Os portugueses radicados na Venezuela frequentam "pouco", durante a quadra natalícia, as associações a que pertencem, porque "o Natal é uma festa que se passa em família". Talvez por isso, apenas o Centro Marítimo da Venezuela agendou uma ceia de Natal, para 24 de Dezembro, e uma entrega de brinquedos a crianças, no dia seguinte. Com o tempo a comunidade adoptou como suas as tradições venezuelanas, dois dias após o Natal põem termo à "reclusão familiar" para dar lugar a intenso convívio, prologando a quadra festiva até 2 de Fevereiro do ano seguinte, dia de Nossa Senhora das Candeias.
Tradicionalmente, a quadra natalícia começa a 16 de Dezembro, embora alguns clubes e igrejas façam o presépio semanas antes, os centros comerciais estejam enfeitados desde Outubro e, a partir de meados de Novembro, as casas ganhem adornos alusivos à época, por dentro e por fora.
É nessa altura que os presépios, as árvores de Natal, luzes, laços e bolas de cores variadas, bonecos de neve, flores e anjos, ganham visibilidade e as toalhas com o Pai Natal cobrem harmoniosamente as mesas.
O "barulho" do Natal invade as ruas, com crianças e jovens a fazer explodir artigos pirotécnicos com cores e sons próprios, alguns deles com nomes curiosos como "mata-sogras", "morteiros" e "Bin Laden".
As empresas promovem as "ceias de Natal" para trabalhadores clientes, em que o "bolo negro" o "ponche crema" (bebida alcoólica com ovos), as "hallacas" (massa de milho recheada com carnes e cozida em folhas de plátano), o pão de fiambre e o doce de papaia verde são as iguarias.
Sessenta dias antes do Natal ouvem-se as primeiras "gaitas", um ritmo musical originário do Estado de Zúlia (800 quilómetros a oeste de Caracas). Ao compasso dos "furrucos" (instrumento musical feito com pele de cabra), as gaitas acompanham letras que vão do protesto à crítica política, do amor à religião, do jocoso à denúncia.
Na noite de Natal, a reunião da família é o mais importante. Os que vivem longe viajam ao reencontro dos familiares, num convívio que começa pelas 22:00 horas de 24 de Dezembro e termina quando o cansaço é irresistível.
Como são poucas as lareiras, não se põe o sapatinho com os pedidos ao Pai Natal (ou ao menino Jesus). Espera-se pelas 00:00 horas de 25 de Dezembro para abrir os presentes colocados junto da árvore de Natal "arbolito". Para as crianças é hora de brincar até ficarem cansadas, enquanto os adultos dançam sem parar.
Curiosamente, no dia de Natal tudo é tranquilidade. Nas ruas quase não há carros e a maior parte das pessoas dormem. A 28 de Dezembro celebra-se o "dia dos inocentes" (petas ou mentiras).
Para os venezuelanos o Fim do Ano é mais importante do que o Dia de Natal. Escolhe-se quem dará a festa e todos se reconciliam. É nessa altura que sogros e genros dão o abraço de Feliz Ano.
A meia-noite de 31 de Dezembro é ainda aproveitada para alguns rituais para garantir a "boa sorte". Uns comem doze passas de uva, enquanto o relógio toca as 12 badaladas do relógio, outros preparam uma mala e com ela saem e entram 12 vezes pela porta principal da casa na esperança de terem um ano com muitas viagens.
Há também mulheres que usam calcinhas amarelas e os homens enchem os bolsos de dinheiro para ter prosperidade económica.
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