos.
A vela tinha tido um resultado conjunto muito razoável, com mais dois oitavos e dois 11ºs postos, mas o judo saiu de Pequim com um sétimo, três nonos e um 11º lugares, depois de os cinco judocas terem prometido lutar pelas medalhas quando chegaram à capital chinesa.
Até à medalha de Nelson, os portugueses já tinham sofrido dois "choques", com o nono lugar da judoca Telma Monteiro em -52 kg e, principalmente, a eliminação de Naide Gomes — provavelmente a atleta nacional que se apresentava em Pequim em melhor forma — na qualificação do comprimento.
Horas depois de Naide ser eliminada, Vicente Moura anunciou que não se recandidatava à presidência do Comité Olímpico de Portugal (COP), porque os resultados estavam abaixo dos objectivos a que se comprometera com o Governo, e disse que todo o desporto português devia ser repensado.
Vicente Moura, que depois acabaria por admitir recuar se lhe dessem poder para tomar as medidas que considerava necessárias, justificou então a decisão com o argumento de que "a culpa não pode morrer solteira".
Mas o secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, frisou que o contrato fora celebrado com o anterior Governo e garantiu que ele não subscreveria uma cláusula a prever certo número de medalhas ou pontos nos Jogos, porque a sua conquista não depende dos responsáveis desportivos.
O clima não era de festa e, na véspera da final de Nelson Évora, o chefe da Missão pediu aos jornalistas que compreendessem a necessidade de "respeitar" os 19 atletas portugueses que ainda iam competir nos Jogos Olímpicos.
Manuel Boa de Jesus não esclareceu sobre a que se referia, mas minutos antes o adido de imprensa da Missão disse que "erros dos jornalistas" estavam a ter "alguns efeitos dentro da equipa".
No dia seguinte, já em Lisboa, Marco Fortes revelou que fora "elegantemente convidado" por Boa de Jesus a deixar a Aldeia Olímpica, devido às declarações prestadas depois de ser eliminado no lançamento do peso.
"De manhã só é bom é na caminha", foi a frase que fez cair em desgraça o primeiro lançador do peso olímpico português, que foi 38º entre 45 concorrentes e disse ter estranhado o horário matinal da prova, em que fez 18,05 metros e ficou a 2,08 do seu recorde nacional.
As declarações polémicas começaram logo a 10 de Agosto, segundo dia dos Jogos, quando Telma Monteiro, número dois do Mundo e vice-campeã mundial, acusou a arbitragem de a prejudicar no combate com a chinesa Xian Dongmei, que viria a revalidar o título olímpico de -52 kg.
Depois, o cavaleiro Miguel Ralão Duarte justificou a desistência na "dressage" com o facto de "Oxalis" se ter assustado com um ecrã gigante e Vânia Silva, desolada com o 46º lugar no martelo com a "muito baixa" marca de 59,42 metros, duvidou ter perfil para disputar Jogos Olímpicos.
Muito crítica consigo própria, Vânia Silva lamentou: "A única explicação é que, infelizmente, não sou muito dada a este tipo de competições. Em Campeonatos da Europa, Campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos, o melhor que fiz foi 63 metros nos últimos Jogos Olímpicos".
Mais radicais foram o velejador Gustavo Lima e o atleta Edivaldo Monteiro, que chegaram a anunciar a intenção de deixar a alta competição, após serem quarto em Laser e 20º nos 400 metros barreiras, respectivamente.
Apesar de ter alcançado o terceiro melhor resultado português em Pequim2008 e o melhor da vela nacional desde Atlanta1996, Lima, que fora sexto em Sydney2000 e quinto em Atenas2004, terminou a prova em lágrimas e a queixar-se de falta de condições para praticar a modalidade.
Edivaldo Monteiro reafirmou a sua "paixão" pelo atletismo, mas disse que estava a pensar terminar a carreira. "Tenho uma profissão, tenho uma família, tenho coisas tão boas ou melhores do que a alta competição ou participar nos Jogos Olímpicos".
O tom das desculpas para os maus resultados apresentadas por alguns atletas mereceu mesmo críticas violentas do presidente do Comité Olímpico de Portugal e da triatleta Vanessa Fernandes.
Vicente Moura pediu "brio e profissionalismo" aos atletas e afirmou que alguns "não sabem o que são os Jogos Olímpicos". Vanessa Fernandes questionou a atitude de alguns companheiros perante a alta competição e as desculpas apresentadas para o insucesso.
E, se para Naide Gomes foi "um dia mau" que ditou a eliminação no comprimento, onde surgia com a melhor marca mundial do ano, Francis Obikwelu, prata em Atenas2004, chegou ao ponto de pedir desculpas aos portugueses por falhar a final dos 100 metros.
"Eu estou a ganhar dinheiro porque o povo português está a pagar para eu estar aqui e não consegui chegar à final. Este é o meu trabalho e queria pelo menos dar uma final aos portugueses", afirmou.
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