O maior jazigo particular da Europa – com 200 corpos e restos mortais – e militares sepultados na vertical são algumas ‘curiosidades’ de alguns cemitérios de Lisboa, como o dos Prazeres, ‘museu a céu aberto’ visitado por milhares de turistas.
Os cemitérios, muito visitados no Dia de Todos os Santos – 1 de Novembro -, são também frequentados anualmente por mi-lhares de turistas que gostam de apreciar a estatuária, a simbologia fúnebre, a heráldica dos jazigos e desfrutar da calma e tran-quilidade que encontram naqueles espa-ços. Só este ano, até Outubro, o cemitério dos Prazeres foi visitado por 4920 turistas – mais do dobro dos visitantes de 2006.
Licínio Fidalgo, responsável pela área cultural dos cemitérios, diz que o aumento do número de visitantes se deve à abertura da Capela dos Prazeres: “sendo o cemitério dos Prazeres um local referenciado no roteiro mundial de turismo, é bastante frequentado por turistas, que, percorrendo as alamedas, vão admirando as verdadeiras obras de arte que lá estão construídas”. Mas também estudantes ligados às artes, à história, à sociologia ou à psicologia são assíduos frequentadores daqueles espaços, pois lá encontram respostas ou temas para os seus trabalhos, conta Licínio Fidalgo. Estes espaços contêm histórias de pessoas e famílias que ali estão retratadas e constituem verdadeiras “curiosidades” para quem as conhece.
Um jazigo imponente salta à vista de quem visita os Prazeres. Foi mandado construir em 1849 pelo primeiro Duque de Palmela e é uma das mais singulares construções funerárias portuguesas, sendo também o maior mausoléu particular da Europa, com cerca de 200 corpos e restos mortais pertencentes a uma mesma família. O seu espaço exterior recria a simbólica de um templo maçon e na capela, no interior da construção, várias estátuas de escultores de renome embelezam os túmulos.
Outras curiosidades “povoam” estes espaços, como a história de Aniceto Ro-cha, um militar e professor na Escola do Exército que quis ser sepultado de pé no cemitério dos Prazeres. Projectando o seu próprio jazigo Aniceto Rodrigues introduziu-lhe uma forma engenhosa de aceder ao seu subterrâneo. Através de um orifício num dos lados de um dado falso foi introduzida uma alavanca que o faz rodar, deslocando uma lousa que também serve de tampo ao conjunto arquitectónico. O general Faria Afonso, fundador da Liga Portuguesa dos Combatentes da Grande Guerra, também está sepultado na vertical, mas no cemitério do Alto de São João, simbolizando “Os Generais Morrem de pé”.
No cemitério da Ajuda, o mais antigo de Lisboa, construído em 1776 por determinação da Rainha Dona Maria I e com influência do Intendente Pina Manique, grande defensor dos cemitérios públicos, há uma outra curiosidade. Nesse cemitério existem alguns jazigos cujos projectos são de mulheres, o que não existe em mais nenhum cemitério de Lisboa.
Na capital portuguesa existem 14755 jazigos particulares, espalhados por seis cemitérios, encontrando-se a maioria nos mais antigos da cidade: 7121 nos Prazeres e 6660 no Alto de São João.
Viver ao lado do cemitério
O cemitério do Alto de São João foi durante anos motor de crescimento da zona oriental de Lisboa, mas, agora, comerciantes e moradores falam de um bairro refém e com o desenvolvimento limitado pelo campo sagrado.
A falta de atractivos, a pouca varie-dade de comércio – dominado por pequenos cafés, floristas, agências e lojas de artigos funerários – a inexistência de estruturas de lazer e o preço das habitações são dificuldades apontadas por moradores e comerciantes da zona da Avenida Afonso III e da Parada do Alto de São João, cansados da confusão sistemática entre bairro e cemitério.
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