Realizou-se no dia 19, no auditório da Sociedade Central de Cervejas, um simpósio onde foi apresentada aos managers da empresa a tese do Professor Catedrático da Universidade Técnica de Lisboa, Jorge Vasconcelos e Sá, subordinada ao tema «Criar Luxemburgo em Portugal».
Os oradores deste colóquio foram, além do anfitrião Alberto da Ponte, Presidente da Comissão Executiva da Sociedade Central de Cervejas (SCC), Alain de Muyser, Embaixador do Luxemburgo em Portugal, José Coimbra de Matos, empresário e dirigente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL) e Carlos Matias, administrador da empresa luxemburguesa Caves CMC Mathias, que tentaram durante cerca de uma hora encontrar explicações para a fraca produtividade portuguesa.Perante a impossibilidade de última hora de Vasconcelos e Sá estar presente, foi Alberto da Ponte quem apresentou o trabalho do professor, não sem antes dar as boas vindas a todos os presentes, incluindo os cerca de 200 managers da empresa. A tese, que faz a comparação económica entre Luxemburgo e Portugal, revelou dados objectivos muito importantes.
O estudo revelou, por exemplo, que 40 por cento da população activa é emigrante de Portugal comprovando-se, assim, que a economia luxemburguesa está bastante dependente dessas pessoas que optam por deixar o seu país natal em busca, quem sabe, de melhor vida. A presença dos portugueses no Luxemburgo verifica-se, também, na língua, ou seja, o português é, a seguir ao “lëtzebuergesch” (luxemburguês), ao francês e ao alemão, a língua mais falada naquele território da Europa Ocidental.
Entrando propriamente no estudo comparativo, pode-se dizer que a principal diferença entre Luxemburgo e Portugal é a produtividade de cada país, tendo este indicador diferenciador, inclusivamente, aumentado de ano para ano. Neste capitulo, deve-se dizer que o gap entre os dois países colocava-se a 1974 em 73,6 por cento, favorável para o Luxemburgo, e em 2007 em 177,6 por cento. Uma forma que o estudo encontra para exemplificar estes dados relativos à produtividade de ambos os países é concluir que “se os portugueses no Luxemburgo viessem trabalhar para Portugal, começariam a trabalhar às 17 horas de terça-feira e gozariam as férias anuais de 15 de Maio até final do ano”.
Chegado a estes dados, o estudo coloca, então, a questão, de porquê os portugueses no seu país terem uma produção tão reduzida e quando emigram, essa mesma produção aumentar significativamente. As respostas a esta questão ficaram a cargo dos oradores convidados.
O primeiro convidado a tentar encontrar respostas para esta questão foi Alain de Muyser, Embaixador do Luxemburgo em Portugal, que começou, contudo, por se distanciar da imagem de especialista no assunto. Para o diplomata, quando nos referimos a este assunto, “não se deve falar apenas da região do Luxemburgo, mas também dos arredores, pois a influência económica do país estende-se até às nações vizinhas, nomeadamente a Alemanha, França e Bélgica”. Muitas pessoas que vivem perto da fronteira desses países vizinhos trabalham em território luxemburguês, pelo que quando se fala da economia luxemburguesa, deve-se dar importância a este aspecto. Alain de Muyser diferenciou, também, os modelos económicos de ambos os países. Segundo ele, existem grandes diferenças neste aspecto. “O modelo luxemburguês é mais parecido com o dos países vizinhos, enquanto que o modelo português aproveita o mar, o que pode nem sempre ser bom economicamente”. Outra característica que pode explicar este distanciamento é o “sistema tripartido” luxemburguês, que significa que patrões, sindicatos e empregados têm voz nas decisões mais importantes e todos são responsáveis por elas. Também o clima pode ajudar a explicar a diferença de produtividade entre os dois países. O embaixador considera que o facto de o Luxemburgo possuir um clima gelado, ajuda a que a produtividade se mantenha alta e pode explicar a diferença de comportamento do português no seu país e do português emigrante.
Apesar de explicações lógicas, Alain de Muyser, afirmou que não tem uma resposta objectiva que aponte as causas do mau desempenho profissional dos portugueses. Ainda a este respeito afirmou, contudo, que “existem indicadores fortes e esperança de que a produtividade está a aumentar”.
De seguida, tomou a palavra Coimbra de Matos, dirigente da CCPL, que começou por desdramatizar o assunto, dando o exemplo da Autoeuropa como um caso de produtividade em Portugal. “Se existem empresas em Portugal que conseguem ser exemplos de produtividade, o problema não está no país em si”. Há 21 anos no Luxemburgo, este emigrante português tentou encontrar, durante a sua intervenção, explicações objectivas para o problema em discussão. Segundo Coimbra de Matos, a pontualidade é um dos factores que facilita a produção, assim como, a segurança no trabalho. Relativamente a este último espeto, acrescentou, “os contratos são melhores, mas também há maior facilidade no despedimento”.
Outros factores, segundo este emigrante, são a distribuição da riqueza, uma economia mais aberta, um sistema de saúde que aposta na medicina preventiva e a paz social que se vive no país. A paz social traduz-se em 28 anos sem greves, muito por responsabilidade do sistema tripartido instituído no país. Sobre aquilo que falta a Portugal para conseguir acompanhar o ritmo dos seus pares europeus, Coimbra de Matos, apontou a falta de confiança e auto-estima como os factores responsáveis, assim como, a pouca atenção dada à gestão de recursos humanos. A finalizar a sua intervenção, o dirigente da CCPL passou uma mensagem de confiança, afirmando que “podemos transformar este país”.
Por último interveio o administrador da Caves CMC Mathias, Carlos Matias, que falou da sua experiência pessoal como empresário. Possuidor da empresa à 33 anos, este emigrante tem muita experiência a trabalhar com portugueses no Luxemburgo. Na sua empresa trabalham, actualmente, 30 pessoas, todas elas portuguesas. Segundo este empresário, “existe uma grande diferença entre os portugueses que emigraram à 20 anos e aqueles que o fazem agora”, de tal forma que se recusa a empregar estes “novos emigrantes”.
Na sua intervenção Carlos Matias defendeu, também, a gestão de recursos humanos como uma forma de aumentar a produtividade. Segundo ele, tem de haver motivação para produzir. Na sua empresa, os seus empregados “têm de merecer viver melhor”, no sentido em que, se produzirem são premiados, e têm de ser disciplinados. Falando da emigração de portugueses para o Luxemburgo, este empresário português afirmou que este fenómeno de deslocação não tem diminuído ao longo dos tempos. Segundo o Carlos Matias, foram 7 mil os portugueses que chegaram ao Luxemburgo em 2006 e entre 5 e 6 mil aqueles que chegaram em 2007.
Depois das alocuções de todos os oradores, finalizou Alberto da Ponte o colóquio com a ideia de que existem exemplos de produtividade em Portugal, como a Sociedade Central de Cervejas, que devem ser seguidos.
A. B.
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