No livro ” a Cidade e as Serras” Eça de Queirós descrevia a viagem maravilhosa de Jacinto entrando por Barca D´Alva e chegando à estação de Tormes Caldas de Aregos, descrevendo toda a beleza desta linha, talhada entre a serra e o rio. Juntamente com os participantes no 13º Encontro Internacionald e Turismo, percorremos no sentido inverso, de comboio deste a histórica estação de Porto/S. Bento até à Régua e queremos partilhar com os nossos leitores, a linha mais bonita e turística de Portugal…
De comboio, pela linha do Douro, até ao Pocinho, é uma viagem de encanto. Quase sempre junto ao Douro, proporciona-nos momentos inesquecíveis. Mas tem-se falado em acabar com esta linha e deixá-la somente até à Régua que seria verdadeiramente de lamentar. Portugal ficará mais pobre se perder esta “linha mágica”.
Manhã cedo, os 150 congressistas entram no comboio na estação da CP em S.Bento em duas carruagens reservadas exclusivamente, rumo até à Régua. Passado o tunel, chegamos a Campanhã e segue-se pela linha do Minho por Ermesinde-Valongo em dupla linha férrea. O comboio pára em quase todas as estações até Penafiel, onde um guincho – “Quem quer regueifa” – começa a despertar curiosidade. Caíde, um túnel negro, e novamente a paisagem verde, casas dispersas. Aldeias, apeadeiros e estações. Segue o comboio sempre rápido. Vila Meã. Cruza novamente com outro comboio. Vem o revisor, vestido como mandam as regras, com uma lapela da CP no casaco. Pede-nos os bilhetes. Para na Livração. Desta estação partem automotoras para Amarante. O troço Amarante-Arco de Baúlhe já faleceu há muitos anos. No Marco de Canaveses km 51,5 voltam a entrar e a sair passageiros. Tunel de Pála, após a estação e a monotonia dá lugar a um certo encantamento. Agora os olhos, ficam no rio calmo e verde como as montanhas arredondadas que crescem nas suas margens. Aregos – km 69,9 é uma estação bem cuidada, e hoje já com o nome que Eça imortalizou ” Aregos/ Caldas de Aregos/ Tormes” até parecendo que Jacinto e José Fernando vindo de Paris ali desceu do comboio, há pouco tempo vindo de Paris. Belos tempos em que esta linha, percorrida por comboios a vapor, ligava o Porto a Salamanca e a partir daí a toda a Europa. Hoje a linha fica-se pelo Pocinho. Continuando a nossa viagem, Ermida Porto Rei Barqueiros; Rede Caldas de Moledo Godim e Régua – km 94,9 foi a sucessão de estações. Diz-nos o revisor que nos meses de Verão, devido ao turismo, os comboios andam repletos de passageiros e turistas. Já se ouve anunciar os rebuçados da Régua e termina o nosso percurso ferroviário. Passou depressa o tempo e fica para outra oportunidade, continuar sobre carris, a partir da Régua, pelo Pinhão, Tua até ao Pocinho e ver como foi árdua e difícil a tarefa dos nossos antepassados, sem os meios que hoje há, terem construído esta linha ferroviária.
Um século sobre carris
Tempo para lembrar que os primeiros trabalhos de construção do caminho de ferro ao Norte do Douro iniciaram-se com a Linha do Minho, numa cerimónia solene ocorrida a 8 de Julho de 1872. O seu percurso inicial, das proximidades de Campanhã até à localidade de Ermesinde, seria comum ao caminho de ferro do Vale do Douro, numa extensão de nove quilómetros. As obras da Linha do Douro, a Leste de Ermesinde, iniciar-se-iam a 8 de Julho de 1873, através duma região acessível e sem grandes acidentes de terreno até Penafiel. Em 1875, são formalmente abertos à exploração pública os primeiros troços de caminho de ferro ao Norte do Douro (que na época não possuíam ainda qualquer ligação com o Sul do país). Segundo os registos as verdadeiras dificuldades na construção do caminho de ferro do Douro iam agora começar, à medida que se fosse avançando para Leste. Primeiramente, foi necessário vencer as linhas divisórias de água entre o Sousa e o Tâmega, e surgiram os primeiros túneis; depois de transpor o segundo destes rios através dum importante viaduto metálico, a via férrea teria agora que atravessar um terreno difícil, numa sucessão de valeiros e montes, até se encaixar na garganta do Douro, por alturas da Pala. A partir de aqui, o caminho de ferro nunca deixaria, practicamente, de acompanhar o percurso ribeirinho até ao seu destino final, encaminhando-se longitudinalmente ao longo das baixas vertentes dos montes sobranceiros, cujos xistosos paredões foram esventrados pelos operários, à força das picaretas e da dinamite; as pontes e os túneis continuavam a ser necessários, quando, pontualmente, se atravessava um afluente do grande rio ou um monte de grandes dimensões. O importante entreposto comercial que já era, na época, a Régua, passou a ser servido por via férrea a partir de 15 de Julho de 1879, e a importante localidade do Pinhão, em 1 de Junho de 1880. O troço final, até à fronteira, viu a sua construção decretada por lei, de 23 de Julho de 1883, ao mesmo tempo que se reuniam capitais para a construção, em território espanhol, dum troço que encaminhando-se para o Vale do Douro, desse continuidade ao seu caminho de ferro, pondo-o em contacto com os planaltos interiores de Castela, a partir dos quais facilmente se alcançariam Salamanca e Madrid. Ambas as linhas deveriam encontrar-se em Barca d’Alva, nas proximidades da confluência dos rios Águeda e Douro, fazendo-se o atravessamento do primeiro através duma ponte internacional. As dificuldades de construção foram particularmente sentidas na parte terminal da via férrea que entretanto se estava a estabelecer em território espanhol, sob a égide da Compañia del Ferrocarril de Salamanca a la Frontera Portuguesa. Tratava-se duma linha que se bifurcava do caminho de ferro de Salamanca à Beira Alta, no lugar de Boadilla-Fuente de San Esteban; encaminhando-se deste ponto para o Noroeste, percorria extensas planuras até ao povoado de Lumbrales, na estrada de Vitigudino, e aí chegou como ramal temporário, no início de 1887. Finalmente, a 9 de Dezembro, era aberto à exploração o troço Pocinho-Barca d’Alva-Ponte Internacional, ficando assim definitivamente concluído o caminho de ferro do Douro. Nesse dia, realizou-se uma cerimónia solene, na qual o primeiro comboio oficial vindo do território português, se encontrou com outro, oriundo de Espanha, rigorosamente a meio da Ponte Internacional. Um século depois era suspenso, em 1987, o troço Pocinho-Barca d’Alva, depois de Espanha ter deixado de servir Barca D´Alva através de Medina del Campo.
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